
A revista britânica The Economist, tradicionalmente associada a um pensamento liberal-conservador e frequentemente porta-voz de posições do mercado financeiro global, publicou nesta quarta-feira (16) uma crítica contundente ao Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, com foco especial na atuação do ministro Alexandre de Moraes.
No texto, a publicação afirma que o magistrado estaria concentrando “poder excessivo”, em decisões que, segundo a revista, deveriam ser tomadas por autoridades eleitas ou colegiadamente.
A crítica se insere em um contexto no qual a The Economist tem adotado um tom cada vez mais sintonizado com vozes conservadoras internacionais, inclusive em temas que dizem respeito à liberdade de expressão, limites do Judiciário e atuação de plataformas digitais — pautas também recorrentes entre apoiadores de Jair Bolsonaro.
No artigo, a revista argumenta que o Supremo brasileiro tem acumulado funções além das previstas para um tribunal constitucional, decidindo temas que, em outros países, estariam sob a alçada de instâncias políticas. A Economist afirma que, para evitar uma “crise de confiança”, o STF deveria exercer “moderação”.
O texto também critica a prática de decisões monocráticas, comuns no Judiciário brasileiro devido ao acúmulo de processos, e defende que casos relevantes — como o julgamento do ex-presidente Bolsonaro — deveriam ser analisados pelo plenário da Corte. A justificativa da revista é que a atual composição da Primeira Turma, que conduz o julgamento, inclui ministros que já ocuparam cargos no governo do presidente Lula, o que poderia comprometer a “imagem de imparcialidade”.

Chama atenção o fato de a The Economist destacar que as decisões de Moraes “têm como alvo predominantemente atores de direita”, sugerindo viés político nas ações do ministro. Essa leitura, no entanto, ignora o contexto de ameaças reais à democracia brasileira, que culminaram, entre outros eventos, na tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, amplamente organizada por setores ligados à extrema direita — justamente o campo político que a revista agora parece defender, ainda que sob o pretexto de equilíbrio institucional.
Entre os exemplos citados pela publicação está o embate entre Moraes e o empresário Elon Musk, dono da plataforma X (ex-Twitter), que desafiou ordens judiciais brasileiras. A The Economist apresenta Moraes como uma figura que concentra poderes “surpreendentemente amplos”, sem reconhecer que suas decisões se deram dentro de um cenário de desinformação massiva, ataques às instituições e risco à ordem democrática.
Por fim, a revista sugere que, após o julgamento de Bolsonaro, o Congresso assuma a tarefa de “policiar a liberdade de expressão online” sob responsabilidade de Moraes — uma formulação que, na prática, relativiza os riscos do discurso de ódio e da propagação de fake news em nome de uma visão absolutista da liberdade de expressão.
A crítica da The Economist, ainda que traga pontos legítimos sobre o excesso de decisões individuais no STF, revela, sobretudo, uma sintonia com a narrativa de grupos conservadores brasileiros e estrangeiros que têm visto na atuação firme do Judiciário um obstáculo à normalização de discursos autoritários e antidemocráticos.
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