
Por Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay
“O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.”
Nelson Rodrigues
Na época da ditadura, os generais golpistas se reuniram para escolher qual seria o Presidente que ocuparia o cargo de ditador chefe. Já haviam ocupado o posto de Presidente da ditadura militar o Marechal Castelo Branco, de 1964 a 1967, o Marechal Costa e Silva, de 1967 a 1969, o General Médici, de 1969 a 1974, e estavam escolhendo o próximo. Reza a lenda que um deles teria dito: “Vamos agora escolher um general honesto”.
E aí veio a resposta: “Honesto não tem, serve um Ernesto?”. Assim, tomou posse como 29º Presidente do Brasil o general Ernesto Geisel. À época, era assim a escolha. Não havia necessidade de pesquisar a popularidade ou a aceitação popular.
Hoje, nós vivemos uma democracia, ainda em consolidação, mas uma democracia na qual as eleições são livres e a escolha popular se faz com a periodicidade constitucional. O sistema eleitoral brasileiro é absolutamente seguro e moderno. As urnas eletrônicas são um orgulho nacional e o cidadão deposita nas urnas não só o seu voto, mas a confiança de um povo que quer viver em um Estado democrático de direito.
É interessante observar os debates que são travados nas mídias sociais e no noticiário político a mais de um ano das próximas eleições presidenciais. Como temos hoje programas de política que, além de serem diários, ficam no ar 24 horas por dia, ininterruptamente, o que se vê é um festival de chutômetro e de ilações que, muitas vezes, se aproximam de um programa de humor.
As pesquisas eleitorais movimentam o imaginário de quem não tem paciência de ler um romance, uma poesia, uma obra literária, enfim. Nessa linha de prestigiar uma pesquisa que, para mim, não tem quase nenhum valor, somos alvos das discussões acaloradas sobre o nada. Com a pompa dos comentaristas que têm a triste missão de analisar as pesquisas mais estranhas e desimportantes.
Nesta semana, foi dado grande destaque a uma pesquisa que cravou que 62% dos brasileiros não querem que o Lula seja candidato. Ao mesmo tempo, outra pesquisa, da mesma empresa, apontou que Lula teria a maior resistência e desaprovação neste terceiro mandato.
Os jornalistas se esmeram em destruir a imagem do governo Lula e, especialmente, do próprio Presidente. Aí, no mesmo dia, à noite, outra pesquisa surpreende: Lula ganharia de todos os possíveis candidatos em 2026!
Ou seja, aparentemente há uma contradição enorme, que não parece preocupar quem está comentando durante horas ao vivo. Dos sete candidatos apontados como adversários do Presidente Lula nas eleições de 2026, o atual governante ganha de todos: Bolsonaro, Tarcísio, Eduardo Bolsonaro, Caiado, Zema, Ratinho, Marçal e Michelle.

Interessante que insistem em fazer pesquisa com o nome do Bolsonaro, que está inelegível e que, quase certamente, estará preso quando das eleições no próximo ano. Mas as pesquisas ocupam, durante horas, o noticiário nacional.
Na realidade, quando as eleições se aproximarem, muito provavelmente, viveremos uma outra realidade. Em um sistema presidencial, é quase impossível o Presidente da República perder uma reeleição. Até hoje, só o Bolsonaro conseguiu. E Bolsonaro é um desastre sob todos os pontos de vista. Um ser escatológico. Conseguiu perder para ele próprio cometendo uma enormidade de erros grosseiros.
Claro que ele tinha contra si, além da própria ignorância, um candidato que, quando quer, sabe ser um político que entende como ninguém o povo brasileiro. Agora, quem tem a máquina do governo é o atual Presidente Lula, que será reeleito.
Enquanto isso, a extrema direita se movimenta com todo direito. Na última manifestação a favor do Bolsonaro, em São Paulo, tinham 7 governadores no palanque. A integralidade deles, a toda evidência, torcem para o Bolsonaro ser condenado, preso e para que perca os direitos políticos. Só estavam na manifestação pensando no eleitorado bolsonarista. Querem herdar o espólio da extrema direita.
Para tanto, não pode ocorrer a anistia, senão o próprio Bolsonaro será o candidato. A agressividade nos discursos, especialmente do Malafaia, que atacou de maneira vil o Supremo Tribunal, demonstra que Bolsonaro já desistiu da defesa técnica. Partiu para a defesa política, tensionando para talvez conseguir uma prisão preventiva e, com esse fato novo, tentar mudar o jogo.
É o famoso desespero. É claro que nós já vimos muitos palanques heterogêneos e falsos. Mas o do Bolsonaro pela anistia destilava veneno, traição e hipocrisia. Triste e merecido fim desses golpistas. E ainda não terminou.
Lembrando Antônio Gramsci: “Existem dois tipos de políticos: os que lutam pela consolidação da distância entre governantes e governados e os que lutam pela separação dessa distância”.
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