Brasil quer que países apresentem metas de emissões mais rígidas antes da COP30

O Brasil, anfitrião da cúpula climática da Organização das Nações Unidas deste ano, tem como objetivo persuadir Europa, China e outras economias em desenvolvimento a se comprometerem a reduzir as emissões de gases de efeito estufa o suficiente para manter o aquecimento global bem abaixo de 2 graus Celsius, disseram à Reuters três pessoas com conhecimento dos planos.

O objetivo foi apresentado claramente nesta quarta-feira (23), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, reuniram 17 líderes de grandes economias e pequenas ilhas em uma reunião online fechada para falar sobre compromissos mais fortes para as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de 2035.

O encontro é parte de uma ofensiva diplomática do Brasil para chegar a COP30, em novembro, com NDCs fortes o suficiente para que o Acordo de Paris, de manter o aquecimento global em até 1,5 grau, seja cumprido – com os compromissos atuais, o aquecimento está em 2,6 graus.

“A intenção dessa reunião foi justamente fazer um apelo para que esses países apresentem suas NDCs, pois a maioria está atrasada, e o objetivo é que sejam ambiciosos”, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, após o encerramento da conferência.

De acordo com os diplomatas brasileiros envolvidos nas negociações, a intenção do Brasil era fazer com que as maiores economias fossem ambiciosas, especialmente a China e a União Europeia — ambas ainda não apresentaram suas NDCs. Durante a conferência, a China prometeu não diminuir o ritmo de seus compromissos, disse Guterres a jornalistas em Nova York.

“A China não apenas anunciou que produziria sua NDC, mas o presidente Xi disse que ela abrangeria todos os setores econômicos e todos os gases de efeito estufa. É a primeira vez que a China esclarece esse ponto, e isso é extremamente importante para a ação climática”, disse Guterres.

De acordo com a agência de notícias oficial chinesa Xinhua, Xi prometeu entregar as novas NDCs da China até a COP30, em novembro.

“Quanto mais turbulenta e caótica for a situação internacional, mais solidamente devemos defender o sistema internacional com as Nações Unidas em seu coração”, disse Xi.

O embaixador brasileiro e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, esteve na semana passada em Pequim, onde discutiu as promessas nacionais com autoridades chinesas.

Ele disse que alinhar as NDCs com o Acordo de Paris não é uma meta estritamente brasileira, porque cada nação estabelece sua própria meta, mas o Brasil está incentivando os países a chegarem lá.

“Não estamos onde Paris recomendou”, acrescentou. “Esperamos que os números se aproximem.”

A cúpula climática global deste ano, COP30 que será realizada na cidade de Belém em novembro, marca o 10º aniversário do Acordo de Paris, quando os signatários concordaram em limitar o aquecimento a bem menos de 2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.

Até agora, porém, os países só se comprometeram a limitar o aquecimento a cerca de 2,6 graus Celsius, um nível catastrófico que, segundo os cientistas, poderia levar ao colapso de vários sistemas naturais dos quais os seres humanos dependem.

“Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos. Guerras, corridas armamentistas e cortes na ajuda ao desenvolvimento e no financiamento climático nos empurram para trás. O planeta já está farto de promessas não cumpridas”, disse Lula na sua fala de abertura do encontro.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou seu país, a maior economia do mundo, do Acordo de Paris, o que pode tornar difícil fechar a lacuna. Diplomatas brasileiros esperam que isso seja possível com um compromisso mais ambicioso da China, o maior poluidor do mundo, bem como de outras economias emergentes e da Europa.

Os negociadores brasileiros estão trabalhando com autoridades da ONU para incentivar os países a apresentarem as novas NDCs, até setembro, no que vem sendo chamado de “diplomacia das NDCs”. A pressão tenta reverter o atraso dos países, já que apenas cerca de 10% já apresentaram seus números – o Brasil foi o primeiro, ainda na COP de Baku, em 2024.

“Em princípio, Belém entrará para a história como a COP com NDCs abaixo de 1,5 ou 2 graus”, disse uma das fontes, que pediu anonimato para discutir dinâmicas diplomáticas sensíveis.

Dada a importância da China para as negociações sobre o clima global, o Brasil está dando mais ênfase ao tema como presidente este ano do Brics, que inclui a China e outras grandes economias em desenvolvimento.

Lula deve se encontrar pessoalmente com o presidente da China, Xi Jinping, pelo menos duas vezes antes do prazo final de setembro para novas promessas, inclusive em uma reunião de junho dos líderes do Brics no Brasil.

A China não deu indicações de que planeja aumentar sua meta, e sua economia tem mostrado sinais de enfraquecimento devido a uma guerra comercial punitiva com os EUA.

“As preocupações econômicas que estão limitando a NDC da China ainda existem, se não estiverem exacerbadas pelas tarifas de Trump”, disse Yao Zhe, consultora de políticas globais do Greenpeace em Pequim.

O Ministério das Relações Exteriores da China não comentou especificamente sobre os planos do país para sua meta de emissões.

“A governança climática está atualmente enfrentando ventos contrários. Somente com o fortalecimento do multilateralismo e da cooperação internacional é que poderemos tratar efetivamente das questões globais”, afirmou porta-voz do ministério em um comunicado.

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