Cuidado: 7 em 10 fundos de renda fixa conservadores entregam menos de 85% do CDI

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Apesar de em geral possuírem o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) como benchmark, 72% dos fundos de renda fixa mais conservadores entregam abaixo de 85% da referência dos investimentos em renda fixa em 12 meses. Muitos cobram taxas de administração consideradas elevadas para esse tipo de fundo, um dos principais fatores que corroem o rendimento das aplicações.

É o que mostra um levantamento feito pela Quantum Finance a pedido do InfoMoney. O estudo analisou 386 fundos de investimento de baixíssimo risco, classificados como sendo de renda fixa simples ou fundos de renda fixa soberanos de baixa duração.

Desse total, 276 fundos, que somam um patrimônio de R$ 1,119 trilhão (cerca de 10% do patrimônio total da indústria de fundos), apresentaram rendimento abaixo do CDI em 12 meses, que hoje está em 13,15%. O retorno máximo apresentado por essas aplicações foi de 83,8% do CDI.

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De acordo com os dados da Quantum, um terço desses fundos possuem taxas de administração de 0,50% ou mais, e 23% deles possuem taxas de 1% ou mais, o que ajuda a explicar o retorno reduzido.

Hudson Bessa, professor universitário, especialista em fundos de investimento e fundador da HB Escola de Negócios, lembra que a taxa de administração costuma representar cerca de 85% dos gastos totais do fundo. 

Somado ao fato de a gestão dessas aplicações ser muito similar, isso eleva o peso da taxa de administração na hora de fazer uma escolha por um fundo de renda fixa conservador. 

“O cenário básico é que esse fundo sempre vai render o CDI menos a taxa de administração e as despesas do fundo, como cartório, taxa de corretagem, emolumentos, entre outras. Por isso, o fundo pode ser escolhido pela taxa de administração. É isso que vai fazer a diferença no retorno”, avalia.

“Apesar de investirem apenas em títulos públicos, parte relevante desses fundos tem taxa de administração, que vai ser cobrada em cima da rentabilidade”, reforça Viviane Ferreira, planejadora financeira CFP pela Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro).

Taxas de administração elevadas

A taxa de administração funciona como uma espécie de preço cobrado pelo seu fundo de investimento para gerir o seu dinheiro e remunerar gestores e administradores. Quanto mais sofisticada a estratégia, tempo, infraestrutura e habilidade para entregar o melhor retorno, maior será esse valor.

Os fundos de ações, por exemplo, tradicionalmente possuem taxas de administração maiores. Mas no caso de um fundo de renda fixa extremamente conservador, taxas elevadas não fazem sentido, segundo especialistas.

Bessa lembra que, no passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) chegou a abrir processo contra bancos pelo fato de cobrarem taxas muito altas – que chegavam a ser de 6% ou até mais – e comprometerem o rendimento de fundos em relação ao benchmark CDI, violando uma instrução da comissão. “Essas taxas vieram caindo com o tempo”, diz Bessa.

Fundos “raspa-contas”

O maior dos fundos conservadores avaliados no levantamento da Quantum, o BB Automático FIC Renda Fixa Curto Prazo, com um patrimônio de R$ 167,5 bilhões, cobra uma taxa de administração de 1,75%, e entregou um retorno em 12 meses encerrados em 28 de fevereiro de 8,08%, o equivalente a 61,4% do CDI.

Muitos desses fundos são automáticos ou fundos “raspa-contas”, como foram apelidados. Isso quer dizer que, com a autorização do cliente, os recursos que ficam na conta bancária automaticamente são aplicados em títulos públicos. No momento em que há um resgate ou transferência, automaticamente o dinheiro é disponibilizado.

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“É importante considerar que, no caso dos chamados fundos automáticos, muitas vezes as taxas de administração são mais altas, já que os bancos acabam se aproveitando do fato de oferecerem esse rendimento para o cliente”, diz Ferreira, da Planejar.

É preciso ficar atento, já que esses fundos, afirma Bessa, são encarados pelos bancos como um serviço prestado ao cliente, e não como um investimento. 

“Por isso é um produto que rende mal. A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) tem até regras de autorregulação com o objetivo de coibir abusos”, diz o especialista. 

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