Transformação do prédio da Câmara em escola foi só propaganda política

Segundo o presidente da Câmara, obra está com 51,65% de conclusão – Foto: NB Notícias

Nesta terça-feira, 1º de abril, conhecido como o Dia da Mentira, começamos o dia com uma história contada durante o pleito eleitoral de 2024 e que não vai acontecer. No período das eleições, o prefeito Diogo Siqueira e o então vereador Anderson Zanella (PP), usaram a obra do prédio da Câmara de Vereadores como palanque eleitoral, dizendo que ela seria transformada em uma linda e moderna escola infantil. Pois o discurso político, não se tornará realidade. Tomado por um constrangimento, poucas vezes visto, o presidente do Legislativo anunciou nesta segunda-feira, 31 de março, que a obra da nova Câmara vai continuar e que o projeto da escola infantil não vai sair do papel.

Em declaração oficial, Anderson Zanella admitiu que havia se posicionado contra o projeto no passado, mas argumentou que, diante do estágio atual da construção e das implicações legais, optou por sua continuidade. Segundo ele, o prédio está 51,65% concluído, com investimento já realizado de R$ 7.542.277,77, além de R$ 1.447.770,70 pagos em aditivos contratuais. O valor total empenhado até março de 2025 é de R$ 8.989.755,55, e o custo final da obra deve ultrapassar os R$ 16.798.114,14 já contabilizados.

Além disso, o presidente do Legislativo já adiantou que serão necessários mais gastos de dinheiro público após a obra ser concluída. De acordo com Zanella, vários itens não previstos no contrato inicial precisarão ser incorporados por meio de novas licitações ou aditamentos. Entre eles estão a colocação de um completo sistema de ar-condicionado, fechamento externo, calçamento e iluminação, construção de uma subestação de energia elétrica, todo o mobiliário da nova Casa do Povo, além da geração de energia.

Obra pública irá ultrapassar facilmente aos R$ 20 milhões com tudo o que é preciso fazer

 

O presidente do Legislativo explicou que o projeto foi licitado em 2022 com a finalidade de abrigar a nova Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves, e que qualquer alteração no objeto contratual poderia configurar improbidade administrativa. “A licitação foi feita para um fim específico. Se quisermos transformar aquilo em outro equipamento público, como uma escola, precisaríamos refazer tudo. Seria mais caro e inviável tecnicamente“, disse Zanella. Segundo ele, construir uma escola com a estrutura já existente custaria até o dobro do valor necessário para erguer uma unidade do zero.

A decisão, segundo o presidente, foi tomada em conjunto pela mesa diretora da Câmara e os demais vereadores. De qualquer forma, a continuação da obra frustra todas as expectativas geradas em 2024, quando a proposta de transformar o prédio em uma escola pública municipal foi amplamente divulgada como alternativa mais socialmente útil.

Com previsão inicial de conclusão para o mês de novembro, a obra da nova sede da Câmara Municipal de Bento Gonçalves seguirá adiante, consumindo recursos públicos em um momento em que parte da população esperava por investimentos em áreas como educação e infraestrutura escolar. A promessa de transformar o prédio em uma escola infantil de grande porte, que animou o debate eleitoral, fica restrita à retórica de campanha — como tantas outras que não resistem ao primeiro obstáculo da gestão pública.

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