O que Trump vai fazer em defesa do estorvo Bolsonaro? Nada. Por Edward Magro

A Primeira Turma do STF, composta por Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Luis Fux e Flávio Dino, tornou Bolsonaro réu por golpismo por 5 votos a 0. Reprodução

Notícia amplamente difundida pela mídia mundo afora, a decisão do STF que tornou Bolsonaro réu encontrou o silêncio absoluto do governo Trump.

Silêncio que soa como música refinada aos ouvidos da democracia brasileira e como pancadão — como um 7 a 1 — aos ouvidos do bolsonarismo-raiz.
Se fossem atentos, saberiam que esse silêncio não foi acidental, mas sim um gesto calculado, uma faca afiada que cortou sem fazer barulho.

Era só observar que ontem — data de início do julgamento de Bolsonaro e seu núcleo político mais próximo — o mesmo governo trumpista exaltou a segurança do sistema eleitoral brasileiro, puxando o tapete e chutando pra longe a mamadeira de piroca predileta de Bolsonaro.

A sincronia entre elogio e omissão não é mero acaso: é o sinal definitivo de que Bolsonaro foi descartado.

O bolsonarismo, outrora uma força política ruidosa e aparentemente inabalável, definha em meio a seus próprios fracassos. O fiasco de Copacabana, com suas fileiras rarefeitas, foi a confirmação pública de uma derrota que já se anunciava. Enquanto isso, a economia brasileira, contrariando as previsões catastróficas, cresce muito acima da média mundial, gera empregos, distribui renda e exibe um dinamismo que não se via há mais de uma década — cenário que provoca angústia na oposição, que enxerga 2026 como tábua de salvação.

Para o trumpismo, que opera fora do circuito afetivo da política brasileira e enxerga com clareza o bom momento econômico do país, ficou evidente: o tempo é curto, e o fardo Bolsonaro excessivamente pesado.

Donald Trump e Jair Bolsonaro em visita do brasileiro à Casa Branca em 2021. Foto: Jim Watson/AFP

Ao elogiar o sistema eleitoral brasileiro, Trump declarou com clareza que retirou seu apoio tácito ao ex-presidente; ao se silenciar hoje, enviou uma mensagem ao STF: não haverá resistência.
Livrou-se de Bolsonaro, abriu espaço para construir uma saída anti-lulista e, de quebra, se livrou da asquerosa língua do bananinha lambendo a sola do seu sapato.

Foi um movimento necessário, um recuo tático que evita conflitos desnecessários. No entanto, seria ingênuo interpretar esse silêncio como uma rendição ou, pior ainda, como uma aproximação ao governo Lula.

Lula é, hoje, um dos principais alvos do projeto trumpista. Presidente dos BRICS  voz influente na desdolarização do comércio global e figura central na resistência à onda autoritária que assola o mundo, ele personifica tudo o que o trumpismo mais teme. Trump não desistirá de combatê-lo. Apenas entendeu que, para isso, será necessário um novo instrumento.

Bolsonaro, com seu discurso alucinado e sua incapacidade de unir sequer seu próprio eleitorado, tornou-se um estorvo. Insistir no “bolsonarismo com Bolsonaro” é o caminho mais rápido para a derrota. A alternativa, então, é o “bolsonarismo sem Bolsonaro” — uma versão mais palatável, menos explosiva, que possa ser vendida como renovação para o público geral, mas sem abrir mão do curral, do núcleo duro do bolsonarismo.
Tarcísio de Freitas surge como a aposta imediata: um bolsonarista-raiz de origem militar e menos idiota que o chefe. Se se comportar, receberá a unção trumpista, e as big techs estadunidenses se encarregarão de impulsioná-lo — literalmente — via redes sociais; se se revelar inepto, como João Doria — que foi o sonho frustrado de um bolsonarismo “apresentável” —, será descartado sem hesitação e substituído por algum cantor sertanejo ou coach de YouTube.

O silêncio de Trump, portanto, não é um fim, mas um recomeço. O jogo segue, as peças estão em movimento e, para o fascismo-trumpista, Lula continua sendo o “cabra marcado pra morrer”.

Para sorte do Brasil, porém, o tempo trabalha contra Trump.

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