Starly Kind grita o que tem no seu coração em novo single

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(Foto: Alice Ruffo/ Divulgação)

Starly Kind lança seu primeiro single solo “This heart eaten raw” neste sábado (22). No mesmo dia, o artista norte-americano apresenta as criações de seu mundo musical no Maquinaria pela primeira vez, divindo a noite com as bandas Baco Doente, de Juiz de Fora, que nesta semana lançou o single “Le bleu”, e Cheyenne Love, do Rio de Janeiro.

Lançado de forma independente, o single faz parte do EP “Inferno (Xe/Xem)” e do álbum “Purgatorio/paradiso: Overture of a melancholic, symphony No. 6”, nos quais ainda está trabalhando, inspirados na “Divina comédia”, do autor italiano Dante Alighieri. Em ambos, os títulos das músicas, quando lidos em sequência, formam um poema. “A ideia conceitual é sobre procurar uma casa durante o caminho percorrido pelo inferno, purgatório e paraíso, como uma paisagem cênica. Eu cresci ao redor de uma religiosidade homofóbica e transfóbica, não de parte da minha família, mas em volta dos meus amigos. Com esse trabalho, eu encaro isso.”

Entre as influências musicais para a criação desse primeiro lançamento estão as bandas Chat Pile e King Woman e músicas screamo e góticas. O artista conta que cresceu ouvindo punk e emo, e que apesar de seus pais ouvirem muito metal, nunca teve tanto interesse pelo gênero: “O que é engraçado, porque acho que estou escrevendo algo parecido do metal”.

Primeiro trabalho solo

Nesse primeiro trabalho, Starly cria um mundo contrapondo a atmosfera sombria de guitarras sujas e gritos raivosos sobrepostos ao êxtase dos cantos etéreos, como se formasse um coral celestial. O artista abre o coração, seu pedaço visceral e mesmo sem imaginar que teria a coragem, descreve sua forma. “Duro”, “sangrento” e “feito de horrores que nunca vou entender”. 

Ao ver e tocar com as mãos, compreende, entre a dor e o prazer do amor, o que é o humano — algo imperfeito e mundano, que anda entre céu e inferno. No final, o momento do arrebatamento, canta sobre “portões dourados que o esperam” e sobre não se sentir sozinho, sobre fazer com que tudo isso seja também uma casa. Uma vida vivida de forma “crua”, assim como o título sugere.

A arte de divulgação do single traz a ilustração de um demônio ou de um anjo com asas e chifres, enlaçando seu mundo criado, o musical e o visual, e criando um personagem duplo, que está “entre” os mundos, entre os gêneros, sem definições — algo que o artista explora em sua identidade queer e fluída.

capa single
(Foto: Fogoliquido/ Reprodução)

“Sou um artista visual e um criador de mundos. Eu vejo tudo como uma série de personagens e cenas — não é apenas um som, é uma paisagem. Para mim, isso é uma compilação de muitas partes da minha vida, reunidas como símbolos para formar um novo espaço onde posso me sentir seguro em um mundo que nem sempre é seguro”, contou Starly.

“This heart eaten raw” começou com um título e um compasso musical. A música foi feita na improvisação, em um processo em que o artista se trancou no quarto, plugou sua guitarra e seu microfone, e compôs enquanto gravava. “Enquanto eu escrevia, se transformou em uma música sobre luto, sobre disforia de gênero e sobre ter que ser forte diante do assédio sexual e da objetificação.”

Antes de se lançar no trabalho artístico solo, Starly Lou Riggs fez parte da banda Death Parade, ao lado da amiga Laura Hopkins, em Portland, Oregon (EUA), onde vivia. Com a banda e a parceria, pôde aprender a tocar guitarra e a experimentar na composição, ganhando ferramentas para aprofundar sua performance, crescer e se sentir seguro com sua música. Depois, criou a dupla Rat Related, ao lado de Leo Fazio, que conheceu na Argentina.

Encontro com o Brasil

Starly ainda não havia escrito músicas próprias, apesar de fazer parte de bandas e projetos musicais desde os 20 anos de idade. Sempre sentiu que tinha algo dentro de si esperando para ser liberado. Escreveu partes de músicas de outras pessoas e tinha dificuldades para encontrar a “janela” quando morava nos Estados Unidos, onde vê como um lugar isolado socialmente. “Até vir para o Brasil.” 

Quando chegou ao país, em agosto de 2024, seu companheiro, Leo Fazio — que também toca baixo em seu projeto —, começou a ensiná-lo a gravar com autonomia e o encorajou todos os dias. Nesses momentos, puderam experimentar juntos e inspirar um ao outro. “Estar em Juiz de Fora (onde mora atualmente) é uma experiência mágica, me sinto aceito e as pessoas realmente apreciam o que estou fazendo, mesmo quando é totalmente diferente do que está rolando musicalmente aqui.”

O artista tem tomado as ruas e os rolês da cidade. Quando chegou fez muitas amizades com os músicos que vivem aqui, pôde gravar músicas no estúdio musical Canil Records, acompanhou as gravações do novo disco da Baco Doente, criou ensaios fotográficos ao lado da artista Alice Ruffo, participou de apresentações do Coletivo Difluência e das rodas de choro e de samba que rolam em bares e casas de show. Também se juntou aos músicos da cena, como a flautista Luisa Gradiva, o baterista Max Souza, o pianista Matheus Vieira e o saxofonista Rafael Fortes. Nas experimentações, pôde incluir flauta, clarinete e a cuíca ao seu som mais pesado e alternativo. “Estou aprendendo pandeiro e participando das rodas de chorinho. Pude ver as rodas de samba, me juntar ao Encontro de Compositores, no Beco, e ver uma grande variedade de músicas no Maquinaria com meus amigos. Agora, estou muito animado para tocar com a Baco Doente e a Cheyenne Love no Maquinaria.”

Para o artista, morar no Brasil, viver a cena musical daqui e aprender português têm sido experiências mágicas, mas ao mesmo tempo difíceis, pelas diferenças culturais e da língua. “Me sinto mais livre para ser eu mesmo aqui, por conta do clima político e da cultura individualista e de isolamento do meu país. Espero poder mesclar as cenas e criar uma rede de músicos e artistas internacionais”, finaliza. 

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