Preços de energia disparam no Brasil com maior aversão a risco de seca

Os preços de energia elétrica no Brasil dispararam em março, mais do que triplicando em relação aos níveis do mês anterior, com a piora das chuvas na reta final do período úmido sendo precificada por uma metodologia de formação de preços aprimorada e mais avessa a risco que entrou em vigor neste ano.

Especialistas e comercializadoras consultados pela Reuters avaliam que os preços devem permanecer mais altos e voláteis até o final do ano, elevando custos tanto para o mercado regulado, com maior possibilidade de acionamento de bandeira tarifária amarela ou vermelha, quanto para o livre, com alta de preços nos contratos de energia para curto e médio prazo.

O preço de liquidação das diferenças (PLD), referência para negócios de curto prazo no mercado livre e também parâmetro para acionamento de bandeiras tarifárias, subiu de cerca de R$90 por megawatt-hora (MWh) em fevereiro para mais de R$300/MWh em março, se situando em R$350/MWh na média desta semana.

Esse salto reflete principalmente mudanças de metodologias e dos programas computacionais que calculam o PLD introduzidas pelo governo neste ano, com o objetivo de melhorar a valoração do custo da água para o Brasil, cuja matriz elétrica ainda é muito dependente das hidrelétricas, que funcionam como grandes “baterias” de armazenamento de energia.

A principal alteração que afetou os preços ocorreu no parâmetro de aversão a risco do modelo de formação do PLD, que se tornou mais pessimista, dando mais peso para possíveis cenários de seca extrema drenando os reservatórios de hidrelétricas.

“Antigamente era como se o modelo só pedisse para você colocar o cinto de segurança quando o carro já estava batendo. Esse modelo já pede para você colocar o cinto de segurança desde agora. Então ele começa a despachar térmicas preventivamente, para não ter essas mudanças abruptas”, afirmou Gustavo Ayala, CEO da comercializadora e geradora Bolt Energy.

Reservatórios em níveis confortáveis

A alta de preços ocorre mesmo com os principais reservatórios do país, no Sudeste/Centro-Oeste, atualmente em níveis considerados confortáveis, devendo fechar o mês de março um pouco abaixo de 70% da capacidade, segundo as últimas previsões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Já a energia natural afluente (ENA), que corresponde à quantidade de chuva que efetivamente chega às usinas para geração de energia, sofreu uma reviravolta. Após boas afluências nos últimos meses de 2024, os níveis pioraram desde meados de fevereiro, e a expectativa é de uma antecipação do fim do período úmido.

“As curvas de energia natural afluente para Sudeste e Sul são muito ruins, com menos de 60% (da média de longo prazo) nas regiões, no auge do período úmido… Quando o modelo enxerga isso, ele dá sinal de preços, todo o carrego maravilhoso até fevereiro vai para o ralo”, explicou Sergio Romani, CEO da Genial Energy.

Segundo testes da comercializadora LOG Energia, sem a mudança na aversão a risco, o PLD estaria agora em patamares mais próximos do piso regulatório, de R$58,60/MWh.

Leandro Stamato, gerente de trading da LOG, avalia que os preços devem se estabelecer em níveis mais elevados pelo menos até o fim do ano, quando se inicia o próximo período úmido, e com mais volatilidade, mas sem variações tão abruptas como as vistas no passado.

A visão também é compartilhada pela Bolt, que aposta em volatilidade mais “controlada” dos preços após a mudança no modelo.

“A gente acredita que vai ter mais volatilidade, só que numa banda mais aceitável. Não do piso para R$1.000, como aconteceu em setembro de 2023, de uma hora para outra. Vai ser uma volatilidade mais na semana, de R$100 a R$400, você vai ter o preço ali dentro dessa faixa”, avaliou Ayala, da Bolt.

Contratação de energia

A disparada do PLD repercutiu nos preços de contratos de energia para entrega no curto, médio e longo prazo no mercado livre.

Conforme dados do Balcão Brasileiro De Comercialização De Energia (BBCE), plataforma eletrônica para trading de energia, o contrato para energia hidrelétrica no Sudeste/Centro-Oeste, o mais líquido, com vencimento em abril, mais do que dobrou de preço no fechamento de fevereiro, para uma média de R$251,64/MWh, ante R$117,5/MWh no fim de janeiro.

Já no contrato com vencimento no segundo trimestre, o salto foi de 82,54%, para uma média de R$248,25/MWh, com preços máximos superando R$310/MWh.

“A gente já viu uma volta das negociações no mercado no meio de fevereiro… entendo que elas estão mais focadas no curto prazo, por uma questão de crédito”, disse Eduardo Rossetti, diretor de Produtos e Marketing da BBCE, apontando que os negócios deram uma esfriada no fim do ano passado com notícias sobre possível inadimplência de comercializadoras.

Stamato, da LOG, aponta que muitos consumidores de energia já haviam se apressado para contratar energia no ano passado, aproveitando uma janela de preços mais baixos, mas que nem todos tiveram a velocidade necessária.

“O consumidor que já está no mercado livre vai ter que conviver com essa realidade (de preços mais altos), e de modelo mais avesso a risco”.

Já para o mercado cativo, a antecipação do acionamento das usinas termelétricas para poupar água nos reservatórios poderá levar ao acionamento de bandeira tarifária amarela, com cobrança adicional na conta de luz, em maio, seguida de bandeiras vermelhas de julho a novembro, segundo projeção da Genial Energy.

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