Lindbergh: 2025 é “o ano do Lula” e o governo tem que entrar na “pauta popular”

Lindbergh Farias, novo líder do PT na Câmara dos Deputados. Foto: reprodução

Lindbergh Farias (PT-RJ), novo líder do PT na Câmara dos Deputados, assumiu o cargo em um dos momentos mais desafiadores do terceiro governo de Lula. Com a popularidade do presidente em queda e a inflação em alta, o governo tem menos de dois anos para reverter o cenário. Apesar da maioria do Congresso ser de centro-direita e hostil à administração petista, o deputado disse, em entrevista à Folha, que está otimista e pronto para a batalha. “O susto da queda nas pesquisas veio na hora certa. Deu uma sacudida geral”, afirmou Lindbergh.

O parlamentar destacou que o governo está reagindo com determinação. “A linha do governo agora é manter o ajuste fiscal, mas alardear mais a pauta popular”, argumentou. Ele também citou a nomeação do publicitário Sidônio Palmeira para a comunicação do governo e de Gleisi Hoffmann para o Ministério das Relações Institucionais como sinais de que Lula está “com garra” para se fortalecer rumo às eleições de 2026. Leia trechos da entrevista: 

Havia a expectativa de que Lula faria uma grande reforma ministerial, mas ela aparentemente será tímida. Ele não vai dar o chacoalhão no governo que se esperava?

Eu tenho a percepção de que o presidente deu início a uma reforma, e que não será só isso [que o presidente fará de mudança]. O Lula está muito animado, com disposição e vontade.

Eu não tenho dúvida de que a gente pode chegar ao final de 2025 revertendo essa queda [nas pesquisas]. Ela ocorreu em um momento determinado e principalmente entre os nossos eleitores do Nordeste, entre quem ganha até dois salários mínimos.

[…]

A nomeação de Gleisi Hoffmann para o ministério das Relações Institucionais foi interpretada como o fortalecimento de um polo que faz contraponto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ela terá esse papel?

A Gleisi sempre foi de cumprir missão. A vida inteira. Ela foi ministra da Casa Civil [no governo Dilma Rousseff] e tinha um papel, uma postura. Depois presidiu o PT no momento mais difícil da história desse partido.

Tinha gente naquele período, até dentro do PT, que dizia “vocês continuam com essa de Lula Livre? Esquece Lula, vamos atrás de um outro nome”. Ela foi aquela pessoa firme. E apareceu a imagem da mulher dura.

Na verdade, existe uma outra Gleisi, com capacidade de articulação, que fez aliança ampla e conduziu a campanha do Lula de 2002.

[…]

Lindbergh Farias entre Lula e Gleisi Hoffmann. Foto: reprodução

Houve a leitura de que, com ela, o governo irá mais para a esquerda. Não haverá mais ajuste fiscal e o Lula vai gastar para se reeleger.

Não tem nada disso. Ela vai trabalhar para juntar o time de verdade. Ela vai jogar completamente afinada com o Haddad.

[…]

Tem que mudar de assunto?

Tem que mudar de assunto. Não é mudar de política [econômica]. Se tiver que fazer ajuste fiscal, que faça. Mas só quem se interessa por esse tema são cinco ou seis [pessoas] da [avenida] Faria Lima. O povo quer saber é da vida real dele.

É mudar de assunto, é entrar na pauta popular. A minha linha agora é que esse ano de 2025 é o ano do Lula. É Lula sendo Lula. É Lula falando da vida do povo, é o Lula do pé de meia, é o Lula do crédito ao trabalhador, que vai beneficiar 40 milhões. É o Lula do vale gás, é o Lula da isenção do imposto de renda.

Eu volto à questão do ajuste. Tivemos um déficit de 2,4% do PIB em 2023. Caímos para 0,1%. É um esforço fiscal gigantesco.

O mundo inteiro está em déficit desde a época da pandemia. A China, no ano passado, segundo o FMI, teve déficit de 6,4%, a França, de 4,17%, os EUA, de 3,68%. Até mesmo a Alemanha, que é rigorosa na questão fiscal. Só a Argentina e a Itália fizeram um esforço fiscal maior do que o nosso. Mas o mercado não reconhece isso.

Sim, mas os países citados pelo senhor têm outra capacidade de se financiar.

As regras na questão fiscal estão aí. Pode ter contingenciamento neste ano.

O que eu quero dizer é que esse não é assunto para a dona Maria e o seu João.

O governo é bom de entrega. O que está faltando? Disputa política. Mostrar o que Lula está fazendo, comparar. Todo ministro tem que fazer a disputa. Não pode deixar barato. Eu não perco um debate no parlamento. Porque os números são gritantes. Eles [bolsonaristas] não ganham em nada da gente.

O governo tem a faca e queijo na mão para ter paz [na articulação politica].

[…]

Não adianta a gente ficar dialogando com a Faria Lima. É povo. Esse ano é o ano do povo, de falar para a vida real das pessoas.

O ministro Sidônio Pereira tomou posse em janeiro na Secretaria de Comunicação e o presidente passou a falar mais. Mas a popularidade dele segue caindo. O que acha disso?

O Sidônio entrou no meio da crise do Pix. Ele e a Gleisi comandaram juntos a campanha do Lula [a presidente em 2022]. A entrada deles mostra que o Lula está com garra.

Sidônio é da turma que quer disputar e ganhar a eleição não por ganhar, mas para não entregar o Brasil para a extrema direita.

Sabe quanto o Bolsonaro tinha de ruim e péssimo em dezembro de 2021, a dez meses das eleições do ano seguinte? 53%. E a eleição foi apertada [porque a avaliação do ex-presidente acabou melhorando]. Lula tem muito menos [rejeição] do que isso [de 41%, segundo o Datafolha].

Por que há tanta dificuldade em se discutir quem será o sucessor do Lula?

Porque é muito difícil comparar, entendeu? Quando se tem uma figura tão grandiosa por sua história, um símbolo de tantas coisas, fica difícil surgir alguém de expressão. Não é simples.

O Guilherme Boulos (do PSOL) foi nosso candidato a prefeito. Tem uma geração nova na bancada do PT, tem gente nova no PSOL, no PC do B. Mas é diferente daquele estouro de boiada, quando surge toda uma geração de novas lideranças.

[…]

A gente tem que entender que talvez demore para surgir um novo ascenso de lutas sociais. Ninguém fabrica isso. A gente tem que estancar essa turma conservadora com a pauta da vida do povo. Vamos priorizar essa agenda.

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