Lula tenta reativar liderança na América Latina na Celac, em meio à pressão de Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa nesta quarta-feira (10), em Honduras, da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), com a missão de reconstruir pontes na região e reposicionar o Brasil como liderança diplomática diante da crescente influência dos Estados Unidos sob Donald Trump.

Embora não cite diretamente o presidente americano, Lula pretende apresentar uma análise do cenário geopolítico e propor uma agenda de integração regional — em resposta à fragmentação política da América Latina e às novas tensões comerciais com Washington.

Na semana passada, o petista afirmou que o Brasil “não bate continência” para nenhuma bandeira e prometeu tomar “as medidas cabíveis” contra as tarifas americanas, que afetam setores estratégicos da economia nacional.

Diplomacia e ambições globais

Entre os principais movimentos do Brasil na Celac, está a articulação do nome de uma mulher latino-americana para disputar a Secretaria-Geral da ONU em 2026 — cargo que não é ocupado por alguém da região há mais de 30 anos. A proposta será apresentada como símbolo de uma América Latina mais atuante no cenário internacional.

Outro foco do governo brasileiro é a busca por maior equilíbrio ideológico na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), diante do avanço de nomes conservadores próximos ao bolsonarismo, o que preocupa o Itamaraty.

Além disso, o Brasil vai defender o fortalecimento da Aliança Global contra a Fome e propor uma coalizão entre países amazônicos para ampliar o peso da América Latina na COP30, que será sediada no Pará em 2025.

Resistência interna e impasse com Milei

Apesar do esforço de Lula para posicionar o Brasil como um articulador regional, a Celac enfrenta entraves que ameaçam a unidade do bloco. O principal obstáculo é o governo argentino de Javier Milei, que tem adotado uma postura de alinhamento irrestrito aos Estados Unidos e atua, segundo diplomatas, como bloqueador sistemático de consensos dentro da Celac.

A presença ou não do presidente venezuelano Nicolás Maduro também é considerada um ponto sensível. A eventual participação de Maduro pode polarizar o encontro, mas sua exclusão poderia gerar desconfortos em outros governos aliados, limitando o campo de manobra diplomático do Brasil.

Com um cenário regional cada vez mais fragmentado e disputas ideológicas acirradas, o encontro em Honduras será mais um teste à capacidade de Lula de exercer liderança diplomática em uma América Latina marcada por interesses conflitantes e crescentes pressões externas.

Tarifas e tensões comerciais com Trump

A reunião da Celac ocorre em meio ao agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos. Na última semana, o Congresso Nacional aprovou a Lei da Reciprocidade, que autoriza o governo brasileiro a retaliar países que adotem barreiras comerciais contra produtos nacionais — uma resposta direta às tarifas de Trump sobre aço e alumínio.

O vice-presidente Geraldo Alckmin e setores do Itamaraty, no entanto, tentam conter os ânimos e defendem o diálogo como caminho preferencial. Nesta semana, representantes do governo brasileiro se reúnem com autoridades americanas para buscar uma solução negociada.

The post Lula tenta reativar liderança na América Latina na Celac, em meio à pressão de Trump appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.