Mercado brasileiro mostra melhora, mas XP vê riscos que podem atrapalhar recuperação

O mercado brasileiro passou a ter uma visão um pouco mais positiva, mas ainda opera sob riscos elevados, o que sugere uma necessidade de cautela, afirmam os analistas da XP Investimentos em relatório divulgado ao mercado nesta segunda-feira (10).

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,4% no ano passado, mas os dados do quarto trimestre indicam um ritmo menor, avalia a equipe de economistas. Os especialistas calculam que a projeção para este ano da casa permanece em 2,0%, enquanto a expectativa para 2026, atualmente em 1,0%, pode ser revisada para cima dependendo dos desdobramentos da economia global e interna. O mercado de trabalho segue aquecido, sustentando o consumo, mas a inflação continua sendo uma preocupação.

A XP revisou levemente para baixo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passando de 6,1% para 6,0% para o ano de 2025, em parte devido à valorização do real e à política monetária mais rígida. Para 2026, a previsão de inflação dos economistas segue em 4,5%, com um cenário de juros ainda elevados. A taxa Selic, segundo previsão da XP, deve permanecer em 15,50% até junho, podendo sofrer ajustes caso os indicadores de inflação mostrem alívio.

O câmbio apresentou melhora em fevereiro, e a previsão para o dólar este ano pela XP foi revisada para R$ 6, ante R$ 6,20 anteriormente. Para 2026, a estimativa caiu de R$ 6,40 para R$ 6,20. A valorização recente do real, de acordo com os estrategistas, sugere que a desvalorização do final de 2024 pode ter sido exagerada, com o dólar retornando a patamares mais próximos dos fundamentos econômicos. Entretanto, analistas da XP Investimentos avaliam que a percepção de risco ainda dificulta uma apreciação mais intensa da moeda, especialmente devido à instabilidade no ambiente externo e a questões fiscais e políticas domésticas.

No cenário fiscal, a corretora acredita que o governo parece ter condições de cumprir a meta de resultado primário este ano, mas ajustes serão necessários para manter a trajetória dentro dos limites de despesas. Para 2026, a meta de superávit de 0,25% do PIB deve ser mantida, apesar das dificuldades na arrecadação e dos riscos políticos associados às eleições presidenciais.

Para a corretora, o ambiente internacional continua influenciando o Brasil. A economia dos EUA dá sinais de desaceleração, o que pode afastar novas altas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e beneficiar os mercados emergentes. No entanto, a instabilidade geopolítica e as oscilações no preço das commodities ainda geram incerteza. O petróleo e o minério de ferro, fundamentais para a balança comercial brasileira, tiveram quedas recentes, o que pode impactar as exportações.

Do lado político, os analistas observam que março trouxe movimentações relevantes, como um possível desfecho para as discussões sobre emendas parlamentares, o avanço da reforma ministerial e a definição do calendário de votação do orçamento de 2025. Essas questões, conforme eles, devem afetar o andamento das propostas do governo, incluindo a reforma do imposto de renda e medidas para incentivar o crédito ao consumidor.

“Medidas paliativas já foram anunciadas no início do mês, mas a eventual persistência de números mais elevados pode reacender o debate dentro do governo. Na mesma direção, e mesmo sem contar com apoio do time econômico, é possível que medidas de estímulo, a exemplo do consignado privado e da liberação de saldos do FGTS, continuem a ser sugeridas por integrantes do governo – o que adicionaria dificuldade ao esforço que tem sido empreendido pelas equipes da Fazenda e do Planejamento para convencer o governo a tolerar a possibilidade de um crescimento econômico aquém do registrado em 2024”, dizem os analistas.

Déficit, mercado de trabalho e inflação

O déficit em conta corrente foi revisado pelo Banco Central, passando de US$ 56,0 bilhões para US$ 61,2 bilhões em 2024, equivalente a 3,0% do PIB. Apesar do financiamento mais restrito, a situação das contas externas segue administrável, com reservas internacionais elevadas e um nível reduzido de endividamento em moeda estrangeira. Para 2025, a projeção do déficit subiu para US$ 62,6 bilhões, com expectativa de estabilização ao longo do ano. A balança comercial, que apresentou um saldo de US$ 65,8 bilhões em 2024, deve atingir US$ 73,0 bilhões em 2025, inferior à projeção anterior de US$ 80,0 bilhões.

O mercado de trabalho apresentou surpresas positivas no início do ano, o que pode exercer pressão sobre os custos e, consequentemente, sobre a inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de fevereiro veio abaixo das expectativas porque, segundo os especialistas, foi impactado por quedas pontuais em itens voláteis, como passagens aéreas. No entanto, os núcleos da inflação continuam rodando acima do teto da meta, com os preços de bens industriais e serviços em alta. A XP Investimentos reduziu levemente sua projeção para a inflação de bens industrializados em 2025, de 5,1% para 4,8%, devido ao câmbio menos pressionado.

Os preços administrados também devem influenciar a inflação ao longo do ano. A bandeira tarifária verde, acionada em dezembro, deve permanecer em vigor até abril, com previsão de bandeira amarela a partir de maio e bandeira vermelha entre julho e outubro. O pagamento do bônus de Itaipu em julho, estimado em R$ 1,2 bilhão, deve gerar um efeito temporário nos índices de preços. Em relação aos combustíveis, a projeção para 2025 considera estabilidade nos reajustes, com o petróleo Brent oscilando entre US$ 70 e US$ 75.

No grupo de alimentos, a XP coloca na ponta do lápis que a expectativa para a inflação foi reduzida de 9,2% para 8,6% em 2025. O impacto do câmbio mais apreciado, somado à dinâmica da pecuária e à oferta de aves, contribui para essa revisão. A alta nos preços dos ovos no atacado nas últimas semanas é vista como um evento temporário, com expectativa de acomodação a partir de abril. A projeção para o IPCA de 2026, diz a corretora, segue em 4,5%, refletindo a atuação da política monetária contracionista e a normalização dos preços de alimentos e do câmbio.

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