Cláudio Castro deu ordem para PM mentir sobre “400 mil” em Copacabana

Manifestação com Bolsonaro em Copacabana pela anistia dos condenados pelo 8/1. Foto: Giorgio de Luca/Entre Nuvens

A Polícia Militar do Rio de Janeiro divulgou uma estimativa exagerada de 400 mil pessoas no ato em favor da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros envolvidos nos ataques de 8 de janeiro a mando do governador Cláudio Castro (PL), segundo o jornalista Octavio Guedes, da GloboNews. A corporação, que historicamente evita dar números de manifestantes em eventos políticos, entrou na disputa de narrativas sobre o eventou realizado em Copacabana no último domingo (16).

A publicação da PM foi compartilhada por líderes bolsonaristas, como o pastor Silas Malafaia e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que usaram o número para rebater críticas de que o evento teria sido um fracasso. No entanto, a estimativa da PM contrasta com o cálculo da Universidade de São Paulo (USP), que apontou cerca de 18 mil pessoas no ápice da manifestação.

Segundo apurações, a ordem para divulgar o número de 400 mil partiu do Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro. O governador nega interferência, afirmando que a estimativa foi feita pela PM, que já teria adotado práticas semelhantes em eventos anteriores.

No entanto, fontes revelam que Castro teria ligado para o comandante da PM, coronel Menezes, que inicialmente estimou 50 mil presentes. O governador, então, teria determinado a divulgação do número de 400 mil.

O método usado pela PM para calcular multidões é baseado em dados históricos e costuma superestimar a previsão para planejar o policiamento em grandes eventos, como Réveillon e Carnaval. No entanto, no caso do comício em Copacabana, a divulgação do número teve claramente um objetivo político: fortalecer a narrativa de que o evento não foi um fracasso, após Bolsonaro convocar “1 milhão nas ruas”.

Imagens aéreas mostram que o ato ocupou a Avenida Atlântica entre os hotéis Pestana e Othon, em uma área total de menos de 20 mil metros quadrados, segundo medição feita com o Google Earth. Para que coubessem 400 mil pessoas nesse espaço, seria necessário mais de 20 indivíduos por metro quadrado, o que é fisicamente inviável.

A baixa adesão, no entanto, pode impactar a pressão política pela anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. A oposição afirma ter votos suficientes para aprovar a proposta na Câmara, mas a batalha no Senado será mais difícil.

Bolsonaro, que está inelegível até 2030 por condenações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incluindo o abuso de poder em um ato em Copacabana em 2022, busca reverter sua situação jurídica. Para isso, depende não apenas da aprovação da anistia, mas também de mudanças na Lei da Ficha Limpa, o que exigiria um esforço político ainda maior.

Especialistas ponderam que a baixa adesão ao evento não significa necessariamente o fim da capacidade de mobilização do bolsonarismo.

Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da USP, afirma que a oscilação no número de participantes é comum em movimentos políticos. “Esse número baixo não é necessariamente um atestado de que o bolsonarismo perdeu o poder de mobilização. Teríamos que observar três ou quatro manifestações com esse nível mais baixo para afirmarmos isso”, disse.

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