Lula cobrou diretores da Abin e da PF após denúncia de espionagem, segundo jornal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião com integrantes do governo (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exigiu explicações em uma reunião tensa com os diretores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, após revelações de que a Abin teria realizado uma operação de espionagem contra autoridades paraguaias.

A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo e surge após reportagens do UOL revelarem que a ação teria incluído o hackeamento de membros do alto escalão do país vizinho.

O encontro, descrito como conflituoso por fontes do governo, foi interpretado como uma espécie de acareação entre os dois chefes das forças de segurança, que possuem posições divergentes sobre o caso. Também participou da reunião o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a quem a Abin é formalmente subordinada.

A operação teria ocorrido no contexto das negociações bilaterais sobre a divisão dos lucros da Usina de Itaipu. Embora o governo Lula tenha divulgado uma nota oficial atribuindo a espionagem à gestão de Jair Bolsonaro (PL), investigadores da PF sustentam que as atividades continuaram nos primeiros meses do atual mandato, com conhecimento e suposta autorização de Corrêa, que já havia sido indicado para o comando da Abin.

Segundo relatos, Rodrigues apresentou ao presidente Lula evidências de que Alessandro Moretti, ex-número dois da Abin, teria autorizado a continuidade da ação — com o aval de Corrêa. Os dados constam do depoimento de um servidor da própria Abin, prestado à PF no inquérito que investiga o suposto uso político da agência durante o governo anterior. A investigação, que tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal, também apura o vazamento da operação à imprensa.

Disputa interna e desgaste institucional

A reunião evidenciou a disputa interna entre a PF e a Abin dentro do governo. Corrêa e Rodrigues são considerados rivais, com atritos recorrentes desde o início da atual gestão. O principal foco da discórdia é a apuração da chamada “Abin paralela”, um esquema de espionagem interna que operaria à margem das diretrizes institucionais da agência.

Fontes ligadas à PF acusam Corrêa de tentar dificultar o avanço das investigações. Por outro lado, aliados do chefe da Abin afirmam que a apuração conduzida por Rodrigues teria motivações políticas.

Na nota oficial publicada pelo Itamaraty, o governo Lula tentou isentar a atual gestão da continuidade da espionagem, afirmando que a operação havia sido desautorizada em março de 2023, pouco após Moretti assumir o posto interinamente. A nota também destacou que Corrêa só assumiu oficialmente a Abin após a aprovação do Senado, mesmo tendo sido indicado por Lula antes da suposta continuidade da operação.

Durante a reunião, no entanto, Rodrigues teria contestado os termos da nota, argumentando que as informações foram fornecidas pela própria Abin e não refletem a realidade dos fatos apurados até o momento.

Impacto diplomático e riscos ao governo

O episódio ocorre em um momento sensível para as relações diplomáticas do Brasil no Mercosul. O Paraguai é um parceiro estratégico na integração energética e comercial com o Brasil, especialmente no contexto da binacional Itaipu. Se os indícios de espionagem em território estrangeiro forem confirmados, o país poderá enfrentar retaliações diplomáticas e um novo desgaste internacional.

Internamente, o caso agrava a tensão dentro do governo e aumenta a pressão sobre Lula para reorganizar o comando das áreas de inteligência e segurança. Dependendo dos desdobramentos, o Planalto poderá ser obrigado a revisar nomes-chave em áreas estratégicas do governo — ou correr o risco de perder o controle sobre disputas internas que colocam em xeque a credibilidade institucional do Estado brasileiro.

The post Lula cobrou diretores da Abin e da PF após denúncia de espionagem, segundo jornal appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.