O caminho para uma vida mais feliz: o que a ciência nos ensina?

No dia 20 de março, o mundo celebra o Dia Internacional da Felicidade, uma data criada pela ONU em 2012 para apontar que a felicidade e o bem-estar são metas universais e devem ser reconhecidas nas políticas públicas. Mas o que realmente nos faz felizes? Para além de fatores externos, como condições econômicas e estabilidade social, especialistas apontam que hábitos individuais também são essenciais para construir uma vida plena e satisfatória.

A neurociência e a psicologia positiva indicam que a felicidade é um equilíbrio entre prazer, satisfação e significado – conceito cunhado por Arthur Brooks, professor de Harvard e especialista no tema, destaca Renata Rivetti, CEO e fundadora da Reconnect, empresa especialista em Felicidade Corporativa.

“Felicidade não é apenas sobre sentir prazer momentâneo, mas também sobre encontrar um propósito e cultivar relações significativas”, comenta. Nesse contexto, práticas como exercício físico, alimentação balanceada e sono adequado desempenham um papel fundamental no bem-estar emocional.

A atividade física, por exemplo, vai muito além da saúde corporal. “O sedentarismo é um passe ‘VIP’ para a ansiedade e a depressão”, alerta o médico nutrólogo Rubem Regoto. Durante o exercício, o corpo libera endorfinas e serotonina, neurotransmissores ligados ao bem-estar. Estudos indicam que práticas como corrida, musculação e yoga ajudam a reduzir o estresse e melhorar a qualidade do sono, dois pilares importantes para manter o equilíbrio emocional.

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A alimentação também influencia diretamente o humor. “O cérebro é uma indústria bioquímica: alimente-o bem e ele entrega lucros emocionais. Triptofano, magnésio e as gorduras boas são aliados do bom humor”, explica Regoto.

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Segundo o médico, o triptofano, precursor da serotonina – o hormônio do prazer – está presente em alimentos como salmão, ovos e chocolate 70%. Já o magnésio, essencial para o relaxamento mental, é encontrado de forma abundante no abacate e castanhas. Gorduras boas (como o azeite de oliva) protegem neurônios e reduzem neuroinflamação – um grande ‘vilão’ do funcionamento cerebral e do humor – enquanto o café e o chá verde elevam a dopamina, que regula motivação e prazer.

“Na contramão, ultraprocessados e açúcar são como ‘freios’ emocionais: picos de prazer seguidos de crashes brutais no humor”, complementa o nutrólogo. O conceito de bem-estar, portanto, começa pelo prato e se estende a outros hábitos diários.

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Mas felicidade não se resume à saúde física. Ter relações saudáveis é um dos fatores mais importantes para o bem-estar emocional.

“O maior preditor da felicidade são as relações humanas. Ter um grupo de apoio, estar presente para as pessoas queridas, cultivar laços profundos, sair do virtual e se conectar mais no mundo presencial é essencial”

— Thalita Martignoni, psicóloga

Ou seja, em um mundo cada vez mais digital, para ter uma vida mais equilibrada é fundamental resgatar conexões reais e investir em momentos de qualidade com amigos e familiares.

Equilíbrio entre profissional x pessoal

Outro ponto fundamental é a gestão do tempo e a busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional – mas nem sempre é fácil. De acordo com Renata, da Reconnect, a empresa não deveria ser mais um “ofensor” na saúde mental das pessoas.

O bem-estar dos colaboradores é algo que deve ser compartilhado com a empresa, mas não adianta para o profissional esperar encontrar uma “empresa perfeita” nesse sentido porque não existe, aponta a especialista.

“Mas as empresas têm sim a responsabilidade de criar ambientes psicologicamente seguros, de fomentar lideranças mais humanizadas, de criar mais flexibilidade para os seus colaboradores, de acolher e trazer o senso de inclusão, equidade e pertencimento”, ressalta.

Os especialistas destacam que excesso de trabalho pode levar ao esgotamento emocional, tornando essencial estabelecer limites e reservar momentos para lazer e descanso.

Autoconhecimento e pequenas alegrias

O autoconhecimento também desempenha um papel chave na felicidade. Segundo Thalita, o ser humano tem a tendência de valorizar mais as experiências negativas do que as positivas. Ela explica que isso faz parte da evolução como espécie. Ou seja, para sobreviver a futuros perigos, a memória é seletiva e lembra com mais detalhes os aspectos difíceis da realidade.

Por outro lado, quando contemplamos os aspectos positivos, podemos descansar e digerir as experiências negativas, alcançando um estado de paz, explica a psicóloga.  É aí que entra o ‘poder’ da gratidão, que “funciona como um arco-íris depois de uma tempestade”. “Ter o hábito de agradecer direciona a nossa atenção para os aspectos positivos da realidade, nos retira do estado de ruminação de eventos passados e da velocidade frenética das preocupações”, salienta.

Para Chrystina Barros, especialista em felicidade, é importante ter consciência de que existem duas dimensões da felicidade. “A diária, com alegrias e tristezas, prazer, tensões, felicidade e infelicidade, seja porque eu peguei engarrafamento, cheguei atrasado e isso não me deixou bem, ou porque alguém segurou a porta do elevador para mim e eu comi um pedaço de chocolate. Isso tudo dá prazer, é para o agora”, aponta.

Por outro lado, há também a dimensão da felicidade enquanto sentido da vida. “Então é importante ter essa consciência, porque a gente pode sim, no dia a dia, ter algumas práticas que nos ajudam a diminuir ou enfrentar aquilo que, muitas das vezes recebemos e não temos como influenciar”, observa. Ou seja, desenvolver uma visão mais positiva da rotina pode impactar diretamente o bem-estar emocional.

Por fim, os especialistas recomendam que desacelerar e respeitar o próprio ritmo é essencial. Descansar sem sentir culpa também é importante, afinal as pausas são essenciais para a recuperação do estresse.

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