Fed e BC: como as sinalizações de política monetária desta 4ª podem sacudir o mercado

Os investidores estão atentos às decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e do Banco Central do Brasil (BC) nesta quarta-feira (19), conhecida como Super-Quarta. A expectativa predominante é de que o Fed mantenha os juros nos Estados Unidos no atual intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano, enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a Selic de 13,25% para 14,25%, segundo consenso do mercado. O tom dos comunicados será determinante para os próximos movimentos dos ativos financeiros.

Se confirmada, a elevação da Selic levará a taxa básica de juros ao maior patamar desde outubro de 2016. Durante a crise do governo Dilma Rousseff, a taxa chegou a esse nível em julho de 2015 e permaneceu estável por um ano e três meses. A decisão ocorre em meio a um ambiente de inflação elevada e incertezas fiscais, fatores que têm pressionado o Banco Central a manter uma política monetária mais restritiva.

Apesar da unanimidade entre as 30 instituições consultadas pela Bloomberg sobre a alta de um ponto percentual na Selic, há divergências quanto aos próximos passos. Parte do mercado acredita que o BC pode indicar uma desaceleração do ritmo de alta na reunião de maio, enquanto outros economistas avaliam que o Copom evitará qualquer compromisso com um ajuste específico, deixando a porta aberta para novos aumentos, caso necessário. A mediana da pesquisa Focus aponta que a Selic pode encerrar o ano em 15%, uma projeção que se mantém há dez semanas.

Nos Estados Unidos, a inflação segue acima da meta e o mercado de trabalho continua aquecido. Isso pode levar o Fed a reforçar a necessidade de juros elevados por mais tempo, o que pode fortalecer o dólar e pressionar moedas de países emergentes, como o real. Se, por outro lado, houver qualquer indicação de cortes nos juros no médio prazo, as bolsas podem reagir de forma positiva.

No Brasil, os efeitos da política monetária já começam a ser sentidos na atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,4% em 2024, mas perdeu força no quarto trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Indicador mensal contemporâneo da atividade econômica nacional (IBC-Br), indicador de atividade do Banco Central, contudo, avançou 0,9% em janeiro em relação ao mês anterior, acima da expectativa de 0,22% apontada pela pesquisa da agência de notícias Reuters. A inflação segue pressionada: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 5,06% no acumulado de 12 meses até fevereiro, e a projeção do BC indica um novo estouro da meta em junho.

Comunicados

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney dizem que o comportamento do mercado dependerá da interpretação dos comunicados. Caso o Fed mantenha uma postura firme e o BC sinalize novas altas da Selic, o custo do crédito pode subir ainda mais, afetando o consumo e o investimento.

Além das variáveis domésticas, o ambiente internacional adiciona mais incertezas. A guerra comercial imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levanta dúvidas sobre os impactos na inflação global e sobre como o Fed pode reagir a esses desdobramentos. Com a política monetária nos dois países caminhando para manter juros elevados, os investidores devem ajustar suas estratégias conforme as diretrizes dos bancos centrais.

Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, observa que, nos últimos meses, parte da valorização do real tem sido sustentada pelo diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. Esse descompasso tem atraído fluxos para o Brasil. Caso o Fed adote um tom mais agressivo e sugira que os juros permanecerão altos por mais tempo do que o precificado atualmente, o câmbio pode sentir a pressão.

O impacto dessa mudança não se restringe ao real. A Bolsa brasileira, que é classificada como um ativo de risco, também pode ser afetada. Juros elevados nos EUA reduzem o apetite por investimentos em mercados emergentes, levando a um movimento de aversão ao risco. Isso atinge as ações brasileiras e outros ativos globais, como criptomoedas e bolsas de países em desenvolvimento.

Para Camilo Cavalcanti, gestor de portfolio da Oby Capital, um posicionamento mais hawkish do Fed— ou seja, uma sinalização de manutenção dos juros em patamares elevados por mais tempo ou até mesmo uma elevação inesperada — também poderia trazer consequências diretas para o câmbio e a Bolsa brasileira.

Um Fed mais duro pode fortalecer o dólar globalmente, tornando ativos de mercados emergentes menos atrativos e aumentando a volatilidade do real. “Isso poderia pressionar a taxa de câmbio, tornando-a mais instável e impactando empresas brasileiras que possuem dívidas em moeda estrangeira ou dependem de importações. Além disso, o aperto monetário nos EUA pode reduzir o apetite por risco dos investidores globais, afetando a entrada de capital estrangeiro na Bolsa brasileira”, diz Cavalcanti. “Nesse sentido, ações de empresas varejistas e construtoras, que vinham se recuperando, podem perder força. O temor de um custo de crédito mais alto por mais tempo pode levar a uma correção de preços nesses papéis”, completa Zogbi.

Entretanto, Raphael Figueredo, estrategista de ações da XP Investimentos, aponta que o Fed tem adotado uma abordagem mais cautelosa, sugerindo que pretende ganhar tempo antes de tomar decisões mais drásticas. A autoridade monetária americana parece inclinada a avaliar os impactos das políticas recentes antes de agir, o que pode significar cortes de juros de forma mais gradual, dependendo da evolução da economia americana.

Isso diminui as chances de um choque imediato nos mercados emergentes, incluindo o Brasil. “O desempenho do mercado de trabalho e a trajetória da inflação serão fatores determinantes para as próximas decisões. Até o momento, os números divulgados seguem dentro das expectativas, sem alterações expressivas que justifiquem uma mudança de rumo abrupta”, afirma.

Ele observa que o mercado global está com os olhos voltados para os dot plots do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) porque, segundo o estrategista, é ali que será possível entender mais claramente o pensamento da equipe do Fed em relação à política monetária. “Esses gráficos são fundamentais para avaliar como os membros do Fomc veem o futuro da taxa de juros. O que se observa, pelo menos até agora, é que a curva de juros aponta para dois, talvez até três, cortes na taxa. No entanto, a grande questão será como esses cortes serão refletidos nos dot plots: estarão de acordo com as expectativas do mercado ou serão mais cautelosos?”, questiona.

No Brasil, para Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, no comunicado, o Copom pode sinalizar um caminho de cautela, evitando grandes surpresas no futuro imediato. No entanto, essa estratégia, segundo ele, depende da postura fiscal adotada, especialmente porque as dificuldades fiscais continuam sendo relevante na avaliação do Banco Central.

A falta de ação decisiva para controlar os gastos públicos poderia tornar difícil para o BC seguir com uma postura monetária mais relaxada. Simioni explica que se o governo não controlar suas finanças, especialmente no que tange ao gasto público excessivo, as expectativas de inflação podem se desalinhavar, tornando necessário um ajuste adicional na taxa de juros. O risco de não sinalizar aumentos de juros é que isso pode criar um desconforto no mercado, especialmente no setor privado, que poderia encarar uma inflação mais persistente.

Por outro lado, o economista aponta que, se o Banco Central seguir o que foi indicado na ata da última reunião, a instituição pode optar por aguardar sinais de desaceleração da atividade econômica antes de tomar novas ações. Essa abordagem pode ser mais prudente, levando em conta que a atividade já está enfrentando um arrefecimento natural, o que pode diminuir a necessidade de ajustes mais drásticos. A expectativa é que o Copom busque um caminho intermediário, atento às variáveis internas e externas.

Investimentos

Diante desse cenário, Figueiredo diz que os investidores mantêm uma postura defensiva, priorizando empresas que oferecem bons dividendos, possuem baixa alavancagem e apresentam menor risco. O mercado, conforme ele, segue cauteloso, evitando apostas setoriais amplas e focando em companhias com características específicas que garantam remuneração atrativa ao longo do tempo, compensando os efeitos da taxa de juros elevada.

Já Cavalcanti projeta que se o BC adotar uma postura mais cautelosa e continuar elevando os juros, o efeito nos mercados pode ser considerável. Setores mais dependentes de crédito, como o varejo e a construção civil, devem ser afetados, já que o custo do financiamento seguirá elevado, limitando o poder de compra da população. A expectativa é que os juros mais altos mantenham os investidores atentos à renda fixa, com o país se tornando uma alternativa atraente para o chamado – onde o investidor busca ganhos com juros altos.

Por outro lado, se o BC adotar uma postura mais dura e seguir com o aumento das taxas, o mercado também pode encarar isso com mais otimismo. O tom mais firme de controle da inflação pode, no longo prazo, favorecer setores mais defensivos, como os serviços financeiros, que têm se beneficiado da estabilidade do regime de juros.

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