Colégio Cardinalício: o que as escolhas do Papa significam para sua sucessão; veja os nomes

Papa Francisco

Entre os 21 cardeais recém-nomeados pelo Papa Francisco em 6 de outubro de 2024, o mais jovem tem 44 anos e o mais velho, 99.

O consistório surpresa, ocorido em 8 de dezembro, seguiu o modelo dos nove anteriores durante os quase 12 anos de pontificado de Francisco, privilegiando nomeações vindas das periferias em vez das grandes capitais mundiais.

A decisão do papa consolidou sua influência sobre o Colégio dos Cardeais, responsável por eleger o futuro pontífice. Agora, a maioria dos eleitores será composta por clérigos escolhidos por ele.

A nomeação dos novos cardeais ocorre em um momento delicado para Francisco. O pontífice foi internado em um hospital de Roma com pneumonia dupla.

Quem são os novos cardeais e o que isso significa para o próximo papa?

Dos 21 novos cardeais, 20 têm menos de 80 anos e, portanto, poderão votar em um conclave papal.

O mais velho da lista, Dom Angelo Acerbi, de 99 anos, serviu na diplomacia vaticana por mais de meio século. Durante sua carreira, foi refém de guerrilheiros na Colômbia, ajudou a negociar relações entre Igreja e Estado na Espanha e participou da reconstrução da hierarquia católica na Hungria após o colapso do comunismo.

Embora não possa votar em um conclave — e talvez nem esteja vivo para testemunhá-lo —, sua nomeação representa um reconhecimento simbólico de Francisco por uma vida dedicada ao serviço.

Na outra ponta, o mais jovem é Dom Mykola Bychok, bispo redentorista e prelado da Eparquia de São Pedro e São Paulo em Melbourne, Austrália. Ele é o primeiro católico grego ucraniano a receber o título de cardeal, em uma escolha que ignorou seu primaz, Dom Sviatoslav Shevchuk, de Kiev-Galícia, que anteriormente criticou declarações do papa sobre a guerra na Ucrânia.

Além disso, a elevação de Bychok faz dele o primeiro cardeal da Austrália após a morte do cardeal George Pell em janeiro de 2023. A decisão também chama atenção por ter ignorado as tradicionais sedes de Sydney e Melbourne, cujos atuais arcebispos estão mais alinhados ao legado de Pell e nunca foram cotados para a nomeação.

Mais surpreendente ainda foi a exclusão do arcebispo salesiano Dom Timothy Costelloe, presidente da Conferência dos Bispos Católicos Australianos, que tem sido uma figura ativa no sínodo sobre sinodalidade.

Enquanto isso, sés importantes como Los Angeles, Milão e Paris continuam sem cardeais. Em contrapartida, entre os novos membros do Colégio Cardinalício estão Dom Ladislav Nemet, arcebispo sérvio e vice-presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa; Dom Roberto Repole, teólogo italiano de 57 anos e arcebispo de Turim; e um nome inusitado: o padre George Jacob Koovakad, responsável pelas viagens internacionais do papa.

Koovakad, que integra o serviço diplomático vaticano desde 2006, dificilmente permanecerá em seu cargo após sua elevação a cardeal. Aos 51 anos e natural de Kerala, na Índia, ele já é considerado um potencial sucessor do cardeal Oswald Gracias, arcebispo de Bombaim e conselheiro próximo de Francisco, que completará 80 anos em dezembro e perderá o direito de votar em um conclave.

Escolhas inéditas entre as ordens religiosas

O Papa Francisco, primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro, tem historicamente favorecido religiosos em suas nomeações. Desta vez, ele bate um recorde ao elevar 11 clérigos de ordens religiosas ao Colégio Cardinalício.

Entre os novos cardeais, há três franciscanos: Dom Luis Gerardo Cabrera Herrera, arcebispo de Guayaquil, Equador; Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, Brasil; e Dom Paskalis Bruno Syukur, bispo de Bogor, Indonésia. Também há um franciscano conventual, Dom Dominique Joseph Mathieu, arcebispo da capital iraniana, cuja experiência anterior no Líbano reforça o interesse do papa na estabilidade da região.

Os dois cardeais Missionários do Verbo Divino serão Dom Tarcisio Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio e presidente da Caritas Internationalis, e Dom Ladislav Nemet, da Sérvia.

Outro nome de destaque é o padre escalabriano Fabio Baggio, chefe da divisão de migrantes e refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. Sua nomeação segue o padrão do cardeal jesuíta Michael Czerny, que anteriormente ocupava o mesmo cargo antes de ser elevado ao cardinalato e promovido dentro da Cúria Romana. Há especulações de que Baggio poderá trilhar o mesmo caminho e substituir Czerny, que completará 80 anos em dois anos.

A lista de religiosos promovidos também inclui Dom Mykola Bychok, redentorista ucraniano; Dom Vicente Bokalic Iglic, vicentino da diocese de Santiago del Estero, Argentina; e dois dominicanos — Dom Jean-Paul Vesco, arcebispo de Argel, Argélia, e o padre Timothy Radcliffe.

A nomeação de Radcliffe é especialmente simbólica. O teólogo britânico, ex-Mestre da Ordem Dominicana, foi preterido para cargos eclesiásticos sob os papas João Paulo II e Bento XVI. No entanto, Francisco o encarregou de orientar espiritualmente o Sínodo sobre a Sinodalidade, um de seus principais projetos. Aos 79 anos, Radcliffe terá menos de um ano para votar em um conclave, mas ainda poderá participar das Congregações Gerais, as reuniões prévias à eleição de um novo papa. Sua nomeação garante que ele esteja presente nas discussões sobre o futuro da Igreja.

O impacto da nova composição do Colégio Cardinalício

Com o consistório de 8 de dezembro, Francisco terá nomeado 80% dos cardeais eleitores, aumentando sua influência em 7% desde o último consistório, realizado em 2023. Entre os 140 cardeais eleitores, 112 terão sido escolhidos por ele, 23 por Bento XVI e cinco por João Paulo II.

Esse número supera o limite de 120 eleitores estabelecido por Paulo VI em 1975, mas deve cair abaixo desse patamar apenas após julho de 2026. Tanto João Paulo II quanto Bento XVI também excederam esse limite em seus pontificados, com João Paulo II chegando a 135 cardeais eleitores em 2001.

Uma análise do Pew Research Center aponta que, desde a eleição de Francisco em 2013, a representação europeia no Colégio Cardinalício tem diminuído, enquanto a presença de cardeais da África, Ásia-Pacífico e América Latina continua a crescer — tendência reforçada com esta nova leva de nomeações.

Quando os novos cardeais se reuniram na Basílica de São Pedro em dezembro para receber seus barretes e anéis, Dom Angelo Acerbi, o mais velho da lista, discursou em nome do grupo, seguindo a tradição.

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