Maioria dos golpistas condenados pelo 8/1 é homem, branco, de baixa renda e com ensino médio

Supremo julga primeiros réus pelos atos golpistas de 8 de janeiro | Agência Brasil
Bolsonaristas no atos terroristas do 8/1. Foto: Joedson Alves/Agencia Brasil

Ao longo dos últimos dois meses, processos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) mostraram um perfil socioeconômico predominante entre os envolvidos nos atos terroristas do 8/1: a maioria é homem, branco, recebe até dois salários mínimos (R$ 3.036) por mês e tem, no máximo, o Ensino Médio completo.

Até o momento, o STF condenou 503 pessoas por participação nos atos, absolvendo apenas oito. Na semana passada, a Primeira Turma da Corte decidiu por unanimidade tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Walter Braga Netto e outros seis integrantes do governo anterior, sob acusação de envolvimento em uma trama golpista que teria resultado na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.

Perfil dos Acusados

Os dados, levantados pelo Globo, indicam que apenas 1,21% dos presos pelos atos tinham 65 anos ou mais na data dos ataques. A faixa etária predominante entre os manifestantes presentes na Praça dos Três Poderes era de 45 a 54 anos, representando 36,88% do total.

A análise das ações penais também mostra que a maior parte dos acusados (43,2%) atuava como profissional autônomo. Além disso, 18,7% declararam estar desempregados, enquanto 11,6% afirmaram possuir vínculo formal de trabalho pelo regime CLT. Já os aposentados correspondiam a 3,3% dos envolvidos.

Outro dado relevante do levantamento aponta que 41% dos presos informaram ter recebido o auxílio emergencial, benefício instituído durante o governo Bolsonaro para mitigar os impactos econômicos da pandemia de Covid-19.

A origem geográfica dos acusados também se destaca: a maior parte dos detidos veio das regiões Sul e Sudeste, sendo São Paulo (296 pessoas) e Minas Gerais (170) os estados com maior número de réus identificados.

Interpretações e Análises

Para a professora Débora Messenberg, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o perfil dos participantes da ação terrorista do 8/1 é semelhante ao identificado em pesquisas sobre o eleitorado de Bolsonaro.

“A precarização do trabalho é um dos pilares centrais para o avanço da direita radical no planeta, não só no Brasil. São pessoas que vivem em situação de instabilidade econômica, possuem algum nível de escolaridade e passaram por um processo de perda de status social. Esse cenário alimenta ressentimentos e favorece a adesão a discursos extremistas”, analisa.

A antropóloga Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita, reforça essa visão e aponta que o perfil dos presos sugere que Bolsonaro utilizou a pandemia como um catalisador para ampliar sua base de apoiadores.

“Durante a pandemia, houve uma forte disseminação de teorias da conspiração e desinformação, criando um ambiente propício para a radicalização de parte da população. Isso foi explorado politicamente e teve reflexos diretos na mobilização de grupos extremistas”, conclui Kalil.

Os Atos Terrorista do 8 de Janeiro

Em 8 de janeiro de 2023, milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais de 2022, os extremistas promoveram um ataque coordenado ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. A ação terrorista do 8/1 foi amplamente condenada por autoridades nacionais e internacionais, sendo considerada uma tentativa de subversão do regime democrático. Como resposta, o governo federal decretou intervenção na segurança pública do Distrito Federal, e centenas de envolvidos foram presos e processados.

Bolsonaristas radicais invadem o Congresso
Atos terroristas no 8/1. Foto: Reprodução
Adicionar aos favoritos o Link permanente.