
Quando moço participei de grupos de jovens da Igreja católica, na Paróquia de Nossa Senhora da Cabeça, no Bairro São Dimas, e depois na Igreja do Bairu, Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Momento pessoal de transição da adolescência para a fase adulta, momento de fazer faculdade. Meu curso escolhido foi o de Serviço Social da UFJF. Hoje mais velho, acredito que essa minha ligação com o movimento cristão católico, mesmo sem ter muita noção, faltando um pouco mais de profundidade, interferiu, com certeza, na definição da minha futura profissão de assistente social.
Devo dizer a vocês também, caros leitores e leitoras, que fiz teste vocacional na sala de Formação Humana e Cristã no Colégio Academia de Comércio. E tive o encaminhamento para optar por cursos da área de humanas. Entre Psicologia e Letras, defini pelo Serviço Social. Já nesse curso pude perceber claramente a sua relação com a Igreja Católica. Temos no pioneirismo da profissão uma ligação orgânica com a tradição religiosa/católica.
Tive aulas com professoras irmãs de caridade e com padres professores. Por sinal foram excelentes professoras e professores. Como esquecer, como não reverenciar e agradecer profundamente a contribuição do padre Jaime Snoek na criação da nossa Faculdade em Juiz de Fora? Da Irmã Altiva, nossa diretora? Da Irmã Maria Helena? Irmã Jovita, da cantina, que fazia uns bolinhos deliciosos de espinafre. Esqueci o nome de uma outra irmã, que atuava na secretaria.
Apresento esse breve histórico, essa trajetória da minha formação profissional para compartilhar com vocês, que a minha busca pela espiritualidade vem desce cedo. E, hoje, aos 63 anos de idade, com mais de 30 anos dedicados ao trabalho social com parte da população idosa da cidade, tenho em mim a importância do cultivo ao exercício da fé na transcendência humana. Eu acredito na utopia de que fala Eduardo Galeano (escritor uruguaio).
Para mim acompanhar os ritos de uma religião é muito importante. Particularmente, eu gosto de participar de uma missa. Sou paroquiano da Igreja da Glória. Rezar em grupo com muita gente reunida traz muita energia positiva para a transformação do nosso mundo íntimo e do nosso mundo exterior, esse mundo que está atravessado de guerras e injustiças históricas, esse mundo que está acabando com o nosso planeta, com a nossa permissão ou com a nossa omissão.
A vivência da espiritualidade ancorada ou não na prática religiosa é fundamental na construção de um mundo novo. Por mais clichê que possa parecer essa afirmação. Sem dúvida alguma: precisamos de um mundo de justiça e de valor e reconhecimento às pessoas idosas. Espiritualidade é vida. Poderia ser o título dessa coluna. Neste domingo em que celebramos a Páscoa, a nossa passagem para uma vida nova, de um ambiente sem vida, desgastado e ressecado de generosidade para um ambiente vivo e diferente, estamos diante de uma oportunidade riquíssima para nascermos de novo, para estabelecermos novas relações, apresentarmos novos sentimentos e novos afetos ao mundo.
Pode parecer pequeno e não ter importância, mas a mudança que realizarmos em nós, atinge o grande público, como uma pequena onda que se espraia pelo mar afora. Eu envelheço carecendo cada vez mais de ter a necessidade de encostar o contato com a minha espiritualidade, sem ter nada de místico nisso, apenas perseguir o desejo e o compromisso de ser o que sempre desejei ser. E se tem um momento da vida da gente que favorece a busca por si (pode ser em qualquer idade), não tenho dúvida nenhuma de afirmar, é o momento da nossa maturidade: o movimento de olhar para dentro de nós, do que se passa na alma da gente. Coragem!
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