Trump pode empurrar Brasil e Colômbia para órbita chinesa, alerta Celso Amorim

A política comercial agressiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ter um efeito colateral estratégico: afastar o Brasil e outras potências regionais da influência americana e aproximá-los ainda mais da China. A avaliação é do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, em entrevista publicada nesta terça-feira (1º) pelo jornal Valor Econômico.

De acordo com Amorim, a condução unilateral de Trump na política tarifária, somada ao atual enfraquecimento das instituições multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), abre caminho para um realinhamento geopolítico que favorece a China. “A maneira como Trump vem agindo na esfera comercial pode empurrar grandes países da região, como Brasil e Colômbia, para a esfera de influência da China”, afirmou.

Esse movimento ocorre em um momento em que Trump prepara um novo “tarifaço” contra produtos estrangeiros, esperado para ser anunciado nesta quarta-feira (2). O Brasil busca uma solução diplomática, mas, segundo Amorim, já se prepara para medidas de retaliação — desde que não representem um “tiro no pé” da própria economia.

Segundo o ex-chanceler, a crescente fragmentação do sistema internacional pode levar o mundo a uma divisão em três grandes polos de poder: Estados Unidos, China e Rússia. Ele alerta que essa reconfiguração pode resultar em esferas de influência fixas, com impacto direto sobre a autonomia dos países em desenvolvimento. “Esse é o risco que a gente corre. Por isso temos que trabalhar muito pela união da América Latina e a relação com a África”, afirmou.

Nesse cenário, Amorim defende que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ganha relevância estratégica, funcionando como um contrapeso à crescente bipolaridade entre Washington e Pequim. “É uma maneira de contrabalançar. A Europa está meio perdida também depois dos discursos do Trump e dos discursos do J.D. Vance [vice-presidente dos EUA] na conferência de Munique”, disse.

O assessor também reconheceu que, embora o segundo mandato de Trump represente riscos ao multilateralismo, o republicano tem adotado uma postura mais pragmática em relação a temas como a guerra na Ucrânia. Para Amorim, esse novo momento abre espaço para o Brasil atuar como mediador, ao lado da China, na busca por uma solução negociada para o conflito.

A aproximação com Pequim se intensifica com a próxima viagem oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, marcada para maio. Segundo Amorim, Lula discutirá investimentos em infraestrutura e cooperação financeira com Xi Jinping. No mesmo mês, o presidente também irá à Rússia para se encontrar com Vladimir Putin durante as comemorações dos 80 anos do Dia da Vitória.

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