
Lisboa viveu um dia de tensão neste 25 de Abril, feriado que marca os 50 anos da Revolução dos Cravos, quando grupos de extrema-direita desafiaram a proibição da Câmara Municipal de Lisboa e tentaram realizar uma concentração na Praça Martim Moniz, no centro da capital. Vídeos de confrontos entre movimentos neonazistas, policiais e grupos antifascistas viralizaram nas redes sociais.
O evento, organizado pelo partido nacionalista Ergue-te e pelo movimento neonazi Grupo 1143, foi proibido pela Polícia de Segurança Pública (PSP) devido ao risco de confrontos, mas os manifestantes decidiram prosseguir, levando a choques com a polícia e com grupos antifascistas que se mobilizaram em resposta.
A PSP havia emitido um parecer negativo contra a manifestação, argumentando que ela colocava em risco a “ordem e tranquilidade públicas”, especialmente por acontecer no mesmo horário e local onde ocorreria o tradicional desfile do 25 de Abril na Avenida da Liberdade, a poucos metros dali.
Punhada forte no Martim Moniz pic.twitter.com/ZUXpaGFYnz
— Alberto (@CAlbertto) April 25, 2025
A Câmara de Lisboa seguiu a recomendação e proibiu o ato, mas os organizadores, incluindo o ex-juiz Rui Fonseca e Castro (líder do Ergue-te) e Mário Machado (do Grupo 1143), anunciaram que iriam mesmo assim.
O protesto foi divulgado como uma celebração de “diversidade e inclusão”, mas a presença de grupos abertamente neonazistas e o histórico de violência de seus líderes levantaram suspeitas sobre suas reais intenções.
A proposta de um churrasco de “porco no espeto” no Martim Moniz, local simbolicamente associado à diversidade cultural de Lisboa, foi vista como uma provocação por movimentos antifascistas e pela comunidade local. O simbolismo do porco está associado ao apelido de “porca”, atribuído às pessoas LGBTQIAPN+ em Portugal.
Rui Fonseca e Castro na manifestação no Martim Moniz
É esta a liberdade que existe no nosso país.
Viva a democracia.
Uma vergonha! pic.twitter.com/7gW6I93Nly
— Cláudia Teixeira (@claudiaaict) April 25, 2025
A resposta antifascista e os confrontos
Assim que ficou claro que a extrema-direita tentaria se manifestar, centenas de antifascistas se reuniram no Martim Moniz para impedir o avanço dos grupos de ultradireita. Gritos de “Fascistas não passarão!” e “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!” ecoaram pela praça, enquanto a PSP tentava manter os dois lados separados.
Os confrontos começaram quando pequenos grupos de extremistas de direita tentaram furar o bloqueio policial e foram repelidos tanto pelos agentes quanto pelos manifestantes antifascistas.
Houve arremesso de garrafas e objetos, e a polícia precisou usar gás pimenta para conter os distúrbios. Um repórter da CNN Portugal foi atingido acidentalmente pelo spray, mesmo estando claramente identificado como imprensa.
Extremistas presos
O ex-juiz Rui Fonseca e Castro foi detido após se recusar a dispersar quando ordenado pela PSP. Ele foi algemado e levado para a esquadra, acusado de desobediência. Pouco depois, Mário Machado, líder do Grupo 1143 e condenado por crimes de incitação ao ódio no passado, também foi preso. Sua detenção foi celebrada com aplausos e cantos antifascistas.
Enquanto isso, o desfile oficial do 25 de Abril seguia na Avenida da Liberdade, com milhares de pessoas celebrando os 50 anos do fim da ditadura em Portugal.

O debate sobre liberdade de manifestação
O partido Ergue-te tentou justificar o protesto alegando que se tratava de um ato de campanha eleitoral e, portanto, protegido pela lei. No entanto, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) negou ter recebido qualquer pedido de autorização e lembrou que a decisão sobre eventos públicos cabe às autoridades de segurança.
A PSP reiterou que a proibição foi baseada no Decreto-Lei n.º 406/74, que permite vetar manifestações quando há risco à ordem pública. “Não se trata de censura, mas de prevenir violência”, explicou um porta-voz da polícia.
Para os antifascistas, a mobilização no Martim Moniz foi uma vitória. “Mostramos que não vamos tolerar o avanço do fascismo em nosso país”, disse uma manifestante à imprensa. Já os organizadores do protesto proibido acusaram o governo e a polícia de censura, prometendo continuar suas mobilizações.
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