“O Que é o Peabiru?”, por Isaque de Borba Corrêa

(Fotos Isaque de Borba Corrêa e Instituto Dákila)

O historiador e escritor Isaque de Borba Corrêa, de Balneário Camboriú, foi ‘desafiado’ pelo Instituto Dákila, de São Paulo, a mapear uma antiga rede de caminhos que conectava importantes cidades e impérios, chamada Peabiru.

Na semana passada, Isaque retornou de uma expedição à Chapada de Guimarães, patrocinada pelo Instituto Dakila. O Instituto quer provar que o Caminho Peabiru, que os Jesuítas chamavam de Caminho de São Tomé, leva à cidade perdida de Ratanabá, na Amazônia. 

“Com ajuda da nativa Fátima Vieira encontramos esta trilha inédita para o Instituto”, comemora o historiador.

Ele conta que a próxima expedição será visitar Ratanabá encontrada pelo Instituto, através do sistema Lidar. 

“É uma coisa fabulosa escondida na selva amazônica. Procure conhecer sobre Ratanabá, a maior descoberta da humanidade”, disse Isaque.

Nesta reportagem, Isaque descreve o trabalho que vem realizando com grande expectativa de encontrar ‘velhos novos horizontes’.

Acompanhe:

“O Peabiru era uma antiga rede de caminhos que conectava importantes cidades e impérios. A existência dessa rede veio à tona através dos jesuítas, que, em cartas aos reitores da Companhia de Jesus, descreveram estradas tão grandiosas e bem construídas quanto as romanas. Meu livro, “São Tomé – A Saga do Apóstolo nas Américas”, foi escrito com base nessas correspondências.

Os jesuítas, ao questionarem os indígenas sobre a origem dessas estradas, ouviram relatos de um deus-homem barbado, vestido com um camisolão, vindo do mar e carregando uma cruz. 

Este ser falava de um deus invisível, fazia milagres e era conhecido por nomes como Tumé, Sumé, Zumé ou Tsumé, dependendo da etnia. 

Os jesuítas, impressionados com as histórias, sugeriram que poderia ser o apóstolo Tomé, pregando para os povos nativos e transmitindo conhecimentos bíblicos já conhecidos por eles.

Fui desafiado pelo Instituto Dákila de São Paulo a mapear esses caminhos em nosso continente. 

O instituto possui tecnologia de ponta para essa finalidade: aviões, helicópteros, drones, scanners com tecnologia LIDAR, G.P.R., contadores Geiger, além de câmeras térmicas e infravermelho. 

Nosso trabalho consiste em utilizar essa tecnologia para identificar remanescentes dos caminhos e, em seguida, realizar expedições terrestres para confirmar as descobertas. Esses remanescentes permanecem ocultos nos mapas, pois a nossa civilização, ao construir as primeiras estradas e rodovias, aproveitou os traçados ancestrais. 

O serviço pode ser inverso também. Pessoas descobrem anomalias em terrenos e nos informam. Daí vai a equipe com o scaner LIDAR conferir. O LIDAR pode localizar uma anomalia até 100 m de profundidade.

Em meus estudos, recorro frequentemente a relatórios de engenheiros dos arquivos públicos das principais capitais dos estados onde fomos pesquisar. As primeiras estradas, e posteriormente as BRs, foram retificadas, deixando remanescentes nas curvas. 

Por exemplo, em Santa Catarina, a BR 101 corta de Itajaí a Itapema em linha reta, enquanto a antiga Estrada do Estado passava por dentro de Itajaí, Camboriú e Itapema. 

No Morro do Boi, ainda existem vestígios desse antigo caminho, e o mesmo se verifica até Florianópolis.

O Instituto Dákila, com seus recursos tecnológicos, explorou o cerrado brasileiro e a Amazônia, descobrindo a lendária cidade dourada perdida, Ratanabá. 

Esta cidade, há muito procurada por aventureiros e ONGs, permaneceu escondida sob camadas de até 200 a 300 metros de profundidade. 

A primeira menção a essa cidade foi feita pelo jesuíta espanhol Bartolomé de las Casas, a quem cito no livro São Tomé. A busca por essa cidade perdida resultou na morte de muitos exploradores, com o famoso aventureiro inglês Dr Fawcet.

Minha missão é mapear o Brasil e demonstrar que todos esses caminhos convergiam para Ratanabá. 

O Instituto em breve divulgará essa descoberta ao mundo. 

Já mapeei o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além de partes do Peru, Bolívia e Paraguai, utilizando mapas antigos e pesquisas in loco. 

Surpreendentemente, o Peabiru não era apenas um caminho para o Peru, mas principalmente para Ratanabá. 

Nas fotos, é possível identificar pelo menos três tipos inéditos de estradas que levam a Ratanabá. 

Todas as BRs que começam com o número 1 (101, 116, 147) e com o número 2 (280, 247) usaram essa antiga rede de estradas em direção ao norte do Brasil. 

Elas foram inicialmente utilizadas pelos jesuítas nas catequeses, ficando conhecidas como o Caminho dos Jesuítas; também pelos Bandeirantes (Caminho das Bandeiras) e pelos tropeiros (Caminho dos Tropeiros). 

Até mesmo em Balneário Camboriú ainda existem vários remanescentes”.

Como se formaram as primeiras estradas do país

 O historiador Isaque, de Balneário Camboriú

“Estou empenhado em mapear os caminhos ancestrais do Brasil. Começo minha pesquisa buscando mapas antigos que revelam os traçados dos antigos caminhos. 

Anoto as cidades ou rios que mantem ainda os mesmos nomes e ponho o ‘pino’ no google Earth. Muitos desses caminhos evoluíram para estradas modernas ao longo do tempo. 

Em Santa Catarina, por exemplo, um antigo caminho que percorria o litoral de norte a sul, foi levemente reformado e transformado na estrada nacional durante o governo de Feliciano Nunes Pires (1831-1835). 

Os relatórios da época indicam claramente que ele e seus engenheiros utilizaram um “antigo caminho dos índios” para a construção da estrada que ligava Laguna a São Francisco, depois, denominada de Estrada Nacional. 

Nas primeiras três ou quatro décadas do século XX, a estrada começou a ser melhorada e ampliada, raramente retificada.  Nos anos 70, a construção da BR-101 retificou em larga escala, deixando inúmeros trechos remanescentes da antiga estrada que serpenteava a costa catarinense. 

Inspirado pela experiência deste conhecimento, decidi explorar remanescentes de uma das estradas mais antigas do Brasil, que ia do Rio de Janeiro até Vila Rica, hoje Ouro Preto. 

Ao combinar mapas antigos dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, concluí que essa estrada era, na verdade, um caminho ainda mais antigo, que se estendia até Vila Bela, a primeira capital de Mato Grosso, e seguia até o norte, alcançando o Amazonas, a Bolívia e o Peru. 

Utilizando nomes de rios e naquelas cidades que mantiveram seus nomes originais (muitas cidades mudaram de nome ao longo dos anos). 

Coloquei “pinos” no Google Earth sobre elas. Pedi para o Google traçar a rota do Rio de Janeiro até Vila Bela, e não deu outra: a rota seguiu meus pinos. Esse achado sugeria claramente que a estrada atual seguia o mesmo traçado ancestral. 

Com as coordenadas em mãos, e ajuda do Instituto Dakila, visitei esses locais para buscar evidências de antigas retificações. 

Na Chapada dos Guimarães, encontramos as provas e são contundentes: dois trechos pavimentados, idênticos aos descritos pelos jesuítas como “estradas iguais às romanas que conhecemos na Europa”. Foram eles, os jesuítas, que relataram sobre esses antigos caminhos, utilizados também por bandeirantes e tropeiros, as primeiras estradas de rodagem do nosso país. O Peabiru  (#peabiru)não é só em Santa Catarina.

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