Vale a pena esperar? Declaração tardia do IR traz mais rentabilidade, mas há riscos

A recomendação clássica dos especialistas é clara: não deixe a declaração do Imposto de Renda para a última hora. Isso evita imprevistos técnicos, reduz o risco de erros e garante maior tranquilidade no processo. Ainda assim, todo ano, muitos contribuintes se perguntam se vale a pena entregar mais tarde para receber a restituição nos últimos lotes — e com um bônus: a correção pela taxa básica de juros (Selic), que está num ciclo de alta.

Isso acontece porque, após o fim do prazo de entrega da declaração, a Receita Federal corrige as restituições que ainda não foram pagas pela taxa Selic acumulada entre 30 de maio e a data do pagamento. Assim, a partir de 1º de junho, as restituições começam a ser corrigidas, acrescidas de mais 1% no mês do depósito. Quanto mais ela demorar para ser paga, maior será o acréscimo e o valor não sofrerá tributação. 

“Todo valor a mais é bem-vindo, ainda mais no caso da restituição do Imposto de Renda, pois o valor a restituir é atualizado diretamente pela Selic e não sofre incidência de imposto de renda sobre o rendimento”, afirma Daiane Alves, educadora financeira da Neon.

Ela calcula que, para uma restituição de R$ 2 mil, o ganho com a correção nos últimos lotes pode chegar a cerca de R$ 90 em quatro meses. “Se o contribuinte tiver condições financeiras para aguardar um prazo maior, vale a pena esperar, pois receberá mais e com rendimentos isentos.”

Mas para quem está com dívidas, antecipar a restituição pode ser muito mais vantajoso do que esperar alguns meses por uma correção. “Com o dinheiro em mãos, poderá negociar, complementar um valor que já tenha guardado e talvez até quitar o valor devido”, diz Daiane.

Receber nos últimos lotes ou investir a restituição?

De acordo com a Receita Federal, em 2024, o valor médio das restituições foi de R$ 1.482,00. Com base nessa informação, o InfoMoney simulou os valores considerando a fórmula da restituição do Imposto de Renda fornecida pelo Conselho Regional de Contabilidade do Maranhão (CRCMA). Veja abaixo:

Vale dizer que os cálculos consideraram os juros acumulados por mês da Selic, atualmente em 14,25% ao ano. No entanto, até o pagamento do último lote, em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reunirá em outras duas ocasiões, podendo alterar esse percentual. 

Ainda assim, Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, é do time dos que mantêm a recomendação de declarar o quanto antes, para ter a restituição em mãos o mais cedo possível. “Você terá o dinheiro para utilizar da forma que quiser, até com opções muito mais rentáveis que a própria correção da Selic.”

Ele traz como exemplo o Tesouro IPCA+2035, que está oferecendo IPCA+7,63% ao ano, enquanto o Tesouro Prefixado 2028 tem rentabilidade de 14,44% ao ano. “Títulos de renda fixa prefixados e atrelados à inflação podem oferecer retornos superiores”, explica.

Para quem deseja rentabilizar a restituição, pensando no curto e médio prazo, o planejador destaca também aplicações como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) atrelados ao CDI ou pré-fixados. Patzlaff ainda sugere considerar fundos multimercados e ETFs, ou até mesmo investimentos atrelados ao dólar, como formas de diversificação e proteção.

Quais os riscos de atrasar a entrega da declaração do IR?

A ordem de entrega influencia diretamente a data da restituição, por isso os contribuintes que entregam a declaração no início do prazo possuem maior probabilidade de serem contemplados nos primeiros lotes. Para Daniela Vlavianos, sócia do escritório Poli Advogados & Associados, tentar ser contemplado nos últimos lotes deve ser analisado com cautela. “Especialmente diante dos riscos jurídicos e administrativos envolvidos”, diz.

Segundo ela, do ponto de vista jurídico e administrativo, a entrega tardia pode resultar em uma série de complicações. “A perda do prazo configura infração sujeita a penalidade, com multa correspondente a 1% ao mês sobre o valor do imposto devido, respeitado o limite mínimo de R$ 165,74 e máximo de 20% do imposto devido.”

Junto a possíveis equívocos do próprio contribuinte, devido à pressa do preenchimento, o próprio sistema da Receita Federal pode ser outro empecilho. Luciano de Almeida Prado Neto, sócio do MBC Advogados, destaca que, perto do fim do prazo, o programa pode apresentar instabilidades e congestionamentos. 

“Deixar para declarar o IR no último momento nunca é recomendável. Isso pode ocasionar questionamentos da Receita, malha fina ou penalidades”, alerta.

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