Acesso de fundos de pensão a Fiagros pode “‘mudar o jogo” no segmento

Caminhão com cana em Sertãozinho 21/04/2007 REUTERS/Paulo Whitaker

Na última quinta-feira (27), o Conselho Monetário Nacional (CMN) mudou uma série de regras para as entidades fechadas de previdência complementar (EFPC). Uma das novidades é que a categoria que abrange os fundos de pensão agora pode investir em Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) e debêntures de infraestrutura. 

A resolução permite que parte dos R$ 1,3 trilhão atualmente geridos pelas entidades de previdência vá para projetos de infraestrutura e do agronegócio. O volume tem potencial de “mudar o jogo” nessas indústrias, segundo Fernando Mancini, diretor de estruturação da Bloxs. Ele classifica a decisão do CMN como positiva e “altamente significativa”. 

Os impactos, porém, não são imediatos, já que o órgão determinou que os projetos que podem receber recursos dos fundos devem obedecer a critérios de sustentabilidade econômica, ambiental, social e de governança dos investimentos. Os critérios ainda serão definidos e, embora, especialistas ouvidos pelo InfoMoney vejam o assunto como prioridade do governo, ainda não é possível prever quando a regulamentação estará completa. 

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Ganha-ganha 

Mancini define o acesso dos fundos de pensão às debêntures e Fiagros como “um clássico ganha-ganha para investidores institucionais e para o País”. 

As debêntures de infraestrutura foram regulamentadas pela lei 14.801/24, mas ainda não houve emissão desse tipo de ativo. Há, porém, alguns papéis em estruturação e a decisão do CMN pode estimular uma leva de emissões, segundo Júlia Garcia, analista de fundos da HMC Capital. 

Para os gestores, a novidade “oferece um potencial de diversificação frente à tradicional concentração em títulos públicos que até então não era possível”, explica Caio Ferreira Silva, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados. 

Os fundos também poderão acessar “ativos mais aderentes aos seus objetivos e perfil de investimento”, define Garcia. Para a especialista, os EFPCs têm um alinhamento “natural” com ativos de infraestrutura, já que os prazos mais longos e a frequente indexação ao IPCA atendem à necessidade de acompanhar os passivos previdenciários por muito tempo. 

Para o governo, a mudança significa mais poder de financiamento para impulsionar os projetos de infraestrutura. “Com o setor público respondendo por apenas cerca de 20% dos investimentos, fica evidente o papel central do capital privado”, diz Garcia. 

Silva ainda acrescenta que a entrada dos fundos de pensão nesses ativos é positiva para as empresas do agronegócio e de infraestrutura, já que poderão diminuir a dependência de recursos públicos e terão acesso a uma fonte estável de financiamento. “Os fundos de pensão, com seu perfil paciente e horizonte de décadas, são essenciais para investimentos que exigem maturação”. 

Como ficam os spreads? 

O crescimento da indústria de Fiagros vem sendo puxado pelos investidores de varejo. A entrada de um bolso trilionário nesse segmento “provavelmente elevará os preços das cotas no médio prazo, reduzindo um pouco as taxas de dividendos ou juros pagos para se adequarem a uma nova curva de oferta e demanda”, projeta Mancini. 

O CMN também estabeleceu um teto de alocação em Fiagros: a participação desses ativos não pode representar mais de 10% do patrimônio dos fundos. Mesmo assim, ainda há a possibilidade de um volume expressivo de dinheiro novo entrando no mercado, o que pode ter impacto “relevante” no agro, lembra Júlia Garcia. “As novas regras devem contribuir para consolidar os Fiagros como uma fonte relevante de financiamento privado para o agronegócio”, pontua a especialista. 

Os prêmios das debêntures na comparação com os títulos públicos (spreads) são um dos assuntos mais discutidos por gestores nos últimos meses. Isto porque a forte demanda pelos papéis enquanto a Selic está alta fez com que as taxas fossem cada vez mais amassadas, com empresas de grande porte pagando menos do que o Tesouro Direto. 

Agora, com os fundos entrando em um mercado que ainda não teve um pontapé inicial, a expectativa é por spreads amassados. “Quando há mais investidores disputando os mesmos papéis de renda fixa, é comum vermos uma compressão de spreads, isto é, os emissores conseguem pagar um prêmio menor acima dos benchmarks, dado que há mais liquidez e competição pelos ativos”, explica Mancini. 

Caio Ferreira Silva ainda pontua que a exposição dos fundos de pensão a Fiagros é debêntures de infraestrutura “tende a aumentar os riscos de crédito e de mercado dessas carteiras e comparação a títulos públicos, por exemplo, o que deve demandar governanças ainda mais robustas voltadas a geri-los de forma adequada”. 

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