Senador discursa contra Trump por mais de 20 horas e revolta a extrema-direita

Senador Cory Booker discursando por mais de 20 horas no Senado americano. Foto: Reprodução

Na noite de segunda-feira (31), o senador democrata Cory Booker iniciou um discurso inflamado contra as “ações inconstitucionais” do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Já se passaram mais de 20 horas e ele, na tarde de terça-feira (1º), ainda não concluiu sua fala, em um ato que chamou a atenção do Congresso e da opinião pública.

Para manter seu direito à fala contínua, Booker, de 55 anos, não pôde sequer sair para ir ao banheiro desde o início de seu pronunciamento. Embora sua maratona oratória não impeça os republicanos, que são maioria no Senado, de prosseguirem com votações, ela representa um marco na resistência democrata, que vinha adotando uma postura mais discreta frente ao governo Trump.

Seu discurso, apesar de não estar vinculado diretamente à obstrução de uma votação legislativa, foi tão longo que bloqueou a fala dos aliados de Trump no Senado. Essa foi a primeira vez, durante a administração de Trump, em que os democratas utilizaram essa estratégia para desafiar as políticas presidenciais.

“Levanto-me esta noite porque sinceramente acredito que nosso país está em crise”, declarou Booker no início de sua fala, com a voz carregada de emoção. “Estes não são tempos normais nos Estados Unidos”, reforçou, apontando para o que considera ser um ataque sistemático à democracia americana.

Pré-candidato presidencial pelo Partido Democrata em 2020, o senador começou sua fala pouco depois das 19h locais (20h em Brasília) da segunda-feira (31). Durante toda a madrugada e manhã seguinte, criticou veementemente as políticas de austeridade promovidas por Trump, citando como os cortes orçamentários têm impactado setores essenciais do país. Ele mencionou, por exemplo, como o bilionário Elon Musk, voz ativa do governo Trump, estaria instrumentalizando a redução de programas governamentais sem a devida aprovação do Congresso.

Cory Booker acusou Trump de enfraquecer a democracia americana ao centralizar cada vez mais poder. “Americanos de todas as origens passam por dificuldades desnecessárias”, afirmou, denunciando ataques imprudentes às instituições do país. Ele argumentou que, em apenas 71 dias, Trump causou danos significativos à segurança nacional, à estabilidade econômica e às bases democráticas dos Estados Unidos.

Diante da posição minoritária dos democratas tanto no Senado quanto na Câmara dos Representantes, o longo discurso de Booker surge como um esforço para barrar as tentativas republicanas de reduzir o tamanho do governo, intensificar deportações de imigrantes e desmontar políticas públicas consolidadas.

“Este não é um momento partidário, é um momento moral”, enfatizou Booker. “Não é uma questão de esquerda ou direita, mas de certo e errado.” Ele também questionou a lógica republicana por trás dos cortes de US$ 800 bilhões no Medicaid, programa que garante assistência médica a milhões de cidadãos de baixa renda, enquanto os mais ricos se beneficiariam de reduções tributárias.

Durante as longas horas de discurso, Booker recebeu apoio de outros senadores democratas. Raphael Warnock, um dos parlamentares presentes, expressou seu reconhecimento: “Só quero te agradecer por manter a vigília por este país a noite toda.” Para manter a atenção do plenário, Booker intercalou sua fala com referências a poesia, esportes e até respondeu a questionamentos de seus colegas.

O discurso de Booker já é, até o momento, o quinto mais longo da história do Senado dos EUA feito por um só parlamentar. Em eventos similares, senadores se revezaram para prolongar debates e bloquear votações.

A marca individual mais extensa pertence a Strom Thurmond, que, em 1957, falou por 24 horas e 18 minutos contra a Lei dos Direitos Civis. Em seguida, aparecem Alfonse D’Amato, que discursou por pouco mais de 23 horas em 1986; Wayne Morse, que obstruiu um projeto por 22 horas e 26 minutos em 1953; e Ted Cruz, que, em 2013, ocupou o Senado por 21 horas e 19 minutos em protesto contra o Affordable Care Act, conhecido como Obamacare.

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