Visitando a nascente do Rio Paraibuna

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Recentemente, fiz um passeio há muito tempo sonhado. Fui conhecer o lugar exato onde começa o principal rio que banha a cidade de Juiz de Fora: o Rio Paraibuna.

Estava acompanhado pelos professores da Universidade Federal de Juiz de Fora Pedro Machado e Ciro (com seu filho Sílvio), e o Moisés (responsável pelas imagens e operação do drone).

Saímos de JF por volta de 7 horas e chegamos ao nosso objetivo às 10 horas. Tomamos a BR-267 e, pouco antes de Lima Duarte (depois do Autódromo Potenza), seguimos pela MG-135. Passamos por Pedro Teixeira e Bias Fortes. E a parada final foi a sede da Fazenda Campinho, na Serra da Mantiqueira, no município de Antônio Carlos, a 1200 metros de altitude.

Lá, fomos recebidos pelo Senhor João Alberto Campos de Abreu, de 81 anos de idade. Proprietário da fazenda, João é conhecido como “o guardião da nascente”. E não é por menos. Em sua propriedade encontram-se cinco das primeiras nascentes do Paraibuna. Muito bem protegidas. Todo o acesso está cercado não apenas por linhas de arame farpado esticadas em mourões, mas também por um aglomerado de árvores ladeando as margens do curso d’água dentro da propriedade. A maior parte dessas espécies foram plantadas há pouco tempo.

João de Abreu é um homem que impressiona pelo entusiasmo ao falar dessa grande riqueza ambiental em seu imóvel. Assim que chegamos, ele já tinha preparado um café bem mineiro para os visitantes, com broinhas e roscas doces. Na mesa principal da casa de quase cem anos, João deixou espalhados mapas, matérias de jornais e revistas, fotografias, cópias de documentos e relatos acadêmicos que atestam que as nascentes existentes ali formam, de fato, o princípio do rio.

A seguir, depois de uma boa prosa, seguimos em direção à mata, na busca pelo olho d’água do Paraibuna. Atravessamos um espesso milharal na margem da MG-135 até encontrar um filete de água numa calha no terreno. Era o Paraibuna em seu começo. Ultrapassamos a cerca de arame e acompanhamos o curso d’água na direção contrária. Em menos de meia hora, chegamos na fonte.

Levei comigo cinco mudas de árvores que foram plantadas nas imediações da nascente por cada membro do grupo. Também bebi daquela água, numa caneca de alumínio.

No meio da mata fechada, chamou a atenção a grande quantidade de árvores que apresentavam manchas avermelhadas em seus troncos. Trata-se do que é chamado de “líquen vermelho”. Um organismo composto por algas e fungos. Sua existência prova a qualidade do ar no local. Só pode ser observado em ambientes com ar puro. Um excelente cartão de visita no lugar onde nasce um rio que ainda sofre tanto em seu trajeto de quase 170 quilômetros até a foz no Paraíba do Sul.

Voltarei, em breve, ao lugar. Desejo, dessa vez, continuar seguindo o percurso da água até chegar à antiga Dores do Paraibuna, quando começa a formação da barragem de Chapéu D’Uvas. A barragem foi iniciada no governo do Presidente JK e concluída no governo do Presidente Itamar Franco. Ela tem a função de controlar o nível do Rio Paraibuna, preservando a cidade contra inundações. Também já é responsável por abastecer boa parte do consumo d’água em nossa cidade.

Depois da memorável visita, ofertei ao meu mais novo amigo, João de Abreu, um exemplar autografado do meu livro “Tudo era visto e nada se fez”.

Minhas impressões sobre o lugar são as melhores. Todo aquele princípio de bacia hidrográfica que alimenta o Rio Paraibuna está bem guardado. Mas, até quando?

Até o momento me parece imune de devastação. Há toda uma paixão de família no compromisso de manter sempre protegido. João passou sua infância ali e conhece bem “cada palmo desse chão”.

Porém, perguntamos: Qual será o destino da Fazenda Campinho, com suas nascentes do Rio Paraibuna, dentro de cinco, dez, vinte anos? Quais os novos joões estão sendo preparados para serem seus futuros guardiões?

Estamos diante de uma propriedade rural com cerca de 56 hectares. O equivalente a quase 70 campos de futebol. Sendo 12 hectares de preservação permanente. Um lugar que merece a atenção do Poder Público e, muito em especial, das universidades mais próximas.

Conhecer profundamente toda essa riqueza tão perto de nossa cidade, num primeiro momento, já criará preocupação com o seu destino. Saber de todo o potencial do terreno em seu entorno e que margeia uma rodovia de tão fácil acesso deveria despertar, de imediato, os estudos necessários para fazer de toda a Fazenda Campinho um Jardim Botânico com um centro de pesquisas.

Neste tempo, em que os fenômenos que acompanham as mudanças climáticas estão reordenando a vida de todo o planeta, somos obrigados a pensar nisso. É hora de agir nessa direção!

Vamos proteger a Fazenda Campinho e fazer dali, no futuro, um lugar irradiador de conhecimentos científicos e multiplicador de guardiões da água. E que possamos homenagear João Alberto Campos de Abreu, fazendo conhecidos seu grande esforço e legado.

Concluo com a melhor expressão de uma verdade dita pelo nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade: “A natureza não faz milagres, faz revelação.”

 

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