Enquanto Musk mobiliza extrema-direita na Europa, Tesla paga o preço

Elon Musk, CEO da SpaceX e Tesla e proprietário da X. (Foto: REUTERS/David Swanson)

Durante os últimos dois meses, o bilionário da tecnologia Elon Musk promoveu o partido de extrema-direita da Alemanha em pelo menos duas dúzias de publicações na sua plataforma X, entrevistou o líder partidário e disse a seus 219 milhões de seguidores que essa era a “única esperança” para o país.

No entanto, o apoio de Musk para o Alternativa para a Alemanha (AfD) teve pouca influência no impressionante segundo lugar do partido na eleição de 23 de fevereiro, segundo uma análise da Reuters com base em suas publicações e dados de pesquisas, além de entrevistas com analistas políticos.

O CEO da Tesla não parece desencorajado e continua promovendo causas de direita ao redor da Europa. Embora o impacto mais perceptível até o momento pareçam ser danos à marca da Tesla, analistas afirmam que ele pode ter um objetivo de longo prazo para seu império comercial: apoiar partidos políticos que possam reduzir regulamentações que, na sua visão, impedem inovações tecnológicas.

Musk e a Tesla não responderam aos pedidos por comentários para esta reportagem.

O AfD — classificado pelo serviço de inteligência doméstico da Alemanha como suspeito de ser um grupo extremista — agora é o maior partido de oposição da Alemanha após a eleição do mês passado, apesar do estigma que sempre acompanha a extrema-direita devido ao passado nazista do país.

Um dos políticos mais experientes do partido teve que se afastar no ano passado após declarar que a SS, principal força paramilitar dos nazistas, não eram “todos criminosos”. Musk transmitiu sua entrevista com a líder do AfD, Alice Weidel, pelo X em 9 de janeiro.

Quando Musk promoveu explicitamente o AfD pela primeira vez na Alemanha em 20 de dezembro, o partido registrava 19,3% nas pesquisas, segundo um agregador de pesquisas da Reuters. Acabou conseguindo 20,8% dos votos. Os números sugerem que ele teve pouco impacto na eleição, segundo três analistas políticos entrevistados pela Reuters. Três ataques violentos na Alemanha por pessoas suspeitas de terem origem no Oriente Médio e no Afeganistão durante aquele período também podem ter impulsionado o AfD, que defendeu deportações em massa de imigrantes.

Mas dois analistas disseram que Musk aumentou o apelo do partido entre alguns eleitores, especialmente os mais jovens, o que pode melhorar seu desempenho na próxima eleição.

E a Tesla?

A torcida de Musk à extrema-direita parece estar saindo cara para a Tesla, cujas vendas na Europa despencaram 45% em janeiro em relação ao ano anterior, enquanto seus concorrentes subiram mais de 37%, segundo a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis, que representa grandes montadoras. 

Os primeiros números de vendas em fevereiro para a Europa mostram que a queda continua. Quatro gerentes de frotas de carros corporativos disseram à Reuters que a participação da Tesla em suas frotas estava estável ou havia caído, seguindo tempos difíceis pela frente.

Mudança de foco

A análise da Reuters das postagens e republicações de Musk no X desde o início de 2024 revela sua mudança de foco para a Europa após ajudar Trump a reconquistar a Casa Branca em novembro com mais de um quarto de bilhão de dólares em doações de campanha.

No Reino Unido, ele atacou o primeiro-ministro Keir Starmer, pediu que um ativista de extrema direita preso fosse libertado e apoiou o Reform, um partido populista de direita cujas promessas de reduzir a imigração e abandonar as metas de mudança climática refletem de perto as de Trump.

Na Itália, Musk desenvolveu relações próximas com a primeira-ministra Giorgia Meloni. Ambos expressaram preocupações sobre a imigração e o declínio das taxas de natalidade em países ocidentais. Meloni recentemente chamou Musk de “gênio precioso”.

Plataformas de tecnologia dos EUA como o X têm “imenso poder” para moldar a opinião pública na Europa, disse Damian Tambini, especialista em regulamentação e política de mídia e comunicações na London School of Economics.

“Não está tão além do reino das possibilidades que (Musk) possa mudar um país politicamente”, disse Tambini. “Isso, por sua vez, criaria um equilíbrio de poder completamente diferente” dentro da UE, à medida que governos de extrema direita ganham mais influência no já fragmentado bloco de 27 nações. Esses governos poderiam potencialmente ajudar Musk a desfazer ou diluir regulamentações das quais ele não gosta, disse Tambini.

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