Bitcoin e Nvidia despencam quase 10%; o que acontece lá fora?

Wall Street

Após um começo de sessão cauteloso mas em campo positivo, as bolsas de Nova York despencaram durante a tarde. A reafirmação do presidente sobre a taxação de 25% sobre importações do México e do Canadá foi o suficiente para virar os mercados durante o dia. Dentre as quedas mais acentuadas estão a Nvidia, que chegou a perder quase 10%, derrubando consigo o índice Nasdaq Composite, e o Bitcoin. Por que esses ativos sofreram mais com reafirmação de Trump?

O Bitcoin vem de rally que perdeu força, após anúncio do presidente sobre reserva estratégia de criptomoedas nos EUA. Ontem, Trump, que tem buscado estreitar laços com a indústria de criptomoedas, declarou que a reserva “elevará essa indústria crítica após anos de ataques corruptos da administração Biden”.

O presidente afirmou, no domingo, nas mídias sociais que sua ordem executiva de janeiro sobre ativos digitais criaria um estoque de moedas, incluindo XRP (Ripple), SOL (Solana) e ADA (Cardano). Os ativos subiram de 10% a 35% nas negociações de domingo. Outros ativos digitais também tiveram ganhos.

Na correção desta segunda-feira, ações ligadas às criptomoedas também inverteram a direção. Coinbase e Robinhood caíram 5% e 6%, respectivamente. As ações da MicroStrategy oscilaram de um rali de 14%, no início da sessão, para uma queda de mais de 3% na tarde de segunda-feira.

Aversão ao risco

Já a Nvidia, assim como outros papéis do setor de tecnologia, reagiram diretamente a reafirmação das tarifas pela movimentação de aversão ao risco. De acordo com analistas, a expectativa de grande parte do mercado é que houvesse acordo antes da entrada em vigor da taxação, que deve acontecer nesta terça-feira. Com as declarações de Trump, papéis de companhias como GM e Ford também sofreram e chegaram às suas mínimas no pregão.

Na agenda de indicadores, divulgação de alguns dados como os números de manufatura e construção divulgados na segunda-feira forneceram mais razões para preocupação sobre o estado da economia dos EUA. Essas divulgações marcam o início de uma semana importante para dados econômicos, que será encerrada com o relatório de empregos de fevereiro previsto para sexta-feira.

“Modo risk-off”

Para o estrategista global do Research da XP, Paulo Gitz, uma combinação de fatores explica a movimentação de hoje: I) posicionamento de vendas forçadas; II) valuation esticado; III) economia dando sinais de desaceleração e; IV) incertezas tarifárias.

“Desde a semana passada, temos notado um fluxo de venda por parte de fundos quantitativos. São fundos que seguem tendências e a maior parte desses fundos estava comprada em bolsa. Ao perder determinados pontos técnicos, as posições tem que ser desmontadas num processo que deve durar ainda alguns dias”, afirma Gitz. Em sua visão, é possível esperar que ainda aconteçam novas quedas pelo fluxo de venda desses participantes.

Além disso, o estrategista destaca que múltiplos de empresas norte-americanas seguem muito altos, em especial nas grandes empresas de tecnologia. “Embora valuations caros não sejam, necessariamente, um motivo para iniciar uma correção de mercado, os ativos ficam sujeitos a quedas mais acentuadas, conforme os investidores esperam melhores assimetrias de risco/retorno para aumentar exposição”, pontua. A equipe de análise internacional da XP já havia citado, em relatório recente, pontos sobre a desaceleração de crescimento da Nvidia.

Já os dados de economia demonstram sinais de desaceleração e os dados divulgados nesta segunda-feira, em especial o ISM teria vindo mais fraco que o esperado. “A atualização mais recente do nowcast do Fed de Atlanta mostra uma economia americana rodando a -2,8% nesse trimestre (não é uma previsão, apenas uma estimativa com os dados que já saíram)”, afirma.

Por fim, as incertezas tarifárias trazem ainda mais volatilidade a um cenário já esticado.

“Não devem ser apenas esses fatores influenciando os mercado hoje, mas acreditamos serem esses os principais motivos. Em resumo, um fluxo vendedor grande e um mercado com pouco apetite a risco devido ao aumento da volatilidade por conta das tarifas, múltiplos elevados e uma economia americana dando sinais de fraqueza”, conclui Gitz.

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