Sob auditoria do TCU, Previ nega rombo em Plano 1 e defende Vale no portfólio

O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3) está no meio de um escrutínio. Auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) estiveram, recentemente, na Previ para entender as decisões que fizeram o Plano 1 sofrer um baque de R$ 14 bilhões entre janeiro e novembro de  2024. “Rombo” é uma palavra que tem sido evitada a todo custo. A entidade de previdência privada explica ter havido um “consumo do superávit” obtido no ano anterior e o saldo, ainda assim, permanece positivo em R$ 528 milhões. Esse também foi o argumento apresentado na auditoria do TCU. 

“Demos acesso amplo e irrestrito para que eles [os auditores] pudessem fazer o levantamento das informações necessárias e sair daqui com tudo para emitir um parecer que, acredito, será favorável à nossa gestão”, disse Cláudio Gonçalves, diretor de investimentos da Previ, em entrevista ao InfoMoney

A auditoria é um pedido de Walton Alencar, ministro do TCU, em caráter de urgência, e também visa apurar a indicação de João Fukunaga, pelo Banco do Brasil, ao comando da Previ em 2023. Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Previ disse que a investigação é um movimento político para atacar sua gestão. 

Gonçalves, que também assumiu seu cargo em 2023, diz que a governança da Previ é “blindada” e que a gestão de fundos de pensão é feita pelos “melhores profissionais de investimentos já formados pelo Banco do Brasil”.

“As decisões são todas colegiadas, passam por uma análise técnica extremamente rigorosa. É um due diligence [diligência] que você vai ver em poucas casas no Brasil”, disse o diretor.

Claudio Gonçalves, diretor de investimentos da Previ (Foto: Divulgação)

Nem lucro, nem prejuízo

Ele explica que, em fundos de pensão, não existe lucro nem prejuízo. Há déficit ou superávit se o resultado de um período fica, respectivamente, abaixo ou acima da chamada reserva matemática – o dinheiro que é necessário ter em caixa para pagar aos beneficiários ao longo dos anos. 

A Previ aponta que, em 2023, o resultado ficou superavitário em R$ 14,5 bilhões. Em 2024, porém, o superávit caiu para os R$ 528 milhões citados anteriormente. O número fechado do ano passado vai ser divulgado no próximo dia 13 de março. E ainda que o ano feche em déficit, o diretor de investimentos explica que um plano de contingência só seria acionado se a conta ficasse negativa em R$ 19 bilhões.  

Segundo ele, o diretor de investimentos, “há zero chance de equacionamento”, ou seja, de demandar mais contribuições para reequilibrar o plano. 

“O Plano 1 continua em equilíbrio. A reserva matemática está em cerca de R$ 212 bilhões e é suficiente para pagar benefícios até o seu encerramento em 2100”, explica.

Alta concentração de VALE3

A justificativa para o derretimento do superávit do Plano 1 em 2024 está na depreciação inesperada dos ativos em carteira, sobretudo na renda variável, que respondeu até novembro do ano passado a cerca de 28% do portfólio – menos que os 32,5% de 2023. O diretor de investimentos lembra que nenhuma das previsões macroeconômicas feitas pelo mercado no início do ano passado se concretizou. 

“O boletim Focus errou tudo, taxa de juros, crescimento de PIB, câmbio. Nós vivemos um ano muito atípico. […] Houve poucos vencedores no mercado de renda variável em 2024”, diz Gonçalves.

Leia mais: ‘Déficit é conjuntural’, diz vice-presidente de Gestão Financeira e RI do BB sobre Previ

A Previ é um acionista relevante da Vale (VALE3), sendo dona de uma fatia de 10% da empresa. No ano passado, porém, as ações da companhia despencaram 23%, tendo o seu menor retorno anual desde 2015. A Previ perdeu mais de R$ 5 bilhões com os papéis entre janeiro e novembro de 2024. A mineradora responde por 40% do portfólio de renda variável do Plano 1. 

“Quarenta por cento do portfólio de renda variável concentrado em uma só empresa é impensável em uma gestão por asset allocation. O Plano 1 jamais foi assim e nunca vai ser. […] No passado, houve um movimento grande de entrada em ativos de renda variável, sem qualquer relação com a teoria moderna de portfólio. E a gente vem carregando isso, por bem ou por mal, durante décadas”, afirma o executivo. 

Gonçalves explica que a concentração em Vale tem sido reduzida ao longo dos anos, mas a estratégia de saída precisa conversar com o preço. A Previ entende que a ação está subvalorizada, com casas enxergando potencial de valorização de mais de 70%.

“Não dá para vender Vale no preço que está hoje, levando em conta o que ela paga de dividendos. É uma empresa extremamente saudável financeiramente e entendemos que em algum momento o ativo vai se valorizar, pois é uma companhia muito bem gerida”, afirma Gonçalves. 

Migração para renda fixa

A Previ afirma não ter necessidade de vender ativos depreciados e deve reduzir sua posição em Vale quando os preços se valorizarem. No ano passado, a entidade zerou posições em mais de 50 empresas no portfólio para poder investir em renda fixa, sobretudo em NTN-B (títulos do Tesouro atrelados à inflação). 

Em 2024, a Previ colocou mais de R$ 12 bilhões nesses títulos que estão pagando acima de 7% acima do juro real.  É o principal ativo utilizado para equilibrar ativos e passivos do portfólio, uma estratégia conhecida como imunização, que também mitiga riscos decorrentes da volatilidade dos mercados. 

A volatilidade desses papéis, que desvalorizaram ao longo do ano passado, foi responsável por uma pequena porção do resultado negativo do Plano 1, com a carteira de renda fixa rendendo abaixo do CDI. Gonçalves, no entanto, lembra que a Previ sempre leva os títulos públicos até o vencimento, o que garante a remuneração prometida na contratação.

O aumento de exposição em NTN-B também faz parte da política de investimentos do ciclo 2025-2031 da Previ, no qual a fundação deve seguir migrando da renda variável para a fixa, mas incluindo empresas consideradas boas pagadoras de dividendos na estratégia.

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