A guerra das comunicações: da manipulação dos preços à manipulação da mídia. Por Emir Sader

Lula, presidente do Brasil. Foto: Adriano Machado/Reuters

Por Emir Sader

Lula faz um bom governo. A economia voltou a crescer, se chega praticamente ao pleno emprego. A promoção das políticas sociais como prioridade do governo permite a diminuição das desigualdades, a possibilidade de escolha dos empregos disponíveis para pelo menos uma parte da população.

O Brasil registra o menor nível de pobreza e extrema pobreza da série histórica iniciada em 2012. 8,7 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza em apenas um ano. A população com renda per capita abaixo de R$ 665 por mês diminuiu de 67,7 milhões para 59 milhões, a menor quantidade dos últimos 10 anos.

A extrema pobreza também atingiu seu menor nível histórico, caindo para 4,4%. O número de pessoas com renda domiciliar por pessoa abaixo de R$ 209 por mês passou a ser de 9,5 milhões. Esse valor representa uma queda de 5,9% para 4,4%, o menor percentual registrado desde 2012. Antes disso, 12,6 milhões de pessoas viviam nessa condição. Sem um programa como o Bolsa Família, a proporção de pessoas em extrema pobreza seria de 11,2%.

A direita não tem o que mostrar como herança – a imagem do governo Bolsonaro é cada vez pior, se é possível ser pior. Nem a própria mídia – o eixo fundamental da oposição – consegue ficar distante da degradação da imagem de Bolsonaro.

No entanto, as pesquisas – com toda sua relatividade – apresentam, desde o começo do governo, um apoio relativamente pequeno a Lula, dadas as realizações objetivas do governo – e, o mais surpreendente, índices de apoio relativamente altos para a oposição e para o próprio Bolsonaro.

Claro que as pesquisas dependem de quem as faz. Em primeiro lugar, pela decisão sobre o tema da pesquisa. Esta última não se fez sobre a reação do Brasil às medidas de Trump, que teria tido um grande apoio do governo, até mesmo entre os grandes empresários.

Mas, para tentar quebrar esse clima muito favorável ao Lula, foi feita sobre o apoio que ele teria. Depende sempre da forma como se coloca a questão, depende da amostragem – de quem é escolhido para ser entrevistado, de quantos, de que regiões, de que gênero, de que idade. Tudo isso condiciona a cada pesquisa. Além disso, está o uso político que se faz delas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Adriano Machado/ReutersComo explicar esses resultados paradoxais de pesquisas? O que era um problema real até aqui se torna um problema muito grave, quando a Folha de São Paulo atribui ao Lula o apoio de apenas 24%. Conhecemos de sobejo o que significa a Folha de São Paulo. E ao que ela chegou, durante a ditadura, de que o empréstimo de seus carros para os órgãos repressivos da ditadura militar, foi uma das tantas ações de conivência com a ditadura. Só isso – nunca desmentido pela ‘Falha’ – bastaria para desqualificar qualquer tipo de credibilidade daquela que é um verdadeiro partido da direita brasileira.

Para se dar esta conjuntura – a mais grave para o governo Lula – se combinam dois tipos de manipulação: a manipulação dos preços dos alimentos de consumo popular, por um lado. As carnes não custam menos de R$ 50 nos supermercados. A picanha, que o Lula gostava de mencionar, que estava entre R$ 50 e R$ 60, está por mais de R$ 8. O leite foi de R$ 5 para R$ 7.

Além da subida real dos preços, há a manipulação dos grandes especuladores, que ganham economicamente com os preços elevados e politicamente com o desgaste do governo.

A combinação desses dois tipos de manipulação leva ao resultado desta última pesquisa da ‘Falha’ de São Paulo. Um resultado absurdo, se se considera não apenas as melhorias reais do país no governo Lula, como seu prestígio e o apoio que ele tem de amplos setores da população.

Mas a pesquisa é uma manobra política, para quebrar o clima favorável ao Lula que existia no país, refletido, por exemplo, no fato de que ele derrota a todos os outros eventuais candidatos. A mídia expressou, da sua maneira: apesar dos seus tropeços, Lula derrota todos os outros. Tropeços criados por ela, depois tornados uma realidade de fato pela própria mídia que os inventou.

A mídia, eixo fundamental da oposição ao governo, tem consciência do que afirmamos em artigo anterior: as alternativas no Brasil são Lula ou extrema direita. Esta só poderia retornar ao governo se conseguisse destruir a imagem positiva do Lula. Disso se trata nessa pesquisa e das manipulações, tanto da inflação dos produtos básicos de consumo popular, como das pesquisas. Por isso é uma operação de curta duração, que só consegue resultados ocasionais, sem alterar os destinos que o povo brasileiro escolhe para si.

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