
As tensões geopolíticas e a expectativa de uma desaceleração nos Estados Unidos, devido aos embates do presidente americano Donald Trump com a China, estão fazendo com que investidores comecem a reavaliar suas estratégias globais — e a América Latina pode voltar ao radar, especialmente Brasil e Chile.
Essa é a leitura decorrente de um encontro realizado pelo JPMorgan, na sexta-feira (11), com sua equipe de estratégia de ações para a região, que reuniu participantes locais e estrangeiros para discutir as possibilidades de alocação neste ano.
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Durante o webinar foram coletadas opiniões que ajudam a entender o humor do mercado em relação aos principais países latino-americanos. A maioria dos entrevistados, segundo relatório do banco, diz que ainda aposta que os Estados Unidos devem continuar entregando melhores retornos do que a zona do euro e os mercados emergentes, embora a visão interna do banco para essas regiões seja mais equilibrada.
O JPMorgan cortou recentemente sua projeção para o índice S&P 500 para 5.200 pontos, e parte da equipe vê espaço para um movimento de rotação nas carteiras, com foco maior em ativos europeus e asiáticos. Um dos principais gatilhos para essa mudança seria o enfraquecimento do dólar, algo que 61% dos participantes da pesquisa também veem como provável. A avaliação da área de câmbio do banco é que a moeda americana deve perder força frente ao euro e ao iene, pressionada por questões fiscais internas, risco de recessão e os efeitos de políticas comerciais mais agressivas.
Entre os motivos estão a volatilidade gerada por tarifas comerciais, a possibilidade de recessão nos EUA e a inflação doméstica, que tende a pressionar os rendimentos reais e enfraquecer a moeda. Os analista também mencionam o volume de ativos norte-americanos nas mãos de estrangeiros, o que pode gerar movimento de hedge ou realocação global com efeitos sobre o dólar.
Esse ambiente mais volátil, conforme os estrategistas, reacendeu o interesse por países latino-americanos que vinham sendo preteridos por investidores globais. Na pesquisa feita com os participantes do webinar, Brasil e Chile surgiram como os destinos com maior potencial de valorização até o fim deste ano. A exposição do JPMorgan para o Brasil foi elevada em março (para overweight, ou exposição acima da média), em parte pela atratividade de mercados mais voláteis quando há reacomodação dos fluxos globais.
Fatores internos também contam. A equipe de macroeconomia do banco passou a prever um último aumento na taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, marcada para setembro, seguido de cortes a partir de novembro. A expectativa é que a atividade econômica recue nos próximos meses, abrindo espaço para o início da flexibilização monetária. Entre os investidores ouvidos, a maioria concorda com essa projeção.

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No campo político, a percepção de que haverá troca de comando no Planalto em 2026 foi majoritária — uma leitura que o banco considera relevante para a dinâmica do mercado doméstico. A confiança no desempenho da bolsa brasileira também apareceu com força: 82% dos investidores acreditam que o Ibovespa deve encerrar este ano em alta.
Como investidores enxergam Chile, México e Argentina
No Chile, o otimismo vem de duas frentes. A primeira é a queda do preço do petróleo, já que o país depende fortemente da importação do combustível. A segunda é o bom momento do cobre, principal item da pauta exportadora chilena. As eleições marcadas para novembro foram mencionadas por analistas e participantes como um fator que ainda não entrou no radar do mercado, com potencial para mexer com os preços dos ativos. Para 92% dos entrevistados, o efeito do pleito presidencial ainda não foi precificado.
O México, por outro lado, ficou de fora das apostas mais otimistas. Nenhum dos participantes do webinar citou o país como favorito para boa performance em 2024, e o banco compartilha da mesma leitura desde março, quando rebaixou sua recomendação. O risco de novas tarifas comerciais impostas pelos EUA preocupa, assim como os sinais de desaceleração macroeconômica.
Já a Argentina continua dividindo opiniões. Apenas 16% dos investidores acreditam que o país pode se destacar neste ano, e não houve consenso sobre se os preços deprimidos dos ativos representam um ponto de entrada. Ainda assim, o JPMorgan mantém uma visão construtiva, amparada pelo novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o afrouxamento de controles cambiais.
Segundo a equipe econômica do banco, o país pode atingir inflação de um dígito até 2026, e o crescimento pode abrir caminho para a volta da Argentina ao índice MSCI (Michigan Consumer Sentiment Index) de emergentes em 2027, um indicador que mede o desempenho do mercado de empresas de grande e médio porte com presença global e em países desenvolvidos.
Quando a conversa se volta para setores, os investidores demonstram mais cautela. As apostas se concentram em ações ligadas ao mercado interno, como bancos e elétricas. Já papéis de consumo e commodities aparecem com mais frequência entre as sugestões de venda. A leitura do JPMorgan é que a incerteza no comércio global deve manter os preços de petróleo, minério de ferro e metais básicos sob pressão. O cobre é uma exceção, com chance de valorização moderada, o que favoreceria Chile e Peru.
O consumo interno, especialmente em países como o Brasil, também não empolga. A combinação entre desaceleração econômica e lucros mais fracos, segundo relatório do JPMorgan, tende a comprimir os resultados de empresas do setor — e o entusiasmo dos investidores com esse grupo de ações já dá sinais de esgotamento.
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