China desafia EUA com exercício militar de grande porte nos arredores de Taiwan

A China realizou exercícios militares ao redor de Taiwan com o maior número de embarcações navais em quase um ano — uma ação que ocorre dias após os Estados Unidos prometerem conter a agressividade de Pequim na região.

O Exército de Libertação Popular iniciou as manobras nesta terça-feira (1) “a partir de múltiplas direções”, segundo o coronel sênior Shi Yi, em comunicado oficial. Os exercícios incluem treinamentos de “ataques contra alvos marítimos e terrestres” e de “bloqueio de áreas-chave e rotas marítimas, para testar as capacidades de operações conjuntas das tropas”. Segundo Shi, forças terrestres, navais, aéreas e de foguetes participaram.

O Ministério da Defesa de Taiwan informou ter detectado 19 navios chineses — o maior número desde as manobras conduzidas pela China após a posse do presidente taiwanês Lai Ching-te, em maio do ano passado. Em outro comunicado, o governo taiwanês também afirmou estar monitorando os movimentos do porta-aviões Shandong nos últimos dias.

Tensão com os EUA

Essas manobras colocam à prova a política externa em desenvolvimento do governo Trump, que tem se concentrado em conter as ambições de Pequim no Leste Asiático, ao mesmo tempo em que pressiona a Europa a investir mais em defesa para se proteger da Rússia. Em visitas recentes às Filipinas e ao Japão, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, prometeu sistemas de mísseis, tropas e outros recursos para conter a China. Hegseth também afirmou que os EUA forneceriam uma “dissuasão crível” no Indo-Pacífico, incluindo o Estreito de Taiwan.

Militares taiwaneses disparam um míssil Stinger de fabricação americana durante um exercício militar de fogo real no Condado de Pingtung. (Foto: I-Hwa Cheng/Bloomberg)

As declarações foram bem recebidas em Taipei, que observa com cautela o governo Trump questionar o apoio a Kiev, enquanto mantém uma aproximação diplomática com Moscou, invasora da Ucrânia. O presidente Donald Trump também causou preocupação ao sugerir que Taiwan deveria pagar aos EUA por sua proteção e acusar a ilha de “roubar” negócios americanos no setor de semicondutores.

As manobras ocorrem após o Washington Post noticiar um memorando secreto dos EUA que descreve como o Exército americano deve impedir um eventual ataque chinês a Taiwan. O documento, assinado por Hegseth, teria circulado no Pentágono, embora a Bloomberg News não tenha confirmado seu conteúdo.

Para Ja Ian Chong, professor associado de ciência política na Universidade Nacional de Singapura, diversos fatores podem ter motivado as manobras, mas o objetivo principal seria testar “até onde Pequim pode ir sem enfrentar grandes consequências”.

Segundo Chong, a meta da China é “enfraquecer a confiança na dissuasão dos EUA”, pressionando governos como o de Taiwan a ceder às exigências de Pequim.

Turbulência na China

Os exercícios ocorrem enquanto o maior exército do mundo em número de tropas enfrenta escândalos de corrupção. O Departamento de Defesa dos EUA declarou no fim do ano passado que as investigações podem dificultar as metas de modernização das Forças Armadas chinesas. Ao realizar repetidamente exercícios ao redor de Taiwan, Pequim busca demonstrar que suas tropas estão prontas para qualquer eventualidade, apesar da crise interna.

Desde a posse de Lai, a China já realizou ao menos seis rodadas de exercícios militares próximos à ilha. Pequim considera Taiwan — uma democracia com 23 milhões de habitantes — parte de seu território, que deve ser reintegrado, inclusive pela força, se necessário.

Impactos

A pressão chinesa incluiu também um ataque cibernético, conforme divulgado pelo Ministério da Defesa de Taiwan em um informe noturno, embora sem detalhar os alvos. Além disso, navios da Guarda Costeira chinesa foram avistados próximos a ilhas taiwanesas.

Pequim mantém forte oposição a Lai, que considera favorável à formalização da independência de Taiwan.

A China também reage negativamente às medidas adotadas por ele para conter a influência chinesa em instituições militares e governamentais da ilha.

O Escritório de Assuntos de Taiwan, em Pequim, declarou nesta terça-feira que a abordagem de Lai serve para “provocar a China de forma desenfreada”. “Jamais toleraremos isso e devemos contra-atacar e punir severamente”, afirmou o órgão em comunicado.

Apesar do contexto tenso, os mercados taiwaneses reagiram com relativa calma. O índice Taiex subiu 2,8%, recuperando-se da queda do dia anterior. O dólar taiwanês recuou para 33,195 em relação ao dólar americano.

Diferente de exercícios anteriores como os chamados Joint Sword A e B realizados no ano passado, a China evitou dar nome oficial às manobras mais recentes, possivelmente para normalizar a atividade e mostrar que não se trata de um evento extraordinário.

Jack Chen, diretor do grupo de defesa Formosa Defense Vision, afirmou que essa mudança visa reforçar a percepção de que a China está preparada para transitar de exercícios para combate real a qualquer momento.

Pela primeira vez, o Exército chinês transmitiu ao vivo as manobras em redes sociais, com apresentação de um âncora comentando os exercícios, trilha sonora marcial e imagens que aparentavam mostrar a ilha de Kinmen, um posto avançado de Taiwan próximo à costa chinesa.

©2025 Bloomberg L.P.

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