
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta segunda-feira (15) que “ninguém tem o direito de decidir nada sozinho”, ao ser pressionado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para pautar o pedido de urgência do projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
A declaração, feita por meio de uma publicação nas redes sociais, é interpretada como uma sinalização de que o tema não será pautado de imediato, mesmo após o PL protocolar o requerimento com 262 assinaturas — cinco a mais do que o mínimo necessário.

Gleisi critica apoio de deputados da base governista ao PL da Anistia: “Absurdo”
Ministra classificou como “absurda” e “grave afronta à democracia” a adesão de parlamentares aliados ao projeto que anistia os envolvidos nos atos de 8/1

“Elite brasileira deveria ter vergonha”, diz Lula sobre investimento em educação
Presidente disse em evento de inauguração no RJ que “foi preciso um torneiro mecânico” assumir cadeira para investir em universidades
“Democracia é discutir com o Colégio de Líderes as pautas que devem avançar. Em uma democracia, ninguém tem o direito de decidir nada sozinho. É preciso também ter responsabilidade com o cargo que ocupamos, pensando no que cada pauta significa para as instituições e para toda a população brasileira”, escreveu Motta no X (antigo Twitter).
Clima desfavorável
Apesar da coleta expressiva de assinaturas, a votação da urgência ainda depende de Motta, que não é obrigado a incluir o tema na pauta. Atualmente, há mais de 1.000 requerimentos semelhantes parados na Câmara, alguns deles desde 2010.
O projeto tem gerado tensão entre o PL e parlamentares do Centrão, que ocupam cargos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dos 262 signatários do requerimento, 146 pertencem a partidos que têm ministérios na Esplanada.
Na semana passada, o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), levou o tema à reunião de líderes da Casa, mas não houve consenso para discutir o texto. Integrantes do Centrão consideraram que “não há clima político” para debater a anistia neste momento e apontaram resistência do PT e da base governista.
Ausência
Hugo Motta está fora do país em período de férias e deve retornar apenas no domingo de Páscoa. Nesta semana, a condução dos trabalhos da Câmara cabe ao vice-presidente Altineu Côrtes (PL-RJ) ou ao deputado Hildo Rocha (MDB-MA). Ambos, no entanto, têm evitado qualquer movimento que possa acirrar ainda mais o embate entre governo e oposição.
Mudança de estratégia
Diante da falta de apoio das lideranças para pautar o projeto no Colégio de Líderes, Sóstenes optou por reunir assinaturas individuais, uma estratégia que irritou líderes do Centrão e da centro-direita, que classificaram a iniciativa como um “blefe”, já que o parlamentar afirmava ter apoio consolidado sem realmente tê-lo.
Mesmo que a urgência seja aprovada na Câmara, o projeto ainda precisa passar pelo Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já sinalizou que a anistia não está entre as prioridades do momento. Sem o aval de Alcolumbre, é improvável que Motta consiga levar o tema adiante, segundo interlocutores.
Enquanto isso, o foco na Câmara permanece direcionado a pautas de impacto econômico e popular, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a discussão sobre a lei de reciprocidade nas tarifas internacionais.
The post Pressionado por anistia, Hugo Motta afirma que decisão não é individual e adia pauta appeared first on InfoMoney.