Wall Street sofre novo golpe com o “caos” de Trump – mas novos vencedores emergem

Este é o mercado que Ben Inker esperava. Em meio à revolta de Wall Street contra a agenda tarifária do presidente Donald Trump — com as ações caindo cerca de 2% nesta semana, mesmo após a forte recuperação de sexta-feira —, Inker está entre os investidores que estão lucrando com a espiral de volatilidade deste ano.

O veterano cético da alta prolongada das ações nos EUA está registrando um ganho de 4% em seu portfólio de referência, superando a maioria de seus pares graças a apostas elevadas em ações baratas e mercados globais, de Japão à Europa. No momento, sua estratégia internacional parece acertada. A oscilação diária média das ações e dos títulos nos EUA atingiu níveis não vistos desde os dias turbulentos da campanha do Federal Reserve contra a inflação.

“Isso parece bastante expressivo, principalmente porque o mercado esteve muito calmo por alguns anos”, disse o gestor de 54 anos, codiretor de alocação de ativos da Grantham Mayo Van Otterloo, em entrevista após a liquidação de mais de US$ 5 trilhões no mercado de ações. “Sou muito simpático ao que o mercado está fazendo.”

O gestor, baseado em Boston, está se beneficiando de um mercado afetado pela guerra comercial, que antes parecia imune a preocupações sobre valorizações excessivas e concentração. Hedge funds, especuladores de varejo e fundos de pensão sofreram perdas, mesmo considerando dias como sexta-feira, quando o S&P 500 teve sua maior recuperação de uma queda em sete meses.

Mas para um grupo de investidores céticos em relação à alta prolongada impulsionada pela tecnologia — como os que apostam em ações internacionais e investimentos em valor — este tem sido um mercado para ser aproveitado.

Volatilidade dispara em meio à incerteza com Trump

Oscilações bruscas são uma característica comum de Wall Street. Ainda assim, o que chama a atenção dos profissionais do mercado é o quão único este momento parece. Grande parte da movimentação se deve a um único fator: Donald Trump.

De fato, o impacto do início do governo Trump no mercado é, em certos aspectos, histórico, pelo menos sob a ótica de uma nova presidência. Em meio a crescentes preocupações com ameaças tarifárias e demissões no governo, as ações dos EUA registraram o pior início para uma nova administração desde a crise financeira global. O dólar caminha para sua maior desvalorização pós-posse desde o segundo mandato de Richard Nixon, em 1973.

Isso resultou em mais uma semana difícil para os ativos, com o S&P 500 chegando a cair 10% em apenas 16 sessões — antes da recuperação de sexta-feira. Os mercados de crédito também começaram a refletir as preocupações com o crescimento, à medida que os spreads dos títulos de alto risco se ampliaram. O dólar sofreu sua segunda semana consecutiva de queda, ampliando sua desvalorização em março para 2,5%.

Outro indicador das oscilações vem do Citigroup Inc. Seu índice de risco global, que mede a volatilidade implícita de 22 ETFs multiativos, atingiu o maior nível desde 2022.

Mercado passa por forte ajuste

Há poucas semanas, o cenário era bem diferente. As ações batiam recordes sucessivos, os spreads dos títulos especulativos estavam nos menores níveis desde 2007 e o Bitcoin ultrapassava US$ 100 mil. Cerca de um terço do S&P 500 estava concentrado em apenas sete ações, um nível de concentração sem precedentes.

Para muitos céticos de Wall Street, era questão de tempo para que excessos como esses fossem revertidos — qualquer que fosse o motivo. E a atual aversão ao risco parece uma oportunidade para Jeff Muhlenkamp, cujo fundo de US$ 230 milhões tem conseguido obter ganhos mesmo diante da turbulência do mercado. Ele está de olho em barganhas nos setores de semicondutores e produtos químicos.

Muhlenkamp destaca que, com o S&P 500 negociado a 27 vezes os lucros reportados em janeiro, Trump herdou um dos mercados de ações mais caros da história. Para ele, o mercado já estava pronto para ser vendido assim que as incertezas sobre a agenda do presidente começaram a crescer e a China emergiu como uma ameaça à liderança dos EUA em inteligência artificial.

“O mercado já estava muito caro, e toda essa incerteza deixa as pessoas nervosas”, disse Muhlenkamp. “Então elas começam a recuar um pouco. Não estão tão alavancadas quanto antes. E isso é algo muito saudável.”

Espiral de volatilidade

Esta também foi uma semana em que investidores cautelosos voltaram a buscar refúgio em ativos seguros, como ouro e títulos do governo. O metal precioso já acumula alta de 10% desde a posse de Trump em janeiro — o melhor início de um ciclo presidencial desde Jimmy Carter, em 1977. Os títulos do Tesouro subiram 2,5% no período, um ganho não visto nessa fase de um governo desde Bill Clinton, em 1993.

A persistência da volatilidade tem levado observadores do mercado a especular sobre um possível “Trump put” — uma intervenção do presidente para conter as perdas ou acalmar o mercado. No entanto, por enquanto, o sentimento segue frágil, com a confiança na hegemonia das gigantes da tecnologia dos EUA sendo testada.

Tudo isso beneficia investidores focados em ações estrangeiras, que, por mais de uma década, ficaram ofuscadas pelo rali das chamadas “Magníficas 7”. No Morgan Stanley Investment Management, Jitania Kandhari está entre aqueles que finalmente estão colhendo frutos dessa rotação.

“A concentração nos EUA estava alta, as avaliações estavam estendidas”, disse a vice-CIO do grupo de soluções e multiativos, que coadministra o Passport Overseas Equity Portfolio. “Parecia que uma correção poderia acontecer.”

© 2025 Bloomberg L.P.

The post Wall Street sofre novo golpe com o “caos” de Trump – mas novos vencedores emergem appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.