Adriana – a pirata do Mar Egeu

O Mar Egeu teve influência na história e mitologia dos gregos, assim como o Mediterrâneo nos romanos: ambos fizeram de “seus” respectivos mares, palco para o desenrolar do que conhecemos hoje como período Clássico da Antiguidade. No Egeu, as cerca de 1420 ilhas guardam ainda hoje, crônicas e lendas de um passado nebuloso, mas que faz parte da cultura popular. Muitas dessas histórias, desprovidas de comprovação, encontram respaldo no imaginário das pessoas e são passadas oralmente, de geração em geração por centenas de anos.

Uma delas diz respeito ao que talvez seja a primeira referência de uma mulher pirata atuando nos mares ocidentais. O palco foi a ilha grega de Skopelos, pertencente atualmente ao arquipélago das Espórades, e também conhecida em um passado remoto como Staphylos e Peparethos. Estrategicamente localizada, Skopelos foi ao longo de sua história, refúgio perfeito que protegia os barcos dos fortes ventos do norte; passagem obrigatória para a rota comercial marítima proveniente do porto de Salônica ao sul e um dos lugares preferidos pelos piratas gregos, que ali encontravam baias e recantos seguros para perpetuarem seus ataques marítimos.

Diz a lenda local, que certo dia em um passado muito remoto, ancorou em uma ilhota – algumas versões falam na Baia de Panormos – ao lado de Skopelos um navio pertencente a pirata de nome Adriana. Enquanto aguardava em seu navio, Adriana enviou seus piratas à Skopelo, para saquear o único e rico povoado local. Mas os habitantes da ilha, os skopelitas, notaram sua presença e conseguiram preparar uma emboscada para os piratas. A incursão dos bandidos foi um fracasso, resultando na morte de quase toda tripulação. Menos um, que conseguiu voltar a tempo de avisar Adriana do ocorrido. Ciente do desastre de sua empreitada, a capitã pirata retirou e enterrou seu tesouro na ilha, afundando o navio no golfo de Skopelos. Em seguida, subiu no promontório da ilha e de lá se atirou para a morte. Escolheu morrer a ser capturada. Os skopelitas, felizes com sua vitória, perpetuaram o acontecimento nomeando a pequena ilha que Adriana ancorou com o nome da capitã pirata.

De fato, é muito difícil estabelecer qualquer origem segura – pautada em evidências – para esta lenda. Conhecendo a pirataria, é pouco crível que uma mulher pirata, praticamente sozinha, tenha arrastado e enterrado um tesouro, decidindo em seguida se suicidar. Convenhamos, uma atitude pouco usual entre piratas. Mais crível seria se ela tentasse fugir da ilha em seu barco, mesmo com a tripulação muito reduzida. E mais aceitável ainda se voltasse depois de recuperada, para se vingar daqueles skopelitas insolentes que lhe passaram a perna! Contudo, o que me chama a tenção nessa lenda é o senso de “orgulho romântico” em sua decisão de suicídio; um sentimento nada característico da Antiguidade e muito mais presente no movimento Romântico Europeu do XVIII. É possível, portanto, que essa peculiaridade da história de Adriana tenha sido inserida posteriormente, como ocorre com o contar e recontar de uma história ao longo das eras, gerando diversas versões. 

Ainda hoje, a riqueza deixada por Adriana é alvo de buscas de caçadores de tesouros, assim como seu navio naufragado. O tesouro de Adriana obviamente cresceu muito com a difusão da lenda, e hoje é comum os habitantes locais afirmarem que, entre as peças enterradas, encontra-se uma porca de ouro maciço, o que convenhamos, atiça em muito a imaginação dos exploradores modernos. Seja como for, a lenda de Adriana é explorada à exaustão pela rede de hotéis e restaurantes da Grécia.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e editor da revista Gilgamesh. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a página: (https://www.revistagilgamesh.com.br)  

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