Quando o futebol brasileiro vai ser capaz de segurar Vini Jr, Endrick e Estêvão?

Os atacantes Vinícius Júnior e Endrick durante treino da seleção brasileira no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, nesta quarta-feira, 19 de março, véspera da partida contra a Colômbia válida pelas Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo 2026. 1 (Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO)

Será que algum dia o futebol brasileiro vai ter a capacidade de não vender Vini Júnior, Endrick, Estêvão e tantos outros craques que surgem por aqui e têm sua ida à Europa selada antes mesmo que eles completem a maioridade?

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Essa foi uma das questões levantadas no Sports & Business Summit, realizado nessa semana pelo InfoMoney em São Paulo. O assunto foi trazido por Maurício Portela, fundador da empresa de mídia e marketing esportivo Live Mode, e depois debatido também por Marcelo Paz, CEO do Fortaleza. Um é mais otimista do que o outro.

O executivo da empresa que toma conta da CazéTV revelou que seu sonho é ver times como Flamengo e Palmeiras terem condições de recusar propostas de gigantes europeus como Real Madrid e Chelsea e lembrou como a mudança na organização do futebol pode fazer diferença nisso.

O Campeonato Paulista, de longe o que tem mais sucesso no Brasil, foi reestruturado pela LiveMode na hora de vender os direitos de televisão e hoje consegue pagar R$ 400 milhões aos seus 16 times. Os quatro grandes ganham R$ 44 milhões só pela participação. Para se ter uma ideia, Corinthians e Palmeiras, os finalistas, conseguem só no Estadual, que na teoria é o campeonato menos atrativo do calendário, um faturamento no mesmo patamar do time que for vice-campeão da Copa do Brasil de 2025, o campeonato que gosta de ser chamado de o mais rico do país.

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A lógica de Maurício Portela é que se o futebol brasileiro for reorganizado e vender melhor os seus direitos, os times vão melhorar o seus faturamentos e terão condições de um dia dizer não para propostas dos europeus.

A questão é que a lógica que foi facilmente replicada no Paulistão tem outros obstáculos para ser aplicada em âmbito nacional. Os 20 times da Série A e os 20 times da Série B não conseguiram se unir em uma única liga para a venda dos direitos de transmissão do ciclo entre 2025 e 2029.

A LiveMode teve participação nisso, conseguiu vender apenas os direitos da Liga Forte União (LFU) e comemora os valores, mas é inegável que o valor seria ainda maior se a venda fosse feita em conjunto, com os 40 clubes unidos.

Eles ameaçaram uma união para a venda da Série B e dos direitos internacionais, mas o Flamengo já pulou fora do barco na hora de vender seus jogos para fora, inclusive anunciando que vai criar uma transmissão em sua TV própria para essa os fãs que estão fora do Brasil.

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É difícil medir qual será o sucesso do time carioca e se há demanda para isso no exterior, mas é fato que essa atitude mostra que ainda estamos longe de realizar o sonho levantado por Portela.

No painel sobre SAFs que fechou o Sports & Business Summit, Marcelo Paz foi questionado sobre o tema e mostrou pessimismo. Ele destacou como essa união dos 40 clubes seria fundamental para que os clubes como um todo pudessem lucrar mais não só com os direitos de TV, mas também com patrocínio, licenciamento e outras propriedades.

Na hora de olhar para o lado, a gente vê que o abismo ainda é grande. Só com os direitos de TV, o Brasileirão fica em 6° no mundo e fatura em torno de R$ 2,8 bilhões por ano, o que nos coloca até perto da Liga da França, que fatura R$ 3,4 bilhões. Mas a realidade é cruel. Essa aproximação é possível por causa da crise vivida no futebol francês.

Tanto que na hora de olhar para a Itália, que está longe de viver seu melhor momento, a arrecadação é desproporcional: R$ 7,6 bilhões. Alemanha, Espanha e Inglaterra completam o pódio, com os ingleses levando a medalha de ouro com nada mais nada menos do que R$ 28,3 bilhões.

Ao mesmo tempo, o Brasileirão é, de longe, o mais rentável da América do Sul. Não é à toa que qualquer destaque na Argentina, Uruguai e outros vizinhos entram imediatamente na mira de clubes brasileiros.

Isso significa que o sonho de Portela está bastante longe de acontecer, mas que é possível ao menos idealizarmos que o Brasileirão vire a Premier League das Américas, como destacou Paz. Não é viável imaginar uma competição no mesmo patamar com a Inglaterra, mas ao menos dá para pensar em clubes fazendo jogo duro e lucrando o máximo com a venda de talentos.

Em menor escala, isso já está acontecendo, mas apenas com os clubes mais organizados. O Palmeiras, por exemplo, conseguiu vender Estêvão por 61,5 milhões de euros, o que na época significou quase R$ 360 milhões. Vini Junior foi vendido por 45 milhões de euros.

A questão é que para resistir ao assédio precisaremos ver evolução não só na liga como um todo, mas também individualmente na conta de clubes que atravessam dificuldades financeiras como Corinthians, São Paulo e Fluminense, por exemplo.

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