
O Brasil se consolida como o terceiro país no ranking mundial de população pet. São 167 milhões de animais presentes nos lares brasileiros, e a tendência é que esse número aumente, conforme dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). Para o coordenador da Comissão de Animais de Companhia (Comac), Leonardo Brandão, o cenário se justifica pela mudança comportamental da população: o relacionamento entre pessoas e animais vêm se intensificando ao longo do tempo.
Dados do Sindan apontam, também, que 33% dos cães e 59% dos gatos presentes nos lares brasileiros foram adotados. Os felinos, por liderarem a estatística sobre adoção, estão cotados para serem os “pets do futuro”. Segundo Leonardo, isso é uma possibilidade, pois exigem menores custos mensais.
Em Juiz de Fora, a adesão à adoção de pets já é uma realidade. De acordo com a Secretaria do Bem-Estar Animal (Sebeal), cerca de 170 animais foram adotados somente este ano, sendo 78 gatos e 93 cães. No total, 450 animais foram resgatados pelo Canil Municipal desde a criação da pasta, em janeiro deste ano.
A adoção significa uma transformação na vida de pets e tutores, conforme os relatos ouvidos pela Tribuna. Companhia, afeto, acolhimento às diferenças, superação de traumas e muito amor são algumas das lições compartilhadas nessas experiências.

Conheça Lyla e Mirabel
Foi durante as feiras de adoção promovidas pelo Canil Municipal de Juiz de Fora, em 2015 e 2022, que duas cadelinhas vira-latas fisgaram o olhar e o carinho de Cibele Sales, 31 anos.
Ela, que sempre teve uma paixão muito grande por cães, sentiu falta de ter a companhia de um animal de estimação depois que perdeu a cachorrinha Bibi, em 2015. Em dezembro daquele ano, soube da feira e se interessou. “Sempre tive um problema quanto a tratar um animal como objeto de compra”, afirma, explicando o interesse em adotar.
Inicialmente, a família de Cibele, com quem ela morava, não apoiou a decisão. No entanto, após a compreensão sobre as condições da feira, o assunto foi repensado. “Os animais já chegam prontos para serem adotados, com todas as vacinas e cuidados necessários em dia.”
Ao comparecer ao evento, Cibele se apaixonou por uma cachorrinha e a adotou. “A Lyla chamou minha atenção desde o primeiro momento. Achei ela linda e muito meiga”, relembra. “Quando ela chegou em casa, passamos por uma fase desafiadora de adaptação. Ela não é uma cachorra pequena, precisa de bastante espaço. O começo foi difícil, mas depois de um mês ela já estava totalmente adaptada a nossa rotina. É uma fase que exige muita paciência, mas que passa.”
Hoje, Lyla tem dez anos. Em 2022, ganhou a companhia de Mirabel, que foi adotada com um ano, quando Cibele e o noivo Victor foram morar juntos. “Fomos na feira de adoção e a primeira coisa que vimos foi a Mimi pulando, com suas três patinhas, em uma moça que trabalhava no evento. Ela pedia colo e carinho, e logo nos afeiçoamos.”
Cibele relembra que quando os organizadores perceberam o interesse do casal, incentivaram a adoção. “Não são muitas pessoas que consideram adotar um bichinho com deficiência. A maioria, por medo de como seria a adaptação.” Ela relata que também teve essa ressalva, pois a casa onde morava tinha uma escada caracol. Mas essa acabou se revelando um situação muito mais simples do que o casal esperava: Mirabel subia e descia com facilidade os degraus.
A principal dificuldade, segundo a tutora, foi a adaptação de Mirabel no quesito confiança. “Ela é bem reativa por já ter vivido alguns traumas. Como perdeu a pata em um atropelamento, ainda tem medo de carro, fica muito incomodada com barulhos.”
Cibele conta que Lyla também precisou de um tempo para se adaptar com a presença da Mirabel, mas logo as duas se acostumaram uma com a outra e, hoje, passam o dia juntas, em clima de fraternidade

O encanto da Lua
O contato de Isis Freitas, 22 anos, com os animais teve início na infância: quando ela tinha 4 anos, a gata Shigwa foi adotada. A chegada da cachorrinha Lua, uma filhote da raça American Bully, aconteceu em 2019, momento em que a gata Maggie já era parte da família, e abriu o caminho para que, mais tarde, outros quatro cachorros se tornassem parte do lar, até então, dominado por felinos.
A chegada de Lua à família de Isis foi incentivada pela veterinária Helga. Após o nascimento da ninhada de sua pet, a especialista notou algo diferente em uma das filhotes, que não reagia a qualquer tipo de barulho. Helga concluiu que Lua tinha deficiência total de audição e, devido à confiança nos tutores de Shigwa e Maggie, pediu a eles que adotassem a cachorrinha.
Isis conta que o pai Rodrigo ficou empolgado com a ideia e, antes mesmo de saber se iriam ficar com o animal, pesquisou sobre como adestrar uma cachorrinha surda. Quando decidiram adotá-la, ele colocou seus novos conhecimentos em prática. “Ele ensinou ela a sentar, a dar a patinha. Ela conquistou todo mundo, e é a preferida do meu pai; ele mata e morre por ela”, brinca. Atualmente, a família tem cinco cachorros e uma gata, todos adotados.
Requisitos para adoção
No processo de adoção, não é só o bichinho que precisa estar apto para ganhar uma nova família. O tutor também deve estar preparado para prover um novo lar e segurança ao pet.
A veterinária Roberta Krepp dos Santos explica destaca o que é necessário para ser um potencial adotante. “È preciso já ter alcançado a maioridade, realizar uma entrevista eliminatória e se apresentar no Canil Municipal, no período de segunda a sexta-feira, de 9h às 10h30 ou 13h30 à 15h30, ou nos eventos de adoção realizados no Parque Halfeld de 15 em 15 dias.”
O interessado deve apresentar Carteira de Identidade Nacional (RG), Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), além de coleira e guia no caso de adoção de cães e caixa de transporte no caso dos felinos.
Para a adoção, também é realizada uma entrevista eliminatória. De acordo com Roberta, trata-se de uma inspeção na residência do interessado a fim de verificar se o ambiente está apto para receber o animal, além de atestar se o possível tutor tem consciência dos gastos e cuidados que o bichinho precisa.
A profissional destaca que, no caso de animais de grande porte, como os cavalos, a adoção não pode ocorrer para fins de trabalho.
Adaptação à nova vida
De acordo com Roberta, todos os animais adotados têm um período de adaptação de 15 dias, ficando assim o Canil Municipal de Juiz de Fora responsável por tirar dúvidas e cuidar da saúde do pet.
Caso ele não se adapte ao novo ambiente ou apresente alguma questão clínica, o Canil o recebe novamente a fim de tratá-lo, ou, se for o caso, encontrar um novo lar.
A veterinária ressalta que, quando os animais deixam o Canil, já estão vermifugados e vacinados, e todas as orientações necessárias são passadas por um profissional, disponível também para tirar dúvidas e acalmar as inseguranças que os tutores possam ter em relação a esta nova fase de responsabilidades e muito cuidado.
Algumas das recomendações passadas podem parecer simples, mas fazem toda a diferença na criação e na saúde do bichinho. Segundo a veterinária, ter paciência, criar um ‘cantinho de segurança’ com cama, água, comida e, no caso dos gatos, caixa de areia, respeitar o tempo do pet, criar uma rotina e introduzir aos poucos os familiares ao convívio do animal são fatores essenciais para que ele se sinta seguro e contente com a sua nova vida.
*estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli
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