Nazista e pedófilo: quem é o militar preso por ataque a morador de rua

O militar Miguel Felipe dos Santos Guimarães da Silva. Foto: reprodução

O militar Miguel Felipe dos Santos Guimarães da Silva, soldado do Exército Brasileiro de 20 anos, foi preso na sexta-feira (21) sob a acusação de planejar e filmar um ataque contra um homem em situação de rua na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O crime, ocorrido na noite da última quarta-feira (19) no bairro do Pechincha, em Jacarepaguá, envolveu um adolescente de 17 anos que lançou coquetéis molotov na vítima, Ludierley Satyro José, de 46 anos, enquanto Miguel registrava a ação. A vítima sofreu queimaduras em 60% do corpo e está internada em estado estável no Hospital Municipal Lourenço Jorge.

As investigações revelaram que o ataque foi motivado por um desafio proposto em uma comunidade na plataforma Discord. Tanto Miguel quanto o adolescente teriam recebido cerca de R$ 2 mil para cometer o crime, dos quais R$ 250 já haviam sido repassados. Durante a transmissão ao vivo do ataque, mais de 100 pessoas assistiram às cenas. A polícia agora busca identificar quem teria feito os pagamentos.

A prisão de Miguel ocorreu na saída da Ponte Rio-Niterói, quando ele foi abordado por agentes da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav). No celular do militar, foram encontrados conteúdos de abuso sexual infantil e materiais relacionados a apologia ao nazismo.

Ele responderá por tentativa de homicídio triplamente qualificada, associação criminosa, apologia ao nazismo, corrupção de menores e armazenamento de material pornográfico infantil.

O adolescente, que ateou fogo na vítima, foi apreendido e encaminhado ao Ministério Público, onde permanecerá detido por tempo indeterminado. Segundo o delegado titular da Dcav, Cristiano Maia, o militar afirmou friamente “sentir prazer em ficar na frente do computador consumindo conteúdo de violência e pornografia infantil”.

“Psicopatia” nas redes sociais

Em entrevista ao jornal O Globo, o psiquiatra Ricardo Patitucci, especialista em comportamento infanto-adolescente, destacou a normalização da violência nas redes sociais e os riscos de transtornos de personalidade, como a psicopatia, em indivíduos que cometem esses atos.

“As redes sociais criam um espaço onde a violência é muitas vezes trivializada, e essa exposição contínua pode levar à naturalização de comportamentos perigosos”, explicou.

O inspetor da Polícia Civil e psicólogo Carlos Olyntho ressaltou que o comportamento do adolescente pode estar associado à busca por autoafirmação nas redes sociais. “Esse comportamento pode ser impulsionado pela necessidade de ser admirado e reconhecido, especialmente em um ambiente onde a aprovação dos outros, como número de seguidores e curtidas, se tornou uma forma de validação”, afirmou.

O caso também revive a pauta sobre a responsabilidade das plataformas digitais na prevenção de crimes e na proteção dos usuários, especialmente os mais jovens. O Discord, plataforma usada para a transmissão do crime, não possui mecanismos suficientes para impedir a disseminação de conteúdos prejudiciais.

“Embora as plataformas como o Discord ofereçam uma comunicação livre e sem restrições, é essencial que se crie uma rede de apoio e segurança para evitar que conteúdos violentos e ilegais se espalhem, prejudicando principalmente os menores de idade”, defendeu Patitucci.

O presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Sydney Limeira Sanches, criticou a monetização de conteúdos apelativos por grandes conglomerados tecnológicos. “O interesse econômico desses grandes conglomerados da tecnologia faz com que alimentem a monetização dos conteúdos apelativos, que lamentavelmente privilegiam a intolerância, o desvirtuamento social, o discurso de ódio e o desprezo à dignidade da pessoa humana”, lamentou.

Segundo a polícia, o adolescente que acompanhava o militar morava com a avó, era órfão da mãe e levava uma vida aparentemente normal. “Ele não tinha uma instabilidade familiar que justificasse isso. Ele perdeu a mãe com cinco meses de idade. Frequentava a escola, mas não sei se estudava em um colégio público ou particular. Ele tinha uma vida aparentemente normal”, afirmou o delegado.

O militar e o adolescente participavam de grupos virtuais com conteúdos de crimes de ódio e neonazistas. A avó do adolescente foi quem procurou a 41ª DP (Tanque) e se dispôs a ajudar a localizar o neto. Ele foi apreendido na casa dela, em Jacarepaguá.

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