
O empresário Mauro Fernandes Júnior, de 41 anos, morreu na última terça-feira (29) durante uma sessão de ozonioterapia em uma clínica estética de Paranaguá (PR). O procedimento, popularizado por figuras bolsonaristas durante a pandemia da Covid-19, é alvo de críticas de órgãos reguladores no Brasil e no exterior por sua falta de comprovação científica.
Segundo o boletim de ocorrência, Mauro sofreu uma parada cardíaca logo após o início do atendimento. A profissional responsável tentou reanimá-lo e acionou o Samu, mas o empresário não resistiu, mesmo depois de 50 minutos de manobras de ressuscitação. Ele já havia relatado sintomas adversos após sessões anteriores, como tonturas.
O que é ozonioterapia
A ozonioterapia é uma técnica que aplica gás ozônio no corpo por vias diversas — como a retal, subcutânea ou intravenosa — e é vendida como um tratamento anti-inflamatório e imunológico. No entanto, não há qualquer comprovação científica sólida que respalde tais alegações.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), a técnica ganhou notoriedade e foi promovida por diversos aliados do ex-presidente. O tratamento foi aplicado em Regina Hang, mãe do empresário bolsonarista Luciano Hang, e no médico Anthony Wong, conhecido por posições negacionistas. Ambos morreram após contraírem a Covid-19. O blogueiro Oswaldo Eustáquio, também bolsonarista, passou por sessões de ozonioterapia na época.
A prática chegou a ser defendida publicamente durante a pandemia por Volnei Morastoni (MDB), prefeito de Itajaí (SC), que ofereceu aplicação retal do gás como alternativa para tratar o coronavírus. O então ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, chegou a se reunir com defensores do tratamento em 2020.
Apesar da popularidade entre bolsonaristas, a ozonioterapia é considerada experimental pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que reforça não haver evidências de eficácia para nenhuma doença — incluindo a Covid-19. A Anvisa também alerta que o uso indiscriminado representa riscos à saúde, e a FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) classifica o ozônio como “gás tóxico sem aplicação médica conhecida”.

“Autorizar a oferta da ozonioterapia sem a certeza de sua eficácia e segurança expõe os pacientes a riscos, como retardo de tratamentos eficazes e avanço de doenças”, diz a Associação Médica Brasileira (AMB), que se manifestou contrária à técnica desde 2017, quando o projeto de lei foi apresentado no Senado.
Apenas em 2023, a ozonioterapia foi autorizada no Brasil como terapia complementar, desde que realizada com equipamento regularizado pela Anvisa e por profissional de saúde habilitado. No entanto, os registros aprovados até hoje restringem o uso ao campo odontológico e estético.
A Academia Nacional de Medicina, a Anvisa e a FDA são unânimes ao apontar que não há evidências científicas consistentes sobre os efeitos benéficos da ozonioterapia. Segundo parecer da Cochrane Library, uma das instituições mais respeitadas do mundo em revisões clínicas, os estudos disponíveis são insuficientes até mesmo para tratamentos específicos, como úlceras em pés diabéticos.
O Conselho Federal de Medicina alerta que a prática deve ser restrita a contextos experimentais, em protocolos aprovados por comitês de ética e com consentimento dos pacientes. Já a Anvisa informa que qualquer uso fora das indicações registradas constitui infração sanitária.