“Conclave é politicagem, será longo e novo papa deve ser africano”, diz Frei Betto ao DCM

Frei Betto compartilhou suas expectativas para o Conclave em entrevista ao DCM. Foto: Divulgação

O frade dominicano, escritor, jornalista e ativista social brasileiro Frei Betto falou ao DCM e revelou suas apostas para o Conclave que vai eleger o sucessor do Papa Francisco.

Os bastidores do Conclave
Análise sobre a dinâmica e os desafios da escolha do novo Papa.

Para nós, que estamos do lado de fora do Conclave, é muito difícil fazer uma observação certeira; o que dá para fazer são especulações. Por exemplo, na eleição de Bergoglio, os cardeais que estavam lá já sabiam que ele entrava com todas as chances, por uma razão muito simples: quando foi eleito o Bento XVI, ele foi o segundo mais votado. Então, já entrou com muitas possibilidades de ser eleito, como foi.

O que prevejo é baseado em contatos que tive com jornalistas vaticanistas e em confidências que me contou um cardeal já falecido, que participou de dois conclaves e que, aliás, com exceção do final do filme “Conclave”, relatava exatamente o que o filme retrata: a politicagem, tudo. Ou seja, o diretor e o roteirista tiveram as mesmas informações que eu tive.

Mais uma vez, teremos os cardeais dos EUA tentando emplacar seus pares, porém a rejeição aos cardeais norte-americanos é muito grande, por serem os mais ricos e mais arrogantes. Não será um Papa oriundo da Europa Ocidental que não seja italiano, pois recentemente tivemos um polonês e um alemão. Também não será alguém do continente americano, já que tivemos agora o Papa Francisco.

Haverá um grande empenho para que seja um cardeal africano, por duas razões. Uma delas é que a África é o continente em que o catolicismo mais se expande nos últimos anos e, também, porque desde o século V não há um Papa africano. Antes disso, tivemos três, sendo o último o Papa Gelásio.

Os candidatos mais fortes do Conclave
Principais nomes cotados para suceder o Papa Francisco.

Acontece que a maioria dos cardeais africanos é de tendência conservadora, com exceção do cardeal Turkson, de Gana, que pode surpreender e ser eleito, se realmente os cardeais decidirem homenagear a África.

O cardeal Tagle também tem muitas possibilidades, por ser muito experiente e asiático. O que pesa contra ele é a idade. Depois de 26 anos de papado de João Paulo II, a Igreja se cansou de pontificados muito longos.

Portanto, a Igreja não quer nem um Papa muito jovem, nem muito idoso, apostando em um papado de duração média, como foi o de Francisco — seus doze anos — de bom tamanho. Isso reforça minha suposição de que vão apostar em um cardeal que tenha mais de 70 anos, e Tagle tem 65.

Acredito que a preferência favorece muito os italianos, a volta do papado às mãos dos italianos. Eles não se conformam de terem perdido, e, além disso, há cinco cardeais italianos criados por Francisco que se alinham muito à linha pastoral dele: o cardeal Zuppi, arcebispo de Bolonha; o cardeal Betori, de Florença; o cardeal Montenegro, da Sicília; o cardeal Lojudice, de Montalcino; e o cardeal Mauro Gambetti, que é o vigário-geral do Vaticano.

Se eu participasse dessas bolsas de apostas que estão bombando, apostaria no cardeal Zuppi, de Bolonha, até porque ele é o presidente da Conferência Episcopal da Itália.

Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, está entre os principais candidatos ao conclave. Foto: Divulgação

Novo Papa deve ser progressista
O futuro da Igreja depende de uma liderança aberta ao diálogo e à inclusão.

Realmente, se tivermos a eleição de um Papa conservador, será um retrocesso e um maior esvaziamento da Igreja Católica. Essa burrice pode, sim, acontecer, mas, se o bom senso conduzir o Conclave, teremos um Papa poliglota, de bons relacionamentos diplomáticos, com qualificação para ser um chefe de Estado de alcance global.

Francisco, sem dúvida nenhuma, era o chefe de Estado mais respeitado do mundo, que transitava em qualquer parte do planeta, recebido com muito respeito e grande apelo junto ao povo. Promover retrocessos pode criar um racha na Igreja, e essa é uma preocupação entre os cardeais.

Recentemente, a Igreja passou a acolher, com muita democracia, as várias tendências — como nós, progressistas, identificados com a Teologia da Libertação — até os mais conservadores e fundamentalistas, sempre sob a autoridade do mesmo Papa.

Prevejo também um Conclave um pouco mais longo, o que é sinal de que as coisas lá estarão difíceis para se chegar a um consenso — lembrando que, hoje, passando de três dias, já se considera um Conclave mais longo.

Na Igreja Católica só estão o patrão e a patroa
A elitização da Igreja e a migração dos pobres para o evangelicalismo.

Na Igreja Católica hoje, se você vai a uma missa, estão lá o patrão e a patroa. Mas onde estão a faxineira, o porteiro do prédio e a cozinheira? Eles estão na Igreja Evangélica.

O retrocesso e o esvaziamento das comunidades eclesiais de base jogam os pobres para o acolhimento das igrejas evangélicas. Há até um axioma que diz: “A Igreja Católica fez a opção pelos pobres, mas os pobres fizeram a opção pela Igreja Evangélica.” A verdade é que as igrejas evangélicas hoje são muito mais acolhedoras aos mais pobres, por conta de um fenômeno que o Papa Francisco sempre denunciou: o clericalismo, sem valorização da comunidade.

Teologia da Libertação no Brasil
O avanço do fundamentalismo e a resistência progressista dentro da Igreja.

O crescimento do fundamentalismo dentro da Igreja Católica é muito forte, e o interesse é pela defesa do capital, de quem abomina a opção pelos pobres, dizendo que a Teologia da Libertação é coisa de comunista. Francisco foi muito criticado, e agora essa gente deve estar aliviada, esperando que o novo Papa represente esse perfil.

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