Universidade francesa cria abrigo científico para talentos dos EUA e escancara fuga de cérebros

Fachada da Universidade de Aix-Marseille, na França. Foto: Reprodução

O governo Trump deu início a um desmonte agressivo da ciência nos Estados Unidos, com cortes profundos em áreas estratégicas como ciências da Terra, previsão do tempo, sistemas de alerta precoce e pesquisa médica, incluindo estudos sobre câncer. A NASA também sofreu impactos.

Bolsas acadêmicas foram suspensas ou revistas com base em listas de palavras proibidas, como “política” e “mulheres”, o que levou universidades a reduzirem vagas em programas de doutorado e medicina, congelar contratações e até cancelar ofertas de admissão.

Mais de 12.500 bolsistas americanos da Fulbright no exterior tiveram o financiamento cortado, assim como 7.400 acadêmicos estrangeiros que estavam nos EUA. Casos de detenção e recusa de entrada para cientistas estrangeiros se multiplicaram. Algumas universidades foram alvo direto do governo. A Universidade de Columbia perdeu US$ 400 milhões em financiamento, e a Johns Hopkins teve um corte de US$ 800 milhões, sendo forçada a demitir 2.000 funcionários.

A prisão de Mahmoud Khalil e o cancelamento de seu green card ampliaram o clima de medo. Para a professora Christina Pagel, os ataques seguem uma lógica: alinhar a ciência à ideologia do Estado, minar a independência acadêmica e manter estratégias geopolíticas.

Com esse cenário, a fuga de cérebros já está em curso. A Universidade de Aix-Marseille, na França, lançou o programa Safe Place for Science, com investimento de 15 milhões de euros para receber 15 cientistas americanos das áreas de clima, saúde e astrofísica. O programa recebeu 30 inscrições nas primeiras 24 horas e mais de 60 no total. A universidade afirmou que já discute com o governo francês e outras instituições formas de ampliar o programa para todo o país e para o nível europeu.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Nathan Posner/Anadolu/Getty Images

A proposta aproveita o espaço deixado pelos cortes nos EUA. Embora o governo americano tenha investido cerca de US$ 195 bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2024, mais da metade desse valor foi destinada à defesa.

A União Europeia, com um PIB comparável ao dos Estados Unidos, poderia investir uma fração disso — como 25 bilhões de euros anuais voltados apenas à pesquisa civil — e atrair esses profissionais. O valor representaria menos de 0,1% do PIB europeu e teria um impacto direto na reversão da política americana.

Mesmo com orçamento inferior ao dos EUA em P&D, a Europa já discute ampliar os investimentos. Um relatório recente da Comissão Europeia sugere dobrar os 95 bilhões de euros previstos no programa Horizon Europe, que cobre sete anos.

Os retornos desses investimentos são significativos: no período pós-guerra, os EUA tiveram retorno de 200% sobre aportes em pesquisa civil. A aposta, portanto, não é só política — é estratégica e econômica.

Além de atrair cientistas, o autor do texto sugere que a Europa vá além e incentive a instalação de campi de universidades americanas em solo europeu. Hoje, já existem 29 campi mantidos por instituições dos EUA na Europa, sem contar centros de pesquisa e programas de intercâmbio.

Muitas dessas universidades possuem grandes fundos patrimoniais e estão acostumadas a investir pesado em infraestrutura. Diante da repressão acadêmica nos EUA, a Europa pode se tornar o novo destino para essas instituições, oferecendo liberdade, financiamento e estabilidade.

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