Juros altos abrem novas oportunidades para cooperativas de crédito em 2025

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A frase “um por todos e todos por um”, criada pelo escritor francês Alexandre Dumas no clássico romance “Os Três Mosqueteiros”, se aplica perfeitamente ao cooperativismo, um sistema que nasceu em Manchester, na Inglaterra, no mesmo ano do lançamento do livro, em 1844. A união de operários ingleses para comprar produtos básicos em grande quantidade a um custo menor acabou por fincar as bases para mudanças socioeconômicas em todo o mundo.

Isso é tão importante que hoje já existem 3 milhões de cooperativas de diferentes seguimentos espalhadas pelo mundo, segundo dados da Aliança Cooperativa Internacional.

No Brasil, elas totalizam 4.509 registradas na Organização de Cooperativas do Brasil (OCB), atuando em sete ramos da economia e contando com mais de 23 milhões de cooperados, o equivalente a quase 12% da população.

A maior concentração está no setor agrícola, que soma 1.179 cooperativas, seguido pelos ramos de transporte (790); saúde (702); crédito (700); trabalho; produção de bens e serviços (641); infraestrutura (276), e Consumo (221).

Sócios e não clientes

No setor financeiro brasileiro, as cooperativas vem operando uma nova revolução, ampliando o acesso ao crédito a pessoas que antes não conseguiam nem entrar em um banco. Segundo o diretor presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC), Ivo Lara Rodrigues, hoje essas cooperativas são instituições financeiras regulamentadas e fiscalizadas pelo Banco Central, mas possuem diferenças com as tradicionais por ter uma proposta de inclusão financeira mais efetiva.

“Com perfil diferente, o cooperativismo vem crescendo e deve continuar porque ele ganha força justamente em momentos de maior estresse do mercado financeiro, como o provocado pela alta dos juros. Isso por que os cooperados não são clientes, são sócios”, explica Rodrigues.

Assim, as cooperativas vem aumentando suas carteiras. Segundo o Banco Central, hoje elas já estão 57% dos municípios brasileiros. O número de cooperados, que são ao mesmo tempo donos e clientes, chega a 17,3 milhões entre pessoas físicas e jurídicas. “E neste ano o crescimento continua, ainda mais com a Selic a 13,25% ao ano”, diz o executivo doa FNCC.

Mas a relação é diferente porque, para conseguir o crédito, a pessoa precisa virar um cooperado, preenchendo uma ficha de adesão e se tornando sócio, contribuindo com capital, que pode ser de forma contínua ou esporádica.

Esse capital é como se fosse uma cota para participar da sociedade. Mesmo assim, quando ele precisa do crédito vai ser analisado, e os juros serão menores que os cobrados no mercado. Isso porque a cooperativa cobra taxas de custo da operação, mas é mais baixa, porque ela não visa o lucro, de acordo com Rodrigues.

Desafios

Com o crescimento das cooperativas de crédito vieram também novos desafios, como o aumento da inadimplência em 2024. Mesmo sendo uma alternativa mais barata e acessível para muitos brasileiros, essas instituições enfrentam algumas dificuldades trazidas pela expansão.

A inadimplência, que em dezembro de 2021 era de 1,1%, subiu  para 2,4% em dezembro de 2023 e continuou avançando em 2024. Ainda assim, esses índices são inferiores às taxas registradas pelos bancos comerciais, segundo Rodrigues. Essa elevação tem levado as cooperativas a aprimorar seus mecanismos de gestão de risco e recuperação de crédito.

A Resolução 4966 do Banco Central trouxe novas exigências para provisionamento, obrigando as instituições a se prepararem melhor para perdas potenciais. O provisionamento visa garantir que os recursos financeiros estejam alinhados com padrões internacionais de gestão de risco.

Venda de carteira de crédito

Uma estratégia cada vez mais utilizada para mitigar os impactos da inadimplência é a venda de carteiras de crédito inadimplente. Em 2024, as cooperativas aceleraram esse processo, movimentando R$ 800 milhões em cessão de créditos não performados (NPL), um aumento expressivo em relação a 2019, quando apenas R$ 100 milhões foram cedidos.

A Recovery, empresa do Grupo Itaú e uma das maiores na compra e gestão de créditos inadimplentes no Brasil, tem trabalhado muito nesse mercado. A companhia, que administra mais de R$ 150 bilhões em créditos inadimplidos, tem focado na aquisição de carteiras vindas de cooperativas, permitindo que essas instituições monetizem seus créditos e mantenham sua liquidez.

Segundo Plínio Ribeiro, Head comercial e de aquisição de carteiras do Grupo Recovery, assim como a estrutura da cooperativa é diferente a dinâmica de cobrança também precisa ser diferente. “A avaliação é distinta da feita por banco tradicional, mas o risco também é menor que o do banco, porque a pessoa é sócia. Mesmo assim a inadimplência cresceu, mas o volume de crédito concedido também cresceu”, explica.

Segundo o executivo, é essencial o trabalho de conscientização para o que significa a inadimplência dentro de uma cooperativa. “Se a pessoa fica inadimplente para um banco é uma coisa, mas na cooperativa é outro”.

A interação entre cooperativas e empresas especializadas em gestão de crédito, como a Recovery, pode, no entanto, impulsionar ainda mais o crescimento do setor, proporcionando um equilíbrio maior entre a concessão de crédito e a segurança financeira das instituições. “A venda de créditos inadimplentes é uma forma de liberar recursos para novos empréstimos e garantir a sustentabilidade do cooperativismo no Brasil”.

Perspectivas

Com a crescente profissionalização do setor, as cooperativas precisam investir em educação financeira e no relacionamento com seus cooperados, reforçando a importância da participação econômica e da gestão responsável do crédito. A inclusão financeira continua sendo um dos principais diferenciais do cooperativismo, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social em diversas regiões do país.

O crescimento do mercado de crédito cooperativo e a maior participação de empresas na compra de carteiras inadimplentes indicam também um amadurecimento do setor, tornando-o cada vez mais relevante na economia brasileira, segundo Ribeiro. O desafio para os próximos anos será equilibrar a expansão do crédito com a manutenção da saúde financeira das cooperativas, garantindo que continuem sendo uma alternativa acessível e sustentável para milhões de brasileiros.

“O certo é que onde existe o cooperativismo o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é superior, porque a economia local é fomentada. Isso foi decisivo também na pandemia, quando houve uma retração do crédito e as cooperativas puderam emprestar mais”, disse o executivo da FNCC.

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