Thiago Lacerda sobre artistas bolsonaristas: “Tenho vergonha de falar o nome dessa gente”

Thiago Lacerda em entrevista ao DCMTV

O ator Thiago Lacerda falou ao canal DCMTV sobre o momento político e artístico do Brasil. Em cartaz com a peça “A Peste”, baseada na obra do filósofo existencialista Albert Camus, Lacerda buscou na filosofia uma explicação para o fato de artistas apoiarem o bolsonarismo: “Olha, é muito doido, não sei se dá para falar só de artistas. Acho que dá para falar de seres humanos mesmo, porque, afinal de contas, o que essa gente representa é a antítese do humano e do razoável”.

“O que leva um indivíduo a ouvir o absurdo que essa gente profere – inclusive, às vezes, usando o nome de Deus – com essa cara de pau, essa desfaçatez, essa falta de vergonha profunda e patológica de usar o nome de Deus para falar os maiores absurdos que contradizem as próprias escrituras?”, argumenta Lacerda ao conectar o bolsonarismo com a falsificação teológica neopentecostal.

“Ou eles não entenderam nada, e isso já desqualifica essa gente, ou eles manipulam os símbolos e significados das coisas em benefício próprio e individual. Então, o que leva um indivíduo a essa seita de ignorância e estupidez? É a aridez intelectual?”.

O ator entende que essa aberração vem da “desinformação e da precariedade humana, as nossas dificuldades enquanto sociedade. É claro que uma parte das pessoas que vivem de pé por aí são iguais a essa gente, mas é uma minoria, diante da quantidade de votos que esse cara (Bolsonaro) teve.”

Colocando os artistas bolsonaristas na mesma esfera de ignorância e fragilidade existencial, Thiago Lacerda pondera. “Uma grande fatia de gente que votou nesse cara em 2018 – e depois votaram de novo em 2022 – o fez por desinformação. É difícil ouvir as pessoas dizendo que estavam erradas e reconhecendo que não sabem sobre um tema que elas opinam nas redes sociais. Acho que tem uma coisa de dificuldade com a nossa própria história de 500 anos de uma educação negligenciada.”

“Tenho a impressão de que as pessoas leem e não entendem o que estão lendo, ouvem e não escutam, olham e não enxergam. Não há nada no campo do razoável que me faça aceitar que alguém ouça dizer que vai metralhar alguém e achar que tá tudo bem. Que não estupra alguém porque não merece. É um terreno tão farto de absurdos inadmissíveis que não tem nada dentro do campo do razoável que me faça entender o que leva um indivíduo a caminhar na direção dessa seita”, entende ele.

O ator segue: “Tenho até vergonha de falar o nome dessa gente. E a outra coisa é o preconceito. As pessoas, em alguma medida, preferem a ignorância a lidar com seus próprios preconceitos. O que opera em torno do Lula não é só o não entendimento de quem é o Lula, existe uma coisa que chega antes – muitas vezes vindo de gente competente, que sabota o Brasil”, resume o artista.

“Acho que é um pacote disso tudo aí: precariedade de educação histórica e preconceito profundo estrutural enraizado que a gente sabe que opera em muitos âmbitos da nossa convivência e cotidiano.”

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