Argentina vive tensão por nova desvalorização da moeda causada por Milei

Moeda argentina segue em queda brusca durante governo Milei. Foto: reprodução

O governo de Javier Milei colocou a Argentina em mais uma instabilidade monetária. Nas últimas semanas, o dólar voltou a ocupar o centro das atenções no país, com a cotação no mercado paralelo (conhecido como “blue”) atingindo 1.300 pesos argentinos, um aumento superior a 3% apenas em março. Para conter a escalada, o Banco Central já precisou injetar US$ 1,3 bilhão em reservas.

O clima de tensão antes da desvalorização levou o presidente de extrema-direita a acusar adversários políticos de promoverem um “golpe institucional” por meio de protestos e movimentações financeiras.

“Não se trata somente de economia, aqui se mistura a política também. Houve uma tentativa de golpe institucional, político, na rua e nos mercados”, afirmou ele em entrevista ao jornalista Luis Majul, sem apresentar provas das alegações.

Nos bastidores do mercado financeiro e no cotidiano dos argentinos, a corrida silenciosa por dólares ganha força. Em grupos de WhatsApp e redes de contatos, ofertas a 1.270 pesos são absorvidas em questão de minutos. Bancos comerciais registram aumento na procura pela moeda estadunidense, com muitos correntistas convertendo aplicações em pesos para dólares, embora ainda não se caracterize uma corrida bancária em larga escala.

Milhares de argentinos foram às ruas contra Milei. Foto: Luis Robayo/AFP

O governo tenta acalmar os ânimos com a promessa de um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que prevê o desembolso de US$ 20 bilhões, parte de um pacote total de US$ 50 bilhões em financiamentos internacionais que inclui recursos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Enquanto isso, o Ministério da Economia mantém oficialmente a política de “crawling peg”, com desvalorização deliberada e supostamente controlada de 1% ao mês, mas o próprio ministro Luis Caputo admitiu a possibilidade de migrar para um sistema de flutuação cambial com limites ainda a serem definidos.

Analistas apresentam visões divergentes sobre os rumos da política cambial. Fernando Corvaro, da Pampa Capital, acredita numa transição ordenada: “Não espero um salto no câmbio, mas sim uma mudança de regime cambial”.

Já Amilcar Collante, da Profit Consultores, alerta para os riscos inflacionários: “Uma desvalorização, mesmo que de 4%, terá impacto nos preços”.

No dia a dia, os efeitos da instabilidade cambial já são visíveis. Como resultado de um mercado interno mais caro, o número de turistas indo a outros países disparou, com 1,9 milhão de viajantes em janeiro, aumento de 73% em relação ao mesmo período de 2023. Brasil (38,6%), Chile (20,2%) e Uruguai (16,3%) lideram como destinos preferenciais.

Relatos de diplomatas estrangeiros destacam que produtos básicos na Europa chegam a custar metade do preço praticado na Argentina.

No comércio exterior, exportadores retêm divisas à espera de melhores cotações, enquanto importadores aceleram pagamentos para evitar custos maiores. O governo promete eliminar o controle de capitais (“cepo cambial”) até o fim de 2024, mas condiciona o passo à solidez das reservas internacionais – hoje dependentes dos esperados financiamentos externos.

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