Hapvida chega a saltar e a cair 8%, mas fecha estável após 4T: o que explica?

As ações da Hapvida (HAPV3) tiveram forte volatilidade na sessão desta quinta-feira (20) com investidores assimilando os resultados do quarto trimestre de 2024 e comentários da teleconferência. A ação da companhia chegou a cair 8,41% (R$ 2,07), virou e chegou a saltar 7,96% (R$ 2,44), mas amenizou os ganhos e fechou com leve queda de 0,44% (R$ 2,25).

Cabe ressaltar que uma das grandes questões para o resultado da Hapvida eram sobre a visibilidade sobre as disputas judiciais.

Após o 4T, os analistas não viram uma melhora sobre esse tema. Os principais pontos negativos foram: (i) assim como no 3T, o nível de provisões para contingências foi anormalmente alto (+30% trimestre a trimestre); (ii) os depósitos judiciais subiram em termos pró-forma (a queda nos dados da ANS, ou Agência Nacional de Saíde, foi apenas uma reclassificação contábil); (iii) resultados operacionais fracos (adições líquidas ligeiramente positivas, mas sinistralidade caixa acima); e (iv) fluxo de caixa fraco, com aumento da dívida líquida trimestralmente. O lado positivo, ressaltou o BTG, foi o acordo firmado com a ANS para liquidar a dívida de reembolso ao SUS, reduzindo passivos de R$2,2 bilhões para R$1,4 bilhão.

Contudo, teleconferência realizada na manhã desta quinta aliviou a preocupação dos investidores, com atenção para as tendências futuras para depósitos judiciai.

“A empresa mencionou que os depósitos judiciais desaceleraram significativamente em janeiro e fevereiro, não apenas devido à sazonalidade, mas também como resultado dos fortes esforços da empresa. Dois grupos de trabalho foram estabelecidos: um focado em reduzir a conversão de bloqueios judiciais em desembolsos reais, e o outro visando abordar novos processos antes que eles levem a um bloqueio judicial. Espera-se que essas iniciativas juntas diminuam o impacto no balanço daqui para frente, influenciando potencialmente a reação atual das ações”, destacaram os analistas do BBA em relatório.

Ainda na teleconferência, a Hapvida ainda destacou que espera ter em 2025 um ano de crescimento, com equipes mais focadas em aumento de vendas e menos concentradas em processos de integração do grupo, que se tornou a maior empresa de planos de saúde do país após uma série de grandes aquisições de rivais.

“Estamos incrementando o volume de vendas online…com bom controle de sinistralidade… Isso tudo nos leva a crer que teremos um ano de crescimento, ressalvando o primeiro trimestre que nunca é um trimestre forte”, disse o executivo, citando ainda “cancelamentos nos menores níveis históricos da companhia”, disse o presidente-executivo, Jorge Koren de Lima, na conferência com analistas.

A visão sobre o resultado

Para o JPMorgan, a Hapvida apresentou resultados operacionais poluídos no 4T24, com ajustes generalizados. O lucro por ação ajustado (EPS ajustado) foi de R$ 0,02, abaixo dos R$ 0,03 do 4T23 e das estimativas do banco de R$ 0,05, impactado por um leve desempenho operacional abaixo do esperado, além de maiores despesas financeiras e impostos.

Dado o grande volume de ajustes no trimestre, o JPMorgan avaliou que o mercado não deveria focar excessivamente no lucro por ação abaixo das expectativas, uma vez que o acordo de passivo com o SUS teve um impacto relevante sobre os impostos diferidos, dificultando um ajuste completo. Dessa forma, o banco esperava que o foco estivesse nas tendências operacionais, já que os ruídos contábeis tendem a se dissipar nos próximos trimestres.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado, considera o indicador mais relevante pelo JPMorgan, ficou em R$ 968 milhões, estável na comparação anual, mas 7% e 5% abaixo das estimativas do banco e do consenso, respectivamente.

De acordo com o JPMorgan, o leve desempenho abaixo do esperado foi causado por maiores provisões para processos judiciais, apesar da superação na margem de sinistralidade ajustada (MLR ajustado), impulsionada por melhores preços e controle de custos.

O banco americano ainda destacou que tanto os impactos positivos quanto os negativos já eram parcialmente antecipados pelos dados financeiros da ANS, divulgados no dia anterior, o que pressionou as ações da companhia (queda de 5% contra Ibovespa na última sessão).

Para os analistas, apesar da volatilidade das ações após a divulgação do 4T24, a tendência operacional segue favorável (mesmo com as provisões maiores), sustentando a tese de recuperação de margem e a recomendação de compra, especialmente considerando que o 1T25 deve ser um trimestre mais limpo em termos de ajustes contábeis.

Os resultados do 4T24 da Hapvida, por sua vez, vieram bem abaixo da projeção do Bradesco BBI.

O BBI aponta como destaques negativos: (i) R$ 422 milhões de queima de caixa, quando incluindo R$ 187 milhões a pagar do SUS; (ii) aumento de R$ 169 milhões em depósitos judiciais; (iii) 5% de frustração na linha do Ebitda ajustado, devido à maior sinistralidade médica e provisões para contingências; e (iv) despesas financeiras líquidas 18% acima do esperado.

Por outro lado, na opinião do BBI, os destaques positivos foram: (i) a eliminação de R$ 2,9 bilhões em contingências relacionadas ao ressarcimento do SUS por meio de um acordo com o Governo em dezembro, com um impacto de caixa de R$ 187 milhões a serem pagos no 1S25; e (ii) cobertura de provisão cível de 104% sobre depósitos após baixas e despesas de depósitos de R$ 306 milhões.

Já a Genial Investimentos destaca que a Hapvida reportou um resultado operacional positivo no 4T24, reforçando a trajetória de recomposição de margem e eficiência operacional observada ao longo do ano. A sinistralidade consolidada seguiu em tendência de queda, encerrando o trimestre em 67,9%, enquanto a sinistralidade anual de 2024 ficou em 69,2%, uma melhora expressiva frente aos 71,9% de 2023.

“O crescimento da base de beneficiários, mesmo em um contexto de reajuste de preços, reforça a resiliência do modelo de negócios e a capacidade da empresa de sustentar um crescimento disciplinado”, comenta a Genial.

O trimestre também foi impactado pelo acordo firmado com a ANS, que teve um efeito positivo total de R$ 866 milhões, sendo R$ 541 milhões refletidos na linha de custos, ajudando a reduzir a sinistralidade, e R$ 325 milhões no resultado financeiro.

No entanto, os desafios com judicialização e depósitos judiciais seguiram como pontos de atenção relevantes, exigindo maior visibilidade sobre os desdobramentos ao longo de 2025. Com isso, o banco manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 5,00.

O Goldman Sachs, por sua vez, avaliou antes da teleconferência que ainda havia pouca visibilidade sobre o impacto do ambiente mais desafiador de judicialização para a companhia, uma vez que a constituição trimestral de depósitos judiciais cíveis não está desacelerando sob a nova metodologia de reporte da empresa.

A equipe do Goldman também observou um consumo de caixa de R$ 169 milhões no trimestre, medido pela variação da dívida líquida ajustada para recompra de ações, pagamento de M&A do NDI e honorários advocatícios não recorrentes.

Por outro lado, alguns indicadores operacionais vieram melhores do que o esperado pelo Goldman, como o crescimento líquido de beneficiários na saúde de 20 mil no trimestre e uma melhora de 250 pontos-base (bps) na margem de sinistralidade líquida (MLR).

O Goldman manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 4,30.

Já o Morgan Stanley comentou que a Hapvida relatou um 4T24 nebuloso, com múltiplas reformulações que, embora complexas, “foram uma limpeza necessária”.

Para o Morgan, as operações tiveram ótimo desempenho e a empresa se beneficiou das negociações com o SUS e a ANS, mas os depósitos judiciais continuavam sendo o principal obstáculo para a tese.

O Morgan reiterou classificação de compra e preço-alvo de R$ 4,50.

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