Como Papa Pio XII “explodiu” durante velório após técnica mal-sucedida de conservação

Com a morte do papa Francisco em 21 de abril, os tradicionais ritos funerários do Vaticano voltaram a ocupar o centro das atenções mundiais. Marcadas por simbolismo e solenidade, essas cerimônias incluem a exposição pública do corpo do pontífice por vários dias na Basílica de São Pedro, permitindo que fiéis prestem suas últimas homenagens. A conservação adequada do cadáver é essencial nesse processo — embora nem sempre tenha sido bem executada.

Um dos casos mais emblemáticos e constrangedores da história recente da Igreja Católica ocorreu em 1958, com a morte do papa Pio XII, também conhecido como “papa Pacelli”. A tentativa de preservar seu corpo com um método experimental resultou em rápida decomposição, mau cheiro intenso e até uma explosão dentro do caixão durante o cortejo.

Papa Pio XII em estado de velório, 1958. (Foto por David Lees/Corbis/VCG via Getty Images)

Fim constrangedor

Pio XII faleceu em 1958, na residência de verão papal em Castel Gandolfo, após uma parada cardíaca. Ao seu lado estava o oftalmologista Riccardo Galeazzi-Lisi, que ocupava o cargo de médico oficial do Vaticano, o “arquiatra pontifício”. Galeazzi-Lisi era uma figura controversa, envolvida em polêmicas. Dias antes da morte de Pio XII, ele vendeu fotos do pontífice hospitalizado à revista francesa Paris Match, gesto que chocou o Vaticano.

O verdadeiro desastre, porém, ocorreu após a morte. Ignorando métodos tradicionais de conservação, Galeazzi-Lisi convenceu o papa a adotar um procedimento alternativo chamado “osmose aromática”, supostamente inspirado em práticas dos primeiros cristãos. A técnica consistia em aplicar óleos, ervas e resinas diretamente sobre o corpo, envolto em celofane.

Colapso

Na primeira madrugada após a morte, o resultado foi desastroso. O calor do outono italiano acelerou o acúmulo de gases da putrefação, causando inchaço visível no corpo. Guardas da corte papal desmaiavam devido ao mau cheiro, e os turnos de vigilância foram reduzidos para evitar que alguém permanecesse por muito tempo próximo ao cadáver.

O ápice do desastre ocorreu durante o traslado do corpo até a Basílica de São Pedro: uma explosão dentro do caixão, causada pela pressão dos gases, assustou os ocupantes do veículo funerário. Durante uma parada emergencial na Arquibasílica de São João de Latrão, reparos foram feitos às pressas, enquanto o forte odor de decomposição dominava o ambiente.

Rosto desfigurado

Ao chegar ao Vaticano, o corpo apresentava sinais graves de decomposição: pele escurecida, septo nasal colapsado e músculos faciais retraídos, expondo os dentes em um “sorriso macabro”, como descreveu o historiador Antonio Margheriti. Uma equipe de tanatopraxistas foi chamada para intervir emergencialmente. O corpo foi reembalsamado e uma máscara de cera e látex foi aplicada no rosto do pontífice. Apesar dos esforços, o aspecto inchado do cadáver permaneceu visível durante os nove dias de luto.

Expulsão do Vaticano

O escândalo teve consequências graves para Galeazzi-Lisi. Embora não tenha sido formalmente responsabilizado pela decomposição, ele foi expulso do Vaticano pelos cardeais antes mesmo do conclave que elegeu João XXIII. Seu método nunca mais foi utilizado em funerais papais. Galeazzi-Lisi faleceu em 1968.

Em contraste, o funeral de João XXIII foi considerado um exemplo de conservação bem-sucedida. O corpo foi embalsamado pelo professor Gennaro Goglia, utilizando uma solução de formaldeído aplicada pelas artérias, garantindo a preservação durante toda a exposição pública.

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