
A companhia de criptomoedas Tether Investments passou a deter cerca de 70% das ações ordinárias da Adecoagro (AGRO), empresa agrícola com origem argentina, com forte presença no setor sucroalcooleiro do Brasil e com capital aberto na bolsa de Nova York, após a conclusão de uma oferta pública de aquisição (OPA) encerrada na última quinta-feira (24). O movimento provocou uma reavaliação do papel pelos analistas do Morgan Stanley, que reduziram o preço-alvo de US$ 13 para US$ 10 e rebaixaram a recomendação da ação de equal-weight (peso igual) para underweight (abaixo da média).
A oferta da Tether, que pretendia adquirir até 49,6 milhões de ações da empresa ao preço de US$ 12,41 por papel, foi amplamente superada. Aproximadamente 67,1 milhões de ações foram ofertadas pelos acionistas. Diante da forte adesão, a Tether diz que aplicará um fator de rateio de cerca de 73,9% sobre as ações ofertadas para cumprir o limite inicialmente proposto. Com a compra, somada à participação prévia de 20,2%, a Tether passa a controlar aproximadamente 70% do capital da companhia.
O Morgan diz que a decisão de rebaixamento tanto na recomendação quando no preço-alvo foi tomada após a incorporação de um desconto maior na avaliação da empresa, considerando a expectativa de menor liquidez dos papéis no mercado e a falta de clareza sobre os próximos passos do novo controlador.
Segundo o relatório assinado por Julia Rizzo e Julia Habermann, mesmo com a Adecoagro mantendo ativos de qualidade, geração consistente de fluxo de caixa livre (FCF) e balanço financeiro equilibrado, as ações tendem a apresentar desempenho inferior à média do mercado. A ausência de informações sobre a estratégia futura da Tether pesa sobre a confiança dos investidores e amplia a incerteza em torno do papel.
No novo preço-alvo de US$ 10, os papéis estariam sendo negociados com rendimento de fluxo de caixa livre de 7% e com desconto de 50% sobre o valor patrimonial líquido (NAV), patamar acima da média histórica da companhia, compatível com o aumento dos riscos associados ao novo perfil acionário.
Leia também:
- Confira o calendário de resultados do 1º trimestre de 2025 da Bolsa brasileira
- Temporada de balanços do 1T25 ganha destaque: veja ações e setores para ficar de olho
A perspectiva de resultados mais fracos no curto prazo também influenciou a revisão para baixo. Para o primeiro trimestre deste ano, os analistas projetam números inferiores às expectativas de consenso. A divisão de açúcar e etanol (S&E) deve registrar queda no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em relação ao mesmo período do ano passado, resultado da redução no volume de moagem, prejudicado por condições climáticas secas e pela cana mais velha, de menor produtividade. A produção deverá ser mais voltada ao álcool neste trimestre, alinhada à média histórica da empresa.
As operações agrícolas também devem sofrer retração. Os analistas projetam que o Ebitda do segmento de arroz, por exemplo, deve cair, embora com distribuição de resultados mais equilibrada ao longo do ano. Outro fator apontado pelo banco é o efeito negativo nos ativos biológicos, uma vez que a qualidade da cana sofreu deterioração relevante, o que deve pressionar os resultados da companhia.
A perda de liquidez no mercado para os papéis da Adecoagro, combinada à indefinição sobre o que a Tether pretende fazer com o controle da empresa, foram fatores determinantes para a decisão dos analistas de reduzir o otimismo em relação à ação. Segundo o relatório, enquanto não houver maior transparência nas intenções do acionista majoritário, o papel terá dificuldade para atrair novos investidores e sustentar valorização no mercado. Na última segunda-feira (27), as ações caíram quase 5% na Bolsa americana.
The post Tether abocanha 70% da Adecoagro e levanta dúvida: para onde vai a gigante do agro? appeared first on InfoMoney.