
O agricultor Ronilson de Jesus Santos foi morto a tiros na última sexta-feira (18), no quintal de sua casa, no município de Anapu, no sudoeste do Pará. O crime está sendo investigado pela Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) de Altamira, município vizinho.
A morte ocorre poucos dias antes do lançamento do relatório anual “Conflitos no Campo Brasil”, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), previsto para 23 de abril. Ronilson deixou esposa e oito filhos.
Em nota, a Contraf Brasil (Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil) repudiou o assassinato e prestou solidariedade à família.
A entidade declarou que “tem o compromisso de denunciar esse crime bárbaro” e que tomará providências para exigir investigação rigorosa e punição dos responsáveis. O ministro Paulo Teixeira se manifestou, anunciando que está tomando providências para que o crime não fique impune.
Ronilson Santos também atuava na gestão do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola Jatobá – um dos assentamentos criados pela missionária Dorothy Stang no Pará. Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos de idade, em 2005.
Segundo o G1, da Globo, Santos “era uma das principais lideranças locais ligadas à luta pela reforma agrária na região”. Outros sites repercutiram essa informação.
De acordo com Roberto Porro, pesquisador da Embrapa e mestre em Conservação e Desenvolvimento pelo Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade da Flórida (1997), a história é outra.
Agrônomo de formação e doutor em Antropologia Cultural pela Universidade da Flórida (2002), Porro trabalhou durante anos no PDS Virola-Jatobá e denunciou a invasão de grileiros e madeireiros na área.
Em mensagem de WhatsApp para amigos, ele escreveu o seguinte: “Ontem vocês devem ter se deparado com uma notícia amplamente divulgada sobre mais uma morte em Anapu, aqui no Pará. Assassinatos são sempre deploráveis. Mas é incrível como os fatos são distorcidos”.
“O sujeito que morreu está sendo descrito como líder da reforma agrária, líder de posseiros, seguidor de Dorothy Stang etc etc. Mas não era nada disso. Pelo contrário. Entrou ilegalmente no assentamento (PDS Virola Jatobá) e fez de tudo para acabar com ele”, prossegue.
“Agenciou venda de terras em área de reserva legal, impediu que o manejo florestal comunitário fosse adiante, não era reconhecido como ocupante pelo Incra, tinha inclusive processo de retomada do lote, era réu por crimes cometidos. E apesar disso, conseguiu enganar o Sintraf [Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar], a imprensa embarcou, e até o MDA faz declarações de solidariedade a alguém que buscando benefício próprio fez tudo para tumultuar as ações de reforma agrária. Frustrante e revoltante como operam essas redes de influência”.