Sakamoto: Marçal segue os passos de Bolsonaro e está fora das eleições de 2026

Pablo Marçal e Jair Bolsonaro: ex-coach tornou-se inelegível por oito anos, assim como o ex-presidente. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Pablo Marçal queria seguir os passos de Jair Bolsonaro. E, nesta sexta (21), conseguiu, quando a Justiça Eleitoral o tornou inelegível por oito anos por abuso de poder político, econômico e dos meios de comunicação.

Cabe recurso à decisão e a palavra final será do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas as chances de ele estar impedido de disputar as próximas eleições são expressivas. Nem tanto por esta ação, mas por aquela que trata do laudo médico falso que dizia que seu adversário Guilherme Boulos havia sido internado pelo uso de cocaína. Ele divulgou a mentira para manipular o eleitorado a menos de dois dias antes do primeiro turno da eleição municipal de São Paulo.

Enquanto questiona esta decisão e aguarda a outra, Marçal fará companhia para o ex-presidente da República, condenado pelo TSE tanto por usar a estrutura do Estado para atacar as urnas quanto por se apropriar das celebrações do Bicentenário da Independência para uma micareta eleitoral.

O juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, analisou ações ajuizadas pela coligação do PSOL de Guilherme Boulos e do PSB de Tabata Amaral. Marçal foi condenado por anunciar que enviaria vídeos de apoio a candidatos a vereador em troca de doações de R$ 5 mil. A defesa diz que o dinheiro foi devolvido, mas a Justiça afirmou que isso aconteceu apenas após o primeiro turno.

Esse não é o único caso pelo qual Marçal pode ficar inelegível em 2026, nem o que causou mais polêmica.

Menos de dois dias antes do primeiro turno, ele tentou manipular a eleição divulgando um laudo falso, com assinatura forjada de um médico, vinculando Boulos ao uso de cocaína. Não foi um caso isolado, pois ele havia espalhado durante a campanha a mentira de que o deputado era dependente químico.

Pablo Marçal chama debate de 'baixaria' e defende tom contra Boulos: 'Cada um tem o seu'
Guilherme Boulos e Pablo Marçal, candidatos à Prefeitura de SP, durante debate promovido por Terra, Estadão e FAAP no ano passado. Foto: Reprodução

Ele foi excluído pelas urnas, ficando em terceiro lugar, menos de um ponto atrás de Boulos, que disputou com o prefeito Ricardo Nunes o segundo turno. Ironicamente, o laudo falso pegou mal e pode ter contribuído com a própria derrota. Se não tivesse divulgado a fake grotesca na sua rede, é provável que teria terminado à frente do deputado federal e não 56.853 votos atrás.

Marçal espancou diariamente a democracia enquanto foi candidato. Acusou Tabata Amaral de ser responsável pelo suicídio do próprio pai, Guilherme Boulos de ser usuário de drogas proibidas, José Luís Datena de ser um estuprador e prometeu prender Ricardo Nunes. Além disso, baseou sua campanha num ecossistema ilegal que remunerava quem produzisse material irregular de campanha que o beneficiava.

Quando a Justiça Eleitoral agia para evitar que continuasse atacando a lisura das eleições, ele dava de ombros, encontrava um subterfúgio e atropelava a decisão. A não punição de Pablo Marçal, portanto, significará uma luz verde para que os candidatos nas próximas eleições adotem o mesmo ecossistema.

O mínimo que se espera do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e do Tribunal Superior Eleitoral é a cassação e a inelegibilidade, conforme já preveem a lei e a jurisprudência.

Importante ressaltar que nomes do bolsonarismo-raiz se juntaram a Pablo Marçal, como os dos deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Carla Zambelli (PL-SP) e Ricardo Salles (Novo-SP), na eleição. Eles fizeram um movimento à revelia de seus partidos para estarem junto com aquele que promete renovar a extrema direita.

O tamanho de sua votação (28%) mostra que é grande o desafio para fortalecer as instituições e consolidar a democracia no Brasil. Quase um terço dos eleitores da maior cidade do país chancela uma pessoa que agiu de forma violenta e ilegal. Parte deles porque acha que pode ganhar dinheiro com isso, parte porque caiu no lero-lero de coach de vida, parte porque acha engraçado, parte porque quer que tudo vá para o espaço.

Jair Bolsonaro evitou entrar de cabeça na eleição de Nunes, que seu partido apoiava, com medo que seus seguidores mais radicais, que apoiaram o coach, lhes dessem as costas. Quando Marçal perdeu, ele saiu da toca e deu um suporte meia-boca a Nunes. O prefeito reeleito, por sua vez, mostrou-se grato não a ele, mas a Tarcísio de Freitas.

O governador pode ser candidato à reeleição ou à Presidência, em 2026, pois não está inelegível como Jair e, agora, como Pablo. A direita vai perdendo candidatos pelos seus próprios pecados.

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