Sem radar, aeroportos pequenos do Brasil usam app Flightradar para monitorar voos

Os controladores gerenciam o tráfego aéreo sem conhecer a posição exata das aeronaves. Foto: Reprodução/Arte g1

Em terminais de controle de tráfego aéreo com menos de 45 mil voos anuais, controladores têm recorrendo ao uso de ferramentas não oficiais, como o Flightradar, para orientar pilotos de aeronaves fora do alcance visual, especialmente em áreas onde radares não estão instalados.

O uso dessa ferramenta gerou polêmica, pois ela não é homologada pela Aeronáutica, colocando em risco a precisão das informações e a segurança do tráfego aéreo.

Segundo informações obtidas pelo g1, o site Flightradar, que monitora voos em tempo real por meio de uma rede de estações terrestres e satélites, tem sido utilizado por controladores como uma alternativa na falta de radares, especialmente em locais como Uberaba e Uberlândia (MG), onde o tráfego aéreo é intenso, mas não atende aos critérios exigidos para a instalação de radares.

Apesar de oferecer dados como origem, destino, altitude e velocidade das aeronaves, especialistas alertam que a ferramenta não é adequada para garantir a segurança do controle de tráfego aéreo, uma vez que não permite uma previsão precisa dos movimentos das aeronaves.

De acordo com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), a instalação de radares nos terminais de controle de aproximação está sujeita a critérios específicos, como o número mínimo de pousos e decolagens anuais.

No entanto, esses critérios são vistos por muitos controladores como inadequados e insuficientes para garantir a segurança, especialmente em áreas com grande fluxo de voos, como as mencionadas. Para que um terminal receba radar, é necessário que o tráfego na região tenha pelo menos 45 mil pousos e decolagens anuais, ou 60 mil, dependendo das condições.

Muitos terminais, como os de Uberaba e Uberlândia, não atingem essas metas, o que deixa os controladores sem a tecnologia essencial para monitorar o tráfego aéreo com precisão. A Aeronáutica, por meio de um memorando divulgado em fevereiro de 2023, proíbe explicitamente o uso de ferramentas como o Flightradar pelos profissionais do tráfego aéreo.

O documento destaca que qualquer sistema utilizado para fins operacionais deve ser validado e homologado pelo Decea. A utilização de plataformas não autorizadas coloca em risco a precisão dos dados e pode comprometer a segurança das operações.

A estatal NavBrasil divulgou um memorando interno proibindo o uso do Flightradar e de ferramentas similares.Foto: Reprodução

Controladores que participaram da reportagem relataram que, em situações de ausência de radar, o uso do Flightradar se tornou uma medida de emergência para garantir a segurança das aeronaves, uma vez que a comunicação via rádio com os pilotos nem sempre é confiável.

Em muitos casos, as informações de localização fornecidas pelos pilotos não são precisas, e os controladores têm que confiar em outras fontes, como o Flightradar, para monitorar o tráfego aéreo. No entanto, essa prática é considerada inadequada e arriscada, já que os dados não são oficiais nem precisos o suficiente para fornecer uma orientação segura em tempo real.

A sobrecarga de trabalho e os baixos salários enfrentados pelos controladores de tráfego aéreo também contribuem para a situação. Com a falta de radares em vários terminais, os profissionais têm de lidar com uma grande quantidade de voos, sem as ferramentas adequadas para garantir a segurança de todos.

A exigência de mais recursos para melhorar a situação é um ponto comum entre os especialistas em segurança de aviação. Kerley Oliveira, especialista em segurança de aviação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), enfatiza a importância de considerar as necessidades dos controladores ao tomar decisões sobre a instalação de radares.

Segundo ele, “a segurança é inegociável” e se os profissionais pedem a instalação de radares, isso deve ser levado em conta, já que essa medida pode melhorar significativamente a segurança operacional. Atualmente, 14 terminais de controle de aproximação no Brasil operam sem radar devido ao não cumprimento dos requisitos de tráfego aéreo.

Esses terminais estão localizados em diversas regiões, incluindo Bauru (SP), Ilhéus (BA), e Macapá (AP). Embora o Decea tenha criado critérios para a instalação de radares, a falta de uma avaliação mais flexível em termos de segurança tem gerado desafios operacionais.

A NAV Brasil, responsável pela gestão de vários desses terminais, afirmou que alguns terminais estão recebendo sistemas de repetição de vigilância, como uma alternativa ao radar, embora esses sistemas não ofereçam todas as funcionalidades de um radar completo.

Esses repetidores de vigilância são uma tentativa de melhorar a visualização das aeronaves para os controladores, mas ainda não garantem a mesma precisão e confiabilidade.

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