Estrangeiros aportam R$ 13 bi e guiam ânimo da Bolsa brasileira: tendência seguirá?

Com uma sequência forte de ganhos, o Ibovespa atingiu máximas desde outubro na última quarta-feira (19) e chegou a se aproximar dos 133 mil pontos, em grande parte devido ao fluxo estrangeiro.

Até o dia 17 de março, os estrangeiros aportaram R$ 4,5 bilhões em recursos no segmento secundário da B3 (ações já listadas) ao longo do mês. No acumulado de 2025, o saldo é de R$ 13,2 bilhões, guiando os ganhos de 10% do benchmark da Bolsa no ano.

Estrategistas de mercado destacam que o cenário externo é um fator preponderante para essa entrada de capitais na Bolsa brasileira.

Em relatório, a equipe de estratégia da XP, liderada por Fernando Ferreira, ressalta que a rotação global para fora dos EUA em 2025 continua beneficiando os mercados emergentes e outras regiões ao redor do mundo.

“O Brasil não fica de fora dessa tendência, aproveitando a retomada dos fluxos estrangeiros para a bolsa, embora ainda em um ritmo tímido” , avaliam os estrategistas da XP.

Em fevereiro, os investidores estrangeiros permaneceram compradores líquidos no mercado à vista, mas registraram saídas expressivas no mercado futuro, com entradas líquidas de R$ 1,9 bi no mercado à vista e saídas líquidas de R$ 9,0 bilhões em futuros. Já em março, observam-se fluxos ligeiramente positivos tanto no mercado à vista quanto em futuros até o momento.

A XP ressalta que os fluxos estrangeiros vêm sendo um dos principais motores da alta do mercado brasileiro no acumulado do ano. “Observamos um otimismo crescente entre os investidores estrangeiros em relação ao Brasil, embora ainda sem uma movimentação agressiva para adicionar posições relevantes. Isso pode explicar os fluxos ainda tímidos. Dado esse cenário, vemos espaço para uma continuidade dessa tendência, especialmente à medida que as eleições de 2026 se aproximam e a rotação global para fora dos EUA ganha tração”, avaliam os estrategistas.

Cabe ressaltar que, após conversas em março com investidores estrangeiros, a XP apontou ver um sentimento geral mais construtivo com o Brasil em relação à última vez que abordou esses temas (em outubro de 2024) e certamente os veem bem mais construtivos em comparação aos investidores locais.

“Valuation (preços) atrativos, fundamentos micro sólidos e um potencial catalisador à frente em 2026 [com eleições] são as principais razões por trás desse otimismo. Dito isso, muitos investidores nos disseram que não têm pressa em aumentar sua exposição ao Brasil no momento, e preferem usar eventos de volatilidade futuros para o fazer”, apontam os estrategistas.

A equipe da XP ainda apontou cinco ações que podem se beneficiar de uma intensificação dos fluxos estrangeiros para o Brasil. São elas: Mercado Livre (BDR: MELI34), Nubank (BDR: ROXO34), Petrobras (PETR3;PETR4), Itaú (ITUB4) e Embraer (EMBR3).
Na mesma visão, a equipe de estratégia do JPMorgan aponta ser da opinião de que há uma realocação global de ativos em andamento e que isso pode beneficiar os mercados emergentes e, consequentemente, o Brasil.

A moderação no “excepcionalismo” dos EUA [que tinha um desempenho mais forte frente os outros mercados], juntamente com o maior crescimento europeu, abre caminho para uma visão mais pessimista sobre o dólar. Recentemente, o JPMorgan aponta que seu estrategista global, Mislav Matejka, elevou recentemente a sua exposição global para os emergentes de underweight (exposição abaixo da média) para neutro.

Para os estrategistas, os emergentes são beneficiários “acidentais” desse cenário. Desta vez é diferente porque um crescimento mais lento dos EUA não está levando à fuga para a qualidade para o dólar, enquanto há um aporte para emergentes (incluindo o Brasil).

As alocações em emergentes estão em apenas 5% nos portfólios globais de ações, sendo que uma alocação neutra seria de 10% e o pico foi de 13%. “Na verdade, os ETFs de emergentes estão vendo entradas consistentes, o que achamos que é um começo para mais alocações em fundos ativos daqui para frente”, apontam.

Por outro lado, localmente, os dados da Anbima ainda mostram saídas de ações de locais, totalizando -R$ 8 bilhões em fevereiro. Como tem sido o caso por 18 meses, os fundos de hedge (multimercados) continuaram a sangrar com outros -R$ 24 bilhões em saídas. “De fato, houve resgates nos últimos 18 meses consecutivos neste tipo de fundo, totalizando R$ 500 bilhões no período. Nem mesmo a renda fixa, que vem liderando os fluxos dentro dos locais, conseguiu escapar do vermelho em fevereiro, com -R$ 9 bilhões em saídas. No geral, a indústria de fundos mútuos registrou saídas de -R$ 44 bilhões em fevereiro”, apontam.

As alocações de ações como porcentagem do total de AUM (ativos sob gestão) dos fundos mútuos aumentaram, para 7,5% (+10 pontos-base), mas ainda muito longe da média histórica de 11,5%. “Se houver uma reversão média da alocação de ações para a média, isso resultaria em US$ 45 bilhões em entradas.”, avaliam.

O JPMorgan ainda ressalta que, após ter diminuído mais de 50% no 4T24, a alocação de fundos EM (emergentes) fortaleceu sua exposição overweight (OW) no Brasil, aumentando em cerca de 40%, agora com 21 gestores de 57 na amostra OW no país.

No começo do mês, o banco americano elevou a recomendação para as ações do Brasil para compra, apontando que 1) o cenário global agora beneficia o país (desde que os EUA não entrem em recessão); 2) o Brasil mais perto do fim do ciclo de alta de juros, o que deve ser um gatilho muito importante para as ações; e 3) o impulso da China deve trazer mais recursos para os mercados emergentes, provavelmente beneficiando mercados mais ligados à China, como o Brasil.

Contudo, ponderam que as questões domésticas que os levaram a rebaixar o Brasil (fiscal ruim) no fim de novembro ainda estão muito vivas.

Neste sentido, os estrategistas ressaltam que continuam com uma alocação um tanto defensiva, mas preferem agora ficar mais expostos a proxies de títulos no Brasil a exportadores.

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